Cinco CDs de metal muito subestimados

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Originalmente, eu iria fazer para este Especial do Rock um texto sobre os cinco CDs mais superestimados do metal e o Allan iria fazer sobre cinco subestimados do alternativo. Como um evil monkey impediu que o Allan fechasse o texto sobre subestimados, pensei melhor e resolvi escrever sobre cinco CDs subestimados do metal. Decidi por isso porque acho mais interessante dividir discos que poucas pessoas conhecem ou valorizam do que ficar dissertando sobre discos famosos que não acho tão bons assim.

O critério para escolher os CDs foi completamente pessoal, embora, claro, os CDs tenham que ser ou pouco conhecidos ou pouco valorizados. Por isso mesmo, duas bandas grandes acabaram com discos listados aqui.

Uma coisa que o delfonauta vai perceber pelos discos citados é que eu gosto mesmo é de experimentação e coisas originais. Lógico, não dispenso de forma alguma um heavy metal bem feito, mas eu acho que a fórmula do metal tradicional é super valorizada. Um estilo que tem origens tão ricas não deveria ficar apenas no mesmo riff, como não ficou, embora muita gente prefira isso a tentar coisas novas. Espero que o delfonauta goste das músicas que vou indicar.

Devo dizer que deixei de lado dois discos muito bons: History of a Time to Come, do Sabbat e A Light in the Dark, do Metal Church. Acabei deixando de fora porque o primeiro eu já resenhei e o segundo descobri que não é tão pouco conhecido. Mas se você gosta de um metal positivo e “pra frente”, o do Metal Church é super indicado. Bem, vamos lá?

5 – WORLD OF GLASS, DO TRISTANIA

Ano: 2001

O metal gótico, infelizmente, deve ser o mais menosprezado dos subestilos do gênero aqui no Brasil. Como eu não conheço o Nightwish antigo, não sei se o Tristania soa parecido com a banda mais famosa, mas de qualquer forma, World of Glass é um excelente CD.

Vindo da Noruega e formado em 1997, o Tristania é uma daquelas bandas tão esquisitas que ou você ama ou odeia. Word of Glass, seu terceiro CD, ganha em termos de composição e produção dos dois primeiros. E no próximo parágrafo eu vou tentar explicar o som deles.

Gótico é muito variado, mas no geral as músicas são depressivas ou dark, sem tantos efeitos testosterona quanto no metal tradicional. Neste CD, as músicas me passam uma sensação de frio e desespero muito próximo de outro gênero que eu gosto bastante, o black metal.

No entanto, os riffs têm pouco a ver com o estilo trüe. A principal semelhança são os vocais guturais. E, claro, temos os excelentes vocais femininos líricos da Vibeke. A música que eu recomendo para conhecer é a Wormwood:

Curiosidade: o Marduk lançou em 2009 um CD com o nome de Wormwood, com a mesma temática desta letra. Wormwood é uma estrela que poluirá uma boa parte das águas do mundo. Se não me engano, ela traduzida para russo fica Chernobyl, o que é tenso. De qualquer forma, a letra do Tristania coloca em dúvida a certeza de que fomos salvos por Jesus Cristo quando ele morreu na cruz.

4 – ENDEVEOUR THROUGH THORNS, DO ETERNAL MALEDICTION

Ano: 2006

Nesta quinta posição, eu fiquei em dúvida entre três CDs de bandas brasileiras (além desse, o Mental Slavery do MX e o Laws of Scourge do Sarcófago). Não porque eu acho que precisava colocar uma banda brasileira em respeito à carência tupiniquim, mas porque esses CDs são fantásticos e precisam ser mais divulgados. Acabei escolhendo o Eternal Malediction por ser, acho, a banda mais desconhecida das três.

Este é um CD de metal extremo tão criativo que me conquistou muito rapidamente. O Eternal Malediction foi formado em Osasco e faz uma mescla muito boa de death, thrash e black metal. Os vocais também passam pelos três estilos. Isso é algo que eu gosto bastante e me lembrou muito os vocais do Chuck Schuldiner no primeiro do Death, Scream Bloody Gore. Não só isso, o vocalista Heverton Souza consegue ir para alguns vocais mais rasgados e até limpos.

