As melhores temporadas de 2013

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De alguns anos para cá, as séries têm ganhado quase tanta atenção quanto o cinema. Grandes atores, roteiristas, diretores e produtores têm visto na TV uma oportunidade de projetos estáveis e duradouros, e assim, temos tido séries com qualidade cada vez maior. Em 2013, isso ficou mais evidente do que nunca. Tivemos grandes estreias com quebra de recordes em praticamente todos os canais, despedidas de séries amadas, e muitas das atuais tiveram suas melhores temporadas até agora. Drama, comédia, Sci-Fi, terror, séries policiais e de suspense, teve para todos os gostos, e vindo tanto dos canais tradicionais como de lugares inéditos, como o Netflix, o History Channel e a Amazon.

Aqui no DELFOS nós nunca tivemos uma lista de melhores séries no especial de fim de ano, mas considerando a quantidade de coisa boa que tivemos este ano, foi o momento certo de começar. Difícil mesmo foi escolher só cinco entre tantas. Como sempre, o critério é puramente pessoal, e ainda assim eu acabei deixando de fora séries que eu sempre acompanho, como Doctor Who, Supernatural, Castle e American Horror Story, outras grandes séries como Sons of Anarchy, The Walking Dead e Arrow, que também tiveram temporadas muito elogiadas, e algumas estreantes promissoras como House of Cards, Vikings, Agents of S.H.I.E.L.D. e Almost Human. Foi realmente um ano farto.

Antes de irmos ao que interessa, uma última consideração: o “ano” da TV não é exato. As séries novas costumam estrear entre setembro e novembro e continuam através do ano seguinte, algumas entram em hiato no fim do ano, as mais curtas terminam nos primeiros meses, etc. Sendo assim, é provável que as temporadas citadas aqui não tenham se contido exclusivamente em 2013. Manteremos o critério de data mais flexível nesta lista. De acordo? Então, em frente.

D&D – Decepção Delfiana: Under The Dome – 1ª Temporada

Stephen King é um nome que gera expectativas. Mesmo as histórias mais modestas dele costumam ser bem construídas e interessantes e rendem adaptações, no mínimo, razoáveis. Under The Dome não escapou desse hype automático, mas não chegou nem perto de satisfazê-lo.

Eu nem cheguei a ler o livro, mas a série é tão tragicamente fraca que me desencorajou totalmente a procurá-lo. Os personagens são rasos, clichezentos e sem graça (com tendência a se comportar irracionalmente), e mesmo com atores sabidamente bons no elenco, não houve nenhuma performance digna de nota. O roteiro também é confuso e mal desenvolvido, cheio de diálogos expositórios e muitas vezes sem sentido nenhum. A parte sobrenatural também não ficou lá muito acreditável, e aí simplesmente não sobra nada de cativante. Chegar ao fim da temporada acaba sendo um sacrifício, e se você aguenta até lá, recebe em troca uma grande pilha de nada.

Um dia eu vou acabar lendo o livro, e espero que ele seja ótimo e que ter visto essa série me faça ter uma grande e positiva surpresa sobre ele. Assim, pelo menos vai ter servido para alguma coisa.

Surpresa Delfiana: Sleepy Hollow – 1ª Temporada / Elementary – 2ª Temporada

Por outro lado, duas séries pelas quais eu não dava nada acabaram se mostrando bem legais. A primeira foi Sleepy Hollow, da Fox. Readaptações contemporâneas de clássicos da literatura vêm em baldes ultimamente, e esta não parecia nada excepcional. Isso, claro, até que anunciaram que não estavam transformando Ichabod Crane e o Cavaleiro Sem Cabeça em sujeitos atuais, mas sim trazendo-os para os dias de hoje por viagem no tempo. Ao estrear, a série trouxe ainda mais bizarrices: uma esposa bruxa, umas possessões demoníacas, telecinese, etc.

Mas, surpreendentemente, funciona. Ao invés de se levar a sério, a série assume orgulhosamente sua premissa ridícula e tenta o máximo possível nos entreter com ela. Tem humor, ação, algumas referências históricas, um lado sobrenatural… está longe de ser uma obra-prima, mas é bastante divertido. Os protagonistas, interpretados por Tom Mison e Nicole Beharie, não demoram a ganhar sua simpatia. E ter um elenco diversificado em gênero e etnia também é sempre legal, especialmente quando evita estereótipos e desenvolve bem os personagens.

Outro caso parecido foi Elementary, o Sherlock Holmes do CBS. Muita gente torceu o nariz para a ambientação contemporânea e para a mudança de gênero do caro Watson, provavelmente porque todos já estamos bem satisfeitos com Sherlock, da BBC. Mas o que julgavam ser a grande fraqueza dessa outra releitura – essas mudanças na obra original – acabou sendo a parte mais interessante.

