Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

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Sinto que é minha obrigação avisar, logo de cara, que não li nenhum dos livros do Harry Potter. Portanto se você espera análises e comparações profundas entre as obras de J. K. Rowling e Alfonso Cuarón, é melhor procurar em outro lugar. Agora, se você quer saber se o filme é divertido para o público em geral e se mantém o alto nível das duas primeiras partes, veio ao lugar certo. Senta aí, relaxa e se acomode, o assunto hoje, como você já sabe, é o terceiro filme do bruxinho com cara de nerd.

Tudo começa, para variar, na casa dos tios que adotaram o famoso Harry Potter, durante a visita de uma tia pentelha (todo mundo tem uma). Mas peraí. Algo está diferente. Cadê aquele colorido todo? Aquela imagem impecável? Aquele clima alegre e infantil? Já era. Todo o visual criado nos dois primeiros filmes não é encontrado aqui. Está tudo diferente. Mais sério, mais sombrio e, arrisco dizer, menos mágico. Os alunos não usam mais uniformes, passando o filme todo em roupas normais (tirando toda a fantasia de uma escola de magia), o castelo de Hogwarts não mais parece um castelo mágico, mas uma mansão mal-assombrada e até o penteado de Draco Malfoy está diferente, descaracterizando completamente o personagem que conhecemos nos dois primeiros filmes e até causando reações do tipo “é o mesmo ator?”. A imagem nem parece tão nítida quanto é de se esperar de uma super produção Hollywoodiana orçada em 130 milhões de dólares. Parece até filme independente. E o mais engraçado é que em todas as resenhas que eu li, eles apontam essas mudanças como algo positivo. E desde quando a imagem não ser nítida é positivo? Filmes independentes têm imagem ruim por falta de verba, não porque o diretor acha “maneiro” ficar daquele jeito. E mais, por que diabos é positivo um filme de fantasia, direcionado principalmente para crianças ser sombrio? Sinceramente, tudo que eu mais gostava no visual dos dois primeiros filmes (cuja imagem e cenários considerava verdadeiros espetáculos) foram eliminados sem dó nem piedade. Resta apenas a história (a parte principal de qualquer filme) para salvá-lo.

E a história é a pior dos três filmes (preste atenção, estou falando dos filmes, não dos livros, que admito não conhecer): Sirius Black, um temido prisioneiro escapou da prisão de segurança máxima Azkaban, da qual ninguém havia escapado antes e rumores dizem que ele está atrás de Harry Potter. Para encontrá-lo, criaturas sombrias e assustadoras chamadas Dementadores estão por toda parte. Digo apenas isso: o óbvio seria que Sirius quisesse matar Harry e quem assistiu os outros filmes ou leu os livros, sabe que a escritora J. K. Rowling não é de optar pelo caminho óbvio. Ou seja, não optando pelo óbvio, nesse caso ela acaba optando pelo óbvio. Entendeu? Se não entendeu, quando você assistir vai entender, senão me manda um e-mail que eu explico.

Outro caminho óbvio seguido na história é a do novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, chamado Lupin. Quem conhece algo de ocultismo, misticismo, ou mesmo RPG, já deve ter sacado qual é a desse cara, simplesmente pelo nome. Aliás, já está enchendo o saco isso de ter um professor dessa matéria para cada filme/livro. Quando isso vai parar? E o jogo de quadribol? Apesar de acontecer embaixo da chuva, é sem dúvida a mais entediante de todas as partidas que já vimos, pois não vemos o jogo, apenas Harry em sua vassoura voando atrás do pomo.

Falei de tantos defeitos, mas ainda não falei das qualidades e acredite, elas existem. A principal delas atende pelo nome de Bicuço, um hipogrifo criado por computação gráfica que realmente parece estar lado a lado com os personagens. A cena onde Harry voa em suas costas é emocionante e me senti novamente como quando assisti a História Sem Fim, durante o vôo do dragão da sorte Falkor. Belo e emocionante. Só faltou uma música tão bonita como Atreyu Meets Falkor, que embala o vôo na terra de Fantasia no filme de 1984.

Apesar de essa não ser a única qualidade do filme, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban foi permeado por uma decepção atrás da outra. Não sei se o livro é o pior da série, mas o filme, sem dúvida é. A ausência de um vilão (vilão de verdade, não venham me dizer que os dementadores são os vilões, pois são apenas guardas) bem definido é um de seus principais defeitos. Nem Malfoy aparece direito. Nas poucas cenas que aparece, ele e seus amigos estão ainda mais malvados, mais bullies (por falta de uma palavra melhor em português), mais próximo das crianças que vemos nas escolas brasileiras, mas sua participação é bem reduzida, assim como a do divertido professor Snape.

Creio que esse é também, o filme mais mal dirigido (pois é, o DELFOS sempre vai contra todo mundo – aprenda a pensar, amigo Delfonauta, não se deixe manipular pelos poderosos meios de comunicação). Se Daniel Radcliffe (Harry Potter) nunca foi um tremendo ator (embora suas habilidades na área tenham lhe rendido o posto de segundo adolescente mais rico da Inglaterra – atrás apenas do príncipe – como diria o Obelix: “esses ingleses são loucos”), ele agora está ainda mais sem expressão (sim, eu também não achava possível, mas é). Chega ao ponto de irritar em algumas cenas. Gary Oldman, como Sirius, por outro lado, está ótimo (também, o cara interpretou Drácula, que papel ele não conseguiria fazer? ).

Creio que não sou só eu que tenho essa opinião sobre a direção, pois se o diretor anterior (Chris Columbus) durou por dois filmes, Cuarón já foi substituído, em uma ótima decisão da Warner. O quarto filme da série, Harry Potter e o Cálice de Fogo será dirigido pelo britânico Mike Newell e tem data de estréia prevista para novembro de 2005. Vamos torcer para ele seguir os passos de Columbus e não os de Cuarón.