As músicas são bem variadas e passam sensações diferentes, o que eu acho essencial em qualquer CD, aliás. Outra coisa que eu gosto muito é que as músicas em si variam muito e não são repetitivas. Burning Inside Purity, por exemplo, tem uma parte acústica linda no meio, embora ela seja uma música thrash bastante pesada e original.

A música que vou indicar aqui é a mais diferente de todas, mas ela talvez seja a mais grudenta também. Caso você não goste, confira Burning Inside the Purity e Flames of Humanity no MySpace da banda.

Ashes:

Curiosidade: quem assina a produção e é um dos guitarristas do CD é o Augusto Lopes, que também tocou no Hellbound do Torture Squad.

3 – THINK THIS, DO TOXIK

Ano: 1989

O mercado estadunidense é ultra desenvolvido em cultura e ciência. Alguns dizem que esse é o principal poder de dominação norte-americano e não sua superioridade econômica ou militar. É nos Estados Unidos, por exemplo, que mais temos bandas de heavy metal.

De qualquer forma, vejo que o mercado dos States sabe fazer dinheiro e “vender” bandas como ninguém, porém, quando temos alguma real manifestação artística (com pouca influência comercial), eles saem em vantagem em termos de produção dos discos e divulgação das bandas. Afinal, eles têm muitos recursos.

Gosto de encaixar o Toxik na segunda opção. Este CD, o segundo e último da banda, lançado em 1989, tem produção excelente, embora seja muito pouco conhecido. Think This é um dos álbuns mais impressionantes que já ouvi, porque ele faz uma coisa que quase ninguém faz (isso há 20 anos): misturar thrash metal com vocais de metal melódico. O vocalista Charles Sabin lembra mais o Andre Matos ou o ZP Theart, do Dragonforce.

Embora o som seja na maior parte do tempo calcado no thrash, toda hora há uma parte mais tradicional, algo que lembra power metal ou até metal progressivo. Essa é uma banda com elementos progressivos e bastante virtuosa. Solos absurdos, passagens acústicas bem colocadas, um vocalista com calça apertada que alcança umas notas bem altas e uns riffs que vão do Slayer ao Megadeth e Pantera fazem deste o grande merecedor da terceira posição.

A melhor música do CD, e uma das melhores do metal de todos os tempos, é Time After Time. Confira e bata a cabeça até ela cair:

Curiosidade: Think This é um álbum quase conceitual e trata da manipulação da mídia estadunidense e do sentimento falso “americano”. É interessante ver uma crítica interna de um cidadão estadunidense orgulhoso, por isso recomendo a leitura das letras. Aqui vão dois trechos desta música que você acabou de ouvir (eu espero!):

After all I’ve seen so many die – die!
I’ve seen our president telling lie after lie
And there’s third world news everyday
A hunger for freedom that’s needed today

We could turn black and white to gray
But the bigotry and ignorance just won’t go away
Save the children on a distant shore
When they’re starving and homeless dying at our door

2 – THE GRAVEYARD, DO KING DIAMOND

Ano: 1996

Até aqui, tivemos dois CDs de bandas bem desconhecidas pelo público no geral e uma que talvez até seja conhecida, mas não é nem um pouco valorizada (até desprezada, eu diria). Agora vamos entrar no rol de bandas bem mais conhecidas, mas com discos que simplesmente são deixados de lado pela mídia em geral e por muitos fãs de metal.

O King Diamond é, na minha opinião, uma das bandas mais consistentes de metal (pelo menos das que eu conheço). Sempre seus CDs trouxeram novidades e histórias interessantes, com exceção do Abigail II: The Revenge. Vamos a um parágrafo para relembrar um pouco do rei dos falsetes.

O vocalista Kim Bendix Petersen adotou o pseudônimo de King Diamond em uma de suas primeiras bandas, o Mercyful Fate, banda clássica (e excelente) dos anos 80. Por diferenças musicais, ele se separou do grupo e levou dois membros (o baixista Hal Patino e o guitarrista Michael Denner) e formou o King Diamond, com seu nome, para atrair os fãs do Mercyful Fate. Em seu segundo disco, Abigail, ele começou a fazer histórias de terror inteiras, que deixariam Stephen King orgulhoso. E deu muito certo.

