Tô Ryca

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Por mais que a gente saiba que nunca devemos julgar um filme sem antes assisti-lo, sempre há aquelas exceções que falam diretamente aos nossos pré-conceitos. Afinal, o que dizer de um longa cujo título é Tô Ryca (escrito errado assim mesmo)? Pois é, assim que bati o olho nesse nome, já imaginei uma bomba, e depois de assisti-lo, a coisa não ficou muito longe da verdade.

Comédia nacional popularesca, estrelada por uma galera do Zorra Total, bem distante do tipo de humor que apreciamos aqui no DELFOS. Ainda assim, se tivesse alguma graça, ainda passava. Mas, como a maioria dos filmes desse tipo, não tem e se escora mais no histrionismo do que no humor propriamente dito.

Selminha (Samantha Schmütz) é uma frentista de posto de gasolina suburbana insatisfeita com os rumos de sua vida e sua eterna falta de grana. Um dia, ela é procurada por advogados. Acontece que ela tem um tio rico e moribundo que desconhecia e ele pretende deixar sua herança para ela, mas com uma pegadinha.

Ela precisa torrar 30 milhões de temers em um mês. Até aí você deve pensar, “isso é fácil, é só me indicar a loja de ruivas com bacon mais próxima” (o quê? Isso não existe? Aaah). Pois é, a coisa é mais difícil do que aparenta num primeiro momento, pois ela não pode usar a bufunfa para acumular bens, dentre outras regrinhas que visam dificultar o objetivo e que têm de ser cumpridas sob o risco de perder a fortuna. Se ao final do prazo, ela conseguir cumprir a meta, ganha 300 milhões de pacotes fiduciários.

A premissa é boa e certamente renderia uma boa comédia, mas como já estabeleci, não é o que acontece aqui. O filme nunca é engraçado, arrancando apenas em dois ou três momentos uma risadinha mais tímida e só. Os personagens são todos clichês e não é difícil adivinhar desde os primeiros minutos como tudo vai se desenrolar e como a coisa acabará.

O roteiro é bem esquemático e conta com um monte de chavões bem ruins, incluindo aquela típica briga entre a protagonista e sua melhor amiga, por conta da grana subir à cabeça e mudar a personalidade dela. Acho que você sabe como essa situação acaba, com uma típica lição de moral.

Além disso, o filme perde o rumo mais para o final, quando Selminha decide que um bom meio de se gastar o dinheiro mais rápido é entrando para a política. Daí o filme até tenta criticar os nossos políticos (com Marcelo Adnet interpretando um candidato picareta ao governo do RJ), ainda que de maneira rasa, e fugindo da trama principal.

Ironicamente, é justo quando o filme mais se aproxima do humor mais fuleiro que ele quase funciona, rendendo os momentos mais engraçadinhos da coisa. Ao menos, se de fato ele abraçasse com tudo a chinelagem, poderia ser mais funcional. Não seria bom, mas ao menos chegaria mais perto de ser de fato uma comédia.

Tô Ryca (sic) é mais uma comédia estilo humor rasteiro da Rede Globo. A se julgar pela quantidade delas que estreia em nossos cinemas todo mês, há de se imaginar que há público para isso, mas eu definitivamente não faço parte dele. E acho que nosso estimado delfonauta também não se inclui nisso. Neste caso, melhor passar longe.

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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
to-rycaPaís: Brasil<br> Ano: 2016<br> Gênero: Comédia<br> Roteiro: Vitor Brandt e Fil Braz<br> Elenco: Samantha Schmütz, Katiuscia Canoro, Anderson di Rizzi, Mauro Mendonça, Marília Pera, Fabiana Karla, Marcelo Adnet e Marcus Majella.<br> Diretor: Pedro Antônio<br> Distribuidor: Downtown e Paris Filmes<br>