Percy Jackson e o Mar de Monstros

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Amigo delfonauta, eu vou te dizer: eu não queria assistir a este filme. Meu fígado mal tinha acabado de se regenerar após ser ingerido por uma águia na cabine da primeira parte, três anos atrás, e eu sinceramente não tinha fígado para aguentar uma nova cópia de Harry Potter justo agora que acabamos de ficar livres dos filmes semi-anuais do bruxinho nerd. Para você ter uma ideia, a empolgação era tão inexistente que eu sequer consegui acordar os dois diabinhos que me servem de consciência. Sem outras opções, lá vou eu, sem fígado e sem consciência.

Nesta nova aventura do semideus – agora chamados de meio-sangues para ficar ainda mais parecido com a série que tem o half blood princePercy Jackson (Logan Lerman) está meio borocoxó por se sentir um one-quest-wonder enquanto sua rival Clarisse (com dois S mesmo, eu também achei estranho) coleciona missões em maior quantidade do que um personagem desenhado pelo mestre Rob Liefeld coleciona músculos. E justamente no meio de uma crise de emice, seus professores o chamam para avisar que apareceu um outro filho de Poseidon. E não é que o sujeito é um ciclope?

Como se esse perrengue não fosse suficiente, Luke (Jake Abel, o ladrão de raios do filme anterior) volta dos mortos e mata a árvore que protege o acampamento dos semideuses. Agora todos que vivem no abrigo do acampamento vão bater as botas, a não ser que Percy e sua patota encontrem o velocino de ouro, que tem o poder de trazer presuntos de volta à vida. Para piorar ainda mais, o próprio Luke está atrás do velocino para ressuscitar o titã Cronos e assim destruir o Olimpo.

EU FALO HARRY!

Eu sei, amigão, a própria sinopse já mostra um furo enorme. Por que diabos Luke revelaria que está vivo e mataria a árvore ao invés de ir logo atrás do velocino de ouro? Afinal, foi só porque ele matou a árvore que a turma do bem foi atrás do paninho dourado, e agora ele vai ter que chegar lá antes deles ou então sair na porrada caso chegue depois. Não que os vilões de filmes de aventura sejam tradicionalmente inteligentes, mas convenhamos que Luke leva o troféu Homer Simpson por isso.

Mas sabe o que mais? Agora que eu já tive três anos para me acostumar com a ideia que a série Percy Jackson nada mais é do que um Harry Potter e a Mitologia Grega, isso começou a me incomodar menos.

Não é que eles tenham se afastado do que vemos na série do Haroldo Cerâmica. A narrativa, o humor, os personagens e até mesmo a história são basicamente a mesma coisa. Pegue, por exemplo, a cena do táxi logo no início. Aquilo lá poderia ter saído diretamente da mente da J.K. Rowling e ninguém estranharia. Aliás, se não me falha a memória, em um dos sete filmes tem um ônibus que serve quase o mesmo papel que este táxi, mas vamos tentar não analisar muito.

O fato, e eu percebi isso exatamente na supracitada cena do táxi, é que eu estava me divertindo bastante, e até dando umas risadas. É muito legal quando rola alguma ponta inesperada de algum mostro da mitologia e não dá para não se emocionar na cena do hippocampo, assim como não dá para não se emocionar quando o Harry voa em um grifo ou um equivalente a isso.

VOCÊ FALA POTTER!

Inclusive, estava me divertindo tanto que estava pronto para presentear o longa com três dragões e meio, mesmo que dragões como o Alfredo não existam na mitologia grega, o que provavelmente deixaria os personagens meio confusos.

Admito que me surpreendi ao abrir a resenha do filme original e ver a quantidade de atores famosos no elenco que não voltaram. Deve ter rolado um corte de orçamento forte aí, e com isso vários dos deuses e personagens legais que apareceram antes não retornam para a continuação, deixando este filme com a mesma raspa de tacho da mitologia grega usada pelo God of War: Ascension.

E digo isso literalmente, pois aqui também temos desconhecidos como Hecatonchires ou Polifemo. Portanto, se esses nomes significam algo para você, regozije-se. Ao contrário da saga do Kratos, no entanto, aqui nenhum deles é um titã e mesmo o Titã que aparece, Cronos, não é tão grande ou impressionante quanto deveria.

Com isso, você pode deduzir que o filme decai muito no que deveria ser o seu clímax. Muito mesmo. Começa a rolar uma pá de mortes de mentirinha (uma única morte de mentirinha já é demais para qualquer história, um número plural é inaceitável) e o grande vilão, Cronos, tão importante para a mitologia grega, é decepcionante e vencido sem grandes dificuldades, o que já parece ser tradição na adaptação dos mitos gregos.

Diante deste cenário, por causa dos últimos 20 minutos de Percy Jackson e o Mar de Monstros eu me vi obrigado a presenteá-lo com apenas três Alfredos, o que deixou o quarto Alfredo, que seria originalmente cortado ao meio, bem feliz. Ainda assim, é sinceramente muito mais do que eu imaginei que ele levaria, então no final das contas o saldo é positivo.

CURIOSIDADES:

– Você viu o nome do diretor? Mó traição de movimento um cara chamado Thor dirigir um filme relacionado à mitologia grega, véio.

– Olha que curioso. O ator que faz o filho de Hermes tem um nome mitológico na vida real: Jake Abel. Pena que a mitologia do nome do cara é outra.

– Se você gosta de mitologia, não deixe de ler nosso Top 5: Deuses True, uma lista tão séria quanto as letras do Manowar. Afinal, com mitologia e com Heavy Metal não se brinca.

– Duas das três curiosidades acima são copiadas da resenha original. Se você tivesse lido, saberia disso, então não marque mais bobeira e leia a análise delfiana de Percy Jackson e o Ladrão de Raios.