A sacada que tiveram com o arco da Irene foi uma boa surpresa, e dar mais atenção ao vício do Sherlock também funcionou, mas o melhor mesmo é a própria Dra. Watson. Lucy Liu é sempre excelente, ainda mais numa personagem escrita com tanta atenção e carinho. Ela é uma das melhores personagens femininas da TV atualmente, e eu gostei de terem mantido a relação dela com o Sherlock como uma parceria, sem nenhuma sugestão de romance. Isso não compromete a química dela com o também competente Jonny Lee Miller. E incluíram até uma Sra. Hudson transsexual, mas tomaram o cuidado de não explorar isso como o único traço da personagem. Essas coisas são raras de se ver e é bom para variar. Além de ter se revelado uma adaptação criativa e uma série policial muito divertida, ainda surpreendeu por dar esses ótimos exemplos. Espero que a próxima temporada melhore ainda mais.

E agora, vamos à lista propriamente dita.

5 – ORPHAN BLACK – 1ª TEMPORADA

Com a quantidade de séries que eu já acompanho, eu só tive tempo de ver algumas das novas, e tive de escolhê-las a dedo. Algumas escolhas foram mais óbvias e deram em arrependimento, como a supracitada Under The Dome. Já Orphan Black foi um tiro no escuro que recompensou muito bem.

Trata-se de uma nova série da BBC America que acompanha Sarah, uma jovem que está tentando escapar de uma vida problemática e recomeçar. De repente, ela presencia o suicídio de uma garota chamada Beth, que por acaso é idêntica a ela. Sarah então ganha a sua oportunidade e resolve assumir a identidade de sua “outra eu”. O problema é que a vida de Beth não é tão simples como parecia, e ela não é a única doppelganger que Sarah tem por aí, já que ela e Beth são nada menos que clones.

A primeira coisa que impressiona aqui é a atuação da ilustre desconhecida Tatiana Maslany. O elenco em geral é bastante razoável, e alguns dos coadjuvantes realmente conseguiram minha simpatia, mas é ela quem carrega os episódios nas costas. Nós conhecemos tantas clones tão distintas, e ela faz cada uma delas parecer real, com suas próprias personalidades e maneirismos, e cada uma seguindo seu caminho.

O roteiro também é muito competente. Consegue balancear o sci-fi com o humor, a discussão da questão ética da clonagem e o mistério da trama, e de forma bem econômica. Tudo acontece muito rápido, e todos os elementos introduzidos são importantes depois. Nada parece gratuito e tudo se amarra satisfatoriamente. Com certeza eu vou continuar acompanhando ano que vem. Se você ainda não viu, são apenas dez episódios e vale muito conferir.

4 – GAME OF THRONES – 3ª TEMPORADA

O Tormenta de Espadas é o melhor livro d’As Crônicas de Gelo e Fogo. Eu gosto tanto dele que, apesar de ter me empolgado muito para a terceira temporada de Game of Thrones, eu procurei pensar nela como uma experiencia diferente, porque nunca acreditei que a adaptação conseguiria se aproximar do livro.

Mas este ano também foi o melhor na série. As tramas continuam densas, os personagens vão ficando cada vez mais interessantes e complexos conforme vão sendo desenvolvidos, as cenas de ação e a ambientação continuam lindas, os atores se mantêm super competentes e os plot twists estão cada vez mais cruéis e de tirar o fôlego. Só de lembrar de Rains of Castamere eu ainda sinto um arrepio. Um episódio que gera tal comoção, até em quem já sabia o que ia acontecer, com certeza fica marcado. Não só na história deste ano, mas na própria história da TV. Eles vão ter de se desdobrar nos próximos anos se estiverem planejando superar 2013.

3 – ORANGE IS THE NEW BLACK – 1ª TEMPORADA

Como já citado lá em cima, este ano nós tivemos a estreia da programação original do Netflix. E começaram em alto nível, contando com gente como David Fincher, Kevin Spacey, Eli Roth e todo o pessoal de Arrested Development retornando. Mas a que mais impressionou foi o novo projeto de Jenji Kohan, criador de Weeds. Orange Is The New Black acompanha Piper Chapman, uma moça de classe média do Brooklin que é sentenciada a um ano na prisão por servir de “mula” num negócio de drogas.

