Desde que eu joguei toda a série Doom para escrever este artigo, ando numa tremenda pira com retroFPS. Comprei vários games antigos no PC, e alguns disponíveis para console (tanto velhos quanto recentes). Tinha algo muito especial nesses primeiros jogos de tiro em primeira pessoa, algo que acabou sumindo quando o estilo foi modernizado. Assim, não deve te surpreender saber que eu estava ansioso para escrever esta análise Warhammer 40000 Boltgun.

WARHAMMER 40000 X TOM CLANCY

Provavelmente a série Warhammer 40000 compete com Tom Clancy na quantidade de jogos independentes que levam o nome da marca. Inclusive, conheço muita gente que, ao ouvir os dois, pensam em videogames, e não no que elas eram no início. Mais ou menos como ninguém pensa em baralho quando ouve a palavra Nintendo.

Normalmente os games de Warhammer não me chamam atenção. Se não me falha a memória, cobri apenas um nestes quase 20 anos de DELFOS. Isso porque estes games não costumam abordar gêneros que me apetecem. Até agora, claro.

ANÁLISE WARHAMMER 40000 BOLTGUN

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos
Hum… sangue pixelado…

Warhammer 40000 Boltgun é o que na minha infância a gente chamava de Doom Clone. Em outras palavras, é um FPS pixelado, com fases labirínticas que normalmente envolvem procurar por três chaves. Mais importante, no entanto, é que há muita ação, e o tiroteio nesses jogos estão entre os mais gostosos da história dos games.

Se você já deu uma escopetada num diabinho de Doom, sabe exatamente do que estou falando. A combinação dos efeitos sonoros poderosos, das animações lindamente limitadas e do sangue pixelado são endorfina pura. E fico feliz de dizer que todas essas qualidades transbordam em Warhammer 40000 Boltgun.

SANGUE PIXELADO

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos

Eu não diria que Warhammer 40000 Boltgun é um game especialmente bonito. Porém, simplesmