Arrow

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Acredito que não fui o único a ficar um pouco receoso quando o CW anunciou, no ano passado, que faria mais uma produção com o tema “super-heróis” para a televisão. Para muita gente, essa série foi encarada mais como uma maneira do canal tentar resgatar a audiência de Smallville, que havia ficado órfã de produções do gênero desde o fim da mesma, em 2011.

Eis que, em outubro do ano passado, surge Arrow, série que adapta a história do playboy (que pode não ser gênio nem filantropo como o Tony Stark, mas que também passou por alguns bons perrengues antes de resolver vestir uma fantasia e salvar pessoas) Oliver Queen, vivido por Stephen Amell. Após um acidente no barco em que viajava com seu pai, Oliver consegue se salvar e chegar a uma ilha. Cinco anos depois, ele é resgatado e, devido aos acontecimentos passados por ele no local e utilizando uma estranha lista dada a ele por seu pai instantes antes da morte, Oliver resolve fazer algo para mudar sua cidade, Starling City (e não Star City, como nos quadrinhos), que está bem diferente do que ele se lembrava.

Uma coisa interessante sobre a narrativa da série, e que pode não ser tão inovadora, é o uso de flashbacks das situações que Oliver enfrentou enquanto estava preso na ilha (e que não vou contar por ter medo de ser repreendido pela patrulha do spoiler). Eles são usados constantemente e dão base para o espectador compreender a formação da nova identidade e algumas das decisões feitas pelo personagem no decorrer da série.

Eu, inclusive, achei essa sub-trama de origem e formação do Arqueiro um tanto similar a Batman Begins, com semelhanças que vão desde o tom “realista” proposto para a série até a primeira aparição do vigilante (que não é chamado de Arqueiro Verde na série, e isso até gera uma piada em um dos episódios).

Outra coisa legal são as várias referências e adaptações positivas que aparecem na trama. Nomes de escritores famosos da DC aparecem como nomes de ruas, e personagens da mitologia do Arqueiro também dão as caras, ora como easter-eggs, ora como participantes dos episódios. A própria irmã de Oliver é um deles. Ela é apelidada por Oliver de Speedy, o nome em inglês do ajudante do herói nos quadrinhos.

Seguindo a tradição de Smallville, alguns heróis e vilões ganharam aparições aqui (como a Caçadora e os vilões Exterminador e Dead Shot), mas todos foram adaptados para o contexto da série, com backgrounds dentro do contexto que nos é apresentado nas HQs e condizente com o tom da narrativa, o que é mais um ponto a favor.

A adaptação dos vilões também foi boa, com caracterizações bem trabalhadas, tirando um pouco do aspecto “absurdo” que alguns teriam se fossem trazidos ao pé da letra para a tela. Dou destaque neste quesito ao personagem Conde Vertigo, que ganhou um quê de “Espantalho versão Nolan” interessante. Isso não impede, entretanto, que alguns vilões, como o principal enfrentado por Oliver, que é revelado no meio da temporada, tenham motivações um tanto quanto clichês demais para seus planos megalomaníacos. Algumas ressalvas que, devido à qualidade da série, passam “raspando”.

As cenas de ação também são legais, e exploram as variadas habilidades que Oliver aprende durante o tempo na ilha. Estas vão desde combate corpo a corpo a pular de prédios fazendo parkour. Tudo isso enquanto é auxiliado por seus parceiros. Um deles é o guarda-costas e ex-soldado John Diggle, que também ajuda no treinamento do Oliver pós-ilha e às vezes atua quase como um mentor do protagonista, ajudando-o a tomar decisões importantes para o desenvolvimento da história. Também temos a “menina do TI”, Felicity Smoak (um absurdo de linda, diga-se de passagem), quase uma substituta da Chloe Sullivan do Superman de Pequenópolis. O interessante sobre este trio é que, mesmo aliados por um objetivo comum, cada um deles tem seus próprios motivos para ajudar Oliver durante essa cruzada.

Agora, vamos falar um pouco sobre o que achei ruim na série. Um desses aspectos diz respeito ao próprio Arqueiro. Podem elevar o quanto quiserem sua suspensão de descrença, mas eu ainda acho bizarro que o cara tente esconder quem ele é de verdade simplesmente usando uma camuflagem verde na cara. É quase tão bizarro quanto o Arqueiro de Smallville, que escondia a identidade com óculos de sol estilosos.

Outro ponto contra, mas nem tanto, são os constantes conflitos amorosos que o CW insiste em colocar nas séries. Aqui, este ponto é representado por Oliver, Dinah “Canário Negro” Lance e o melhor amigo dos dois, Tommy Merlin. Este tipo de coisa costuma me irritar quando assisto às produções deste canal, mas pelo menos aqui eles servem para desenvolver os personagens durante a trama, e não parece gratuito, como se vê em muitos casos.

Enfim, com alguns errinhos e muitos acertos, a primeira temporada acabou com uma ponta enorme para a segunda temporada, que já foi encomendada, e eu fico feliz de poder ver que os super-heróis ainda conseguem respirar e trazer coisas boas para os fãs em outras mídias.