Sendo um grande fã de King Diamond, foi difícil escolher um CD para colocar aqui. Acabei escolhendo o The Graveyard porque já li em vários lugares que este é o pior trabalho dele e está para o King Diamond assim como o Virtual XI está para o Iron Maiden. Cruzes, não! Bem longe disso, aliás. The Graveyard é tão bom quanto qualquer um dos melhores CDs da banda.

Eu até entendo por que os fãs torceram o nariz: The Graveyard é, de longe, o CD mais interpretativo da banda, o mais “teatral”. O vocalista sempre tentou combinar a letra com o que ele canta e aqui uma coisa não funciona sem a outra. Se você não ler as letras enquanto ouve o CD, simplesmente não vai ser a mesma coisa.

A história do disco é assim: um lunático, acusado injustamente de ter estuprado a filha do prefeito (quando na verdade foi o próprio pai dela que cometeu o crime), consegue fugir do manicômio e planeja uma vingança muito cruel para o pai. E ele pega pesado.

O que ajuda este a ser o CD mais interpretativo é que as músicas são cantadas em primeira pessoa (pelo lunático) durante todo o disco. Nas primeiras músicas, o sujeito está apenas planejando a vingança e fazendo algumas coisas bem cruéis e sádicas. Em uma das últimas músicas, a Up From The Grave, ele já está doidão e os próprios vocais começam a ficar bem paranoicos.

Para conhecer o CD, eu acho melhor você se sentar, ler as letras e ouvir com atenção, mas confira a primeira música do disco (excluindo a introdução), Black Hill Sanitarium, sobre o manicômio em que o louco está:

Caso você tenha estranhado os vocais, eu recomendo que você procure pelo álbum Abigail, o mais famoso e acessível do vocalista (para muitos também, o melhor da banda).

Confira também o excelente especial feito por Miguel Pacífico sobre a carreira do King Diamond.

1 – COMA OF SOULS, DO KREATOR

Ano: 1990

O Kreator é uma banda bem grande. Provavelmente a maior das três grandes do thrash alemão: Sodom, Destruction e, claro, o próprio Kreator. Então o que diabos este CD está fazendo aqui? Ora, é simples. Coma of Souls não recebe tanta atenção dos fãs, da mídia e ele é, para mim, simplesmente o melhor CD de thrash metal de todos os tempos. É, isso mesmo que você acabou de ler.

Ok, outros que eu gosto bastante como o Think This que está no terceiro lugar e o Alice in Hell podem ser encaixados dentro do thrash metal, mas o Coma of Souls se encaixa melhor na proposta do gênero e ainda consegue unir melodia e atmosfera como poucos.

Neste momento, o delfonauta deve estar pensando em coisas como Ride the Lightning, Master of Puppets, Peace Sells… But Who is Buying, Rust in Piece, Reign in Blood, Darkness Descends, Agent Orange, entre tantos, tantos outros. Se o delfonauta conhece o Coma of Souls bem e gosta mais de um dos outros discos, sem problemas, é questão de gosto pessoal mesmo. Agora se não conhece e gosta de thrash… eu recomendo que você ouça, porque pode mudar de ideia.

Talvez o problema seja o vocalista, Mille Petrozza, que é um Chuck Schuldiner época Scream Bloody Gore do thrash metal. Ele tem um vocal muito agressivo e incomum, que não é todo mundo que gosta. Mas até aí, é mais ou menos este tipo de vocal que você quer de uma banda de thrash, certo? Como o James Hetfield no Ride the Lightning.

Não adianta eu falar tanto e deixar as expectativas lá no alto e não mostrar uma música. Ok, então lá vai uma das minhas favoritas do CD, a Hidden Dictator:

Ah, sim, esqueci de dizer que os solos deste CD são os melhores que já ouvi em um álbum de thrash, também. E aqui vai mais uma curiosidade: o próprio Kreator reconhece o álbum incrível que é Coma of Souls. Seus últimos quatro CDs têm capas praticamente iguais ao do clássico de 1990. É a constante cabeça flutuante do mascote da banda.

Com isso terminamos este texto para o Especial do Dia do Rock. Espero que o delfonauta tenha gostado de pelo menos uma das músicas mostradas aqui. E depois faça sua própria lista nos comentários nos indicando CDs de metal que deveriam ser mais valorizados. Com certeza há muitos – eu mesmo deixei de fora alguns outros.

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