As Aventuras de Agamenon: O Repórter

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Fiquei um tempo olhando para a tela do computador sem saber como começar este texto, mas para sair deste primeiro parágrafo difícil, vou logo dizendo uma coisa: As Aventuras de Agamenon: O Repórter é um filme interessante de se analisar. Ele é muito diferente, muito esquisito; por isso mesmo, foi difícil formar uma opinião a respeito desta nova empreitada de dois dos humoristas do Casseta & Planeta.

A história, se é que podemos considerar essa bagunça uma história, é assim: Agamenon (Marcelo Adnet e Hubert Aranha) é um jornalista mau caráter que viveu, basicamente, o século 20 inteiro e, assim, conheceu e entrevistou várias personalidades importantes, como Freud, Einstein, entre outros. Neste percurso, ele se apaixonou por Isaura, que é tão ruim quanto ele e o trai em todas as oportunidades. E é só isso mesmo.

Esqueça o roteiro: As Aventuras de Agamenon: O Repórter é mais fácil de ser visto como um conjunto de diversos esquetes, curtas ou piadas sem noção amarradas de uma maneira Frankenstein por uma narração de Fernanda Montenegro que faz menos sentido ainda.

O filme é uma mistureba de estilos. Parte dele é composto de material histórico, filmagens de figuras políticas e famosos do século passado, como Hitler ou o presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos. Algumas vezes, Agamenon aparece inserido de forma bem tosca nessas imagens e interage com os “personagens”. Em uma cena com Hitler, por exemplo, ele faz um high five com o ditador quando este último levanta o braço em seu tradicional cumprimento nazista. Nessa e em algumas outras cenas, a edição ficou legal e isso me fez rir do humor bobo e nonsense.

Sim, delfonauta, nonsense: As Aventuras de Agamenon: O Repórter tem algumas piadas deste gênero de humor do qual tanto gostamos. O começo, quando Pedro Bial tenta entrevistar o protagonista, mostra bem isso. O lado ruim é que eles não apostam muito neste tipo de humor e, durante a maior parte do tempo, precisamos ficar vendo repetidas piadas sem graça relacionadas a sexo, muito semelhantes a este outro filme aqui.

As Aventuras de Agamenon: O Repórter tem um problema seríssimo, que simplesmente acaba com a obra: ele não tem público-alvo. E isso não sou eu quem falo, mas o próprio diretor Victor Lopes, que fez essa afirmação durante a coletiva de imprensa. Não sei se ele não escolheu bem as palavras, mas a impressão é que Agamenon atira para todos os lados. As piadas são em geral bastante grosseiras, mas há um pouco de nonsense aqui ou ali e muita coisa politicamente incorreta. Outras vezes, o filme até exige conhecimento prévio do espectador para que alguma piada seja entendida.

Para deixar isso um pouco mais claro, aqui vai um exemplo: o primeiro ministro britânico da época da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, aparece em uma cena lá pela metade do longa. A narração diz que a fumaça do seu charuto fez com que Hitler não conseguisse invadir a Inglaterra. Parece um negócio meio bobo, não? Acontece que a Inglaterra só sobreviveu ao violento bombardeio da Alemanha devido ao nevoeiro infinito da grande ilha. A vantagem dos ingleses sobre o Reich era o uso do radar, que permitia saber como agir contra os caças nazistas. Sabendo disso, apesar de continuar boba, a piada melhora. Alguns outros momentos do filme vão exigir esse tipo de repertório do espectador, como na morte de Getúlio Vargas, por exemplo.

Acredito que o próprio Agamenon tenha sido um problema. O personagem é muito conhecido no Rio de Janeiro, pois “ele” escreve uma coluna no jornal O Globo há mais de 20 anos, mas sendo paulistano, nunca havia lido sequer um texto dele. Fico imaginando se eu não perdi várias piadas por causa disso.

Para um filme que está apostando em uma estreia com 300 a 400 cópias (para comparação, um blockbuster como Homem-Aranha tem 500 cópias) e que quer competir seriamente com os lançamentos internacionais, é estranho não poder entender qual é a real intenção do longa. Parece até que ele tenta atingir classes sociais diferentes de vez em quando.

Outro agravante é que as atuações são muito forçadas, exageradas mesmo, algo bem parecido com o próprio Casseta & Planeta. Aliás, parece que este filme mostra um pouco do que o novo programa de TV vai trazer.

Acho legal que As Aventuras de Agamenon: O Repórter seja sem noção e até politicamente incorreto, mas tirando algumas piadas específicas, não consigo lembrar de mais absolutamente nada do filme. Agora que só consigo pensar nos momentos engraçados, estou com uma impressão melhor, mas lembro que durante a maior parte do tempo de tela eu estava entediado e pensando em quando o longa iria acabar. É até triste constatar que a coletiva foi um milhão de vezes mais engraçada do que o filme.

As Aventuras de Agamenon: O Repórter é mais irregular do que ruim, e acho difícil que alguém goste dele inteiro. É melhor ficar longe dele, delfonauta, mas se você ficou curioso para assistir, espere para ver na TV.

Se você chegou atrasado, não deixe de conferir as outras matérias sobre os bastidores do filme Agamenon:

As patetadas de um repórter na Vila Olímpia: Daniel relata como foi ir pela primeira vez ao cinema Kinoplex. Ele não chegou lá.

A coletiva de imprensa do filme As Aventuras de Agamenon: O Repórter: Prepare-se para rir das palhaçadas do pessoal do Casseta.

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Nota
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Daniel Villela
Daniel adora heavy metal, rock progressivo e Frank Zappa, jogos de FPS, aventura, plataforma e RPG, é fanático pelo MCU, curte séries de TV como Mad Men, Breaking Bad, Demolidor, 24 Horas, Friends e The IT Crowd. No lado profissional, é formado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação Empresarial e trabalha na área de Marketing.
as-aventuras-de-agamenon-o-reporterPaís: Brasil<br> Ano: 2011<br> Elenco: Marcelo Adnet, Hubert Aranha, Marcelo Madureira, Luana Piovani, Pedro Bial e Fernanda Montenegro (narração).<br> Diretor: Victor Lopes.<br> Distribuidor: Downtown Filmes, Paris Filmes e RioFilme<br>