No início a impressão geral é a de que seria uma espécie de Oz feminino, mas é muito, muito melhor do que isso. Apesar de acompanharmos de perto a protagonista, ela chega até a ficar ofuscada diante de tantas personagens tão imensamente diferentes e multifacetadas e com tantas histórias interessantes para contar. O roteiro consegue ser engraçado e ao mesmo tempo comovente, e auxiliada pelas ótimas atuações, faz com que toda a população da prisão pareça genuinamente humana. A princípio você acha que consegue distinguir mocinhos e bandidos, mas conforme a série avança, você percebe que a moral aqui é cheia de tons de cinza, e que todo mundo fez coisas boas e coisas ruins. Você acaba não amando nem odiando ninguém, só fica cativado pelas interações entre todos, e pela diversidade de temas que a série consegue abordar de forma tão empática.

O season finale foi um encerramento muito forte, e já deixou todo mundo querendo mais. Realmente uma das melhores séries que estrearam, e não deixaria nada a desejar se fosse transmitida na TV, mas que não sendo, fica ainda mais livre para ousar. Estando no Netflix, o único grande problema é conseguir resistir e não ver tudo de uma vez só.

2 – BREAKING BAD – 5ª TEMPORADA

A despedida de uma das mais brilhantes e amadas séries da história da TV não poderia deixar de ter um lugar nesta lista. Nem há muito o que falar: só que estamos todos órfãos e que vai demorar para outra série dramática conseguir fazer algo assim. Esta última temporada pegou tudo o que vinha sendo construído desde o início e levou às últimas consequências, todo mundo colhendo o que plantou. E sem nenhuma piedade, nada foi suavizado. Não foi um final exatamente feliz, mas foi como tinha de ser e nos deu todas as conclusões que precisávamos.

O que ficou novamente confirmado foi a excelência das atuações de Bryan Cranston, Aaron Paul e companhia, e também coragem e a inteligência de Vince Gilligan, o criador. Enquanto tantas séries boas (como Dexter) são exploradas e esticadas até que acabam por perder tudo o que tinham de legal, Breaking Bad terminou com timing perfeito e vai com certeza ficar na memória de todo mundo que acompanhou. Mas isso já era esperado. A única que foi ainda mais impressionante do que eu pensava foi o nosso primeiro lugar.

1 – HANNIBAL – 1ª TEMPORADA

Essa já parecia boa, mas eu não esperava que fosse tão excelente. Bryan Fuller mandou um belo dedo do meio para quem achava que era melhor deixar o Dr. Lecter em paz, e com apenas uma temporada, a sua nova adaptação da obra de Thomas Harris já ganhou um lugar bem ao lado do clássico O Silêncio dos Inocentes.

Valeu totalmente a pena Mads Mikkelsen ter desistido do filme do Thor para ficar aqui. Ele está nada menos que excelente como Hannibal, rapidamente me fazendo esquecer das comparações com Sir Anthony Hopkins. Ele é uma verdadeira entidade na série: altivo, elegante, calmo, mas sempre implicitamente ameaçador. Na maior parte do tempo, nós não o vemos cometendo seus atos. Ficamos só com suas belas e meticulosamente preparadas refeições (bate até uma culpa de achar os pratos tão bonitos) e o resto era para a imaginação. Assim, quando ele realmente aparece fazendo o serviço sujo, é ainda mais impactante.

Sem falar no Will Graham de Hugh Dancy! Todo o elenco de apoio é sólido e competente (com destaque para Lawrence Fishburne), mas ele é o único que consegue ofuscar o próprio Mikkelsen. Seu personagem começa a temporada misturando um grande intelecto com uma fragilidade e vulnerabilidade que faz a gente se afeiçoar. Mas conforme sua sanidade vai fraquejando, a performance vai ficando cada vez mais poderosa. Hannibal enlouqueceu com toda a graça, mas o caso do Will é muito mais trágico. Ele está sempre doentio, em pânico, coberto de suor, perturbado, e Dancy tira tudo isso de letra.

O roteiro também é de alto nível, e apesar das cenas serem lentas, a trama não se arrasta e elementos que pareciam episódicos acabam retornando, nem que seja em alguma das terríveis alucinações do Will. E para deixar tudo ainda mais convincente, ainda tem a parte visual, com certeza a mais bonita e estilosa na TV atualmente. Toda a cinematografia, as cores, as luzes e sombras, os closes de câmera, até o posicionamento dos personagens nas cenas, tudo colabora para criar uma atmosfera claustrofóbica e perturbadora. O suspense é constante, terror psicológico da melhor qualidade. A série me deixou realmente desconfortável ao assistir, mas ao mesmo tempo eu nem piscava. Com certeza foi a temporada mais cativante que eu vi este ano.

Estas foram as minhas eleitas. Você mudaria alguma posição? Substituiria alguma? Reformularia totalmente? Faça a sua versão nos comentários.

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