Capitão Sky e o Mundo de Amanhã

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Terça-feira chuvosa. Cabine marcada para a parte da tarde (normalmente são marcadas para de manhã) e ainda em local bem distante da base delfiana. Na esquina do ponto de ônibus, vejo o dito-cujo parado no ponto. Fui correndo tentar alcançá-lo. Em vão. Ainda tentei dar sinal enquanto ele passava por mim, torcendo para o motorista decidir fazer uma boa ação (que ingenuidade a minha), mas ele olhou para mim e passou direto. Só faltou me mostrar a língua. Ao chegar na Warner, estava ensopado e mal-humorado. Embora estivesse bem ansioso para assistir a esse filme, me perguntava se valia a pena ter passado por essa maratona para assistí-lo.

Entrei na sala, me acomodei na cadeira e as luzes se apagaram. Então não existiam mais motoristas de ônibus estressados, flanelinhas que cobram proteção para “olhar” seu carro ou qualquer outro tipo de vilões da vida real. Finalmente encontrei a Terra do Nunca que há tanto procuro na minha imaginação. Ao menos por uma hora e meia, não apenas deixei de envelhecer, mas também voltei a ser criança. Um mundo mais simples, um herói altruísta, vilões vestidos de preto. Não podia ser mais simples. Não podia ser melhor.

A história do filme se passa em 1939, época em que a humanidade passava por uma grande crise, mesmo ano na qual foi iniciada a segunda guerra mundial e alguns anos depois da criação dos primeiros super-heróis (o Super-Homem, por exemplo, foi criado em 1932). Ao mesmo tempo em que era uma fase negra para a humanidade, era também uma época mais romântica com vilões e heróis muito mais definidos do que hoje em dia. Ou seja, é a época ideal para situar um filme do estilo. Mas não se deixe enganar, embora Capitão Sky e o Mundo de Amanhã se aconteça no passado de nosso mundo, muitos de seus elementos não deixam nada a dever aos filmes mais viajantes de ficção científica. Ou você consegue imaginar uma legião de robôs gigante andando em Nova Iorque? Essa cena, aliás, fez meus olhos brilharem como os daquele garoto de 4 anos que se emocionou ao se imaginar voando nas costas do Falkor em História Sem Fim. Cada passo dado pelos robôs gigantes, tremia não só a cidade, mas também o cinema (assista o filme em uma sala que tenha um bom som) e por que não, até mesmo o coração deste que vos escreve. Aliás, existe uma cena em Capitão Sky que lembra muito a cena dos oráculos de História Sem Fim. Homenagem ou plágio? Você decide, mas o fato é que homenagens a outros filmes podem ser encontradas durante toda a duração da fita, das quais uma das mais óbvias (e mais recorrentes) é ao clássico Mágico de Oz.

Um grande destaque no filme é a trilha sonora. Suas músicas pomposas são tão “super-heroísticas” que chegam a competir com as músicas do filme do Super-Homem. São, indiscutivelmente, um tempero ideal para as cenas de ação. O herói (personificado por Jude Law), ao contrário de Peter Parker, por exemplo, não foi criado com o objetivo de nos identificarmos com ele. Pelo contrário, apesar de não ter super poderes, é um daqueles heróis idealizados, perfeitos, corajosos e altruístas, bem na linha de um Super-Homem ou de um Capitão América. Digo mais, Capitão Sky traz tudo o que um bom filme do Capitão América ou dos Vingadores deveria ter.

Em uma época de remakes e de filmes baseados em livros (leia resenha de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban , quadrinhos (leia a resenha de Homem-Aranha 2) e até videogames (e a de Resident Evil 2, há muito tempo não víamos um filme de fantasia criado especificamente para a sétima arte. Quiçá desde Star Wars? Capitão Sky e o Mundo de Amanhã vem suprir esta carência e possibilitar ao público mais jovem que não teve chance de conferir a aventura de Luke Skywalker nos cinemas se maravilhar com este (espero) início de uma nova saga fantástica.

O delfonauta a essa altura pode estar perguntando se Capitão Sky é um filme perfeito. Não, não é. O tão alardeado mundo gerado completamente por computador (Capitão Sky não usou cenários, os atores foram filmados sempre em frente à famosa tela verde/azul) deixa muito a desejar se comparado aos novos Star Wars ou mesmo a filmes da própria Warner, como Senhor dos Anéis. Isso é especialmente verdadeiro nas cenas em que vemos os atores interagindo com objetos gerados por computador. Fica bem claro que o humano não faz parte daquele mundo.

Uma curiosidade do filme é a presença de Angelina Jolie que, embora seja creditada como parte do elenco principal, tem uma aparição pouco maior do que uma ponta, embora protagonize uma das melhores cenas do filme (mais uma na qual meus olhinhos infantis se encheram de lágrimas).

Como deu para perceber, Capitão Sky é emocionante, empolgante e, principalmente, divertidíssimo. Ele me lembra de como o cinema deveria ser (e que quase nunca é), aquela máquina de nos transportar a um outro mundo, de nos dar a possibilidade de viver em um mundo fantástico onde sonhos se tornam realidade. Normalmente seria o tipo de filme que recomendaria apenas para quem admira a cultura nerd (quadrinhos de super-heróis, games, etc), mas nesse caso, eu abriria uma exceção e diria que Capitão Sky é recomendado para todos aqueles que gostam de uma boa diversão. E quem não gosta?

Só não me arrisco a dizer que é o melhor filme do ano, porque em julho último fomos brindados com o também fantástico Homem-Aranha 2, mas digo que a disputa é brava e que, embora a sessão de Capitão Sky tenha acabado há menos de duas horas do momento em que escrevo essa resenha, já estou a fim de vê-lo de novo. Pois é, mais uma adição à minha lista de DVDs a serem comprados para daqui a seis meses. O difícil vai ser esperar até lá. Você, felizmente, não precisa esperar. Capitão Sky estréia hoje no Brasil. Então, agora que você já acabou de ler essa resenha, desligue o computador e vai ver o filme. Depois volta aqui e me diga o que achou. Fico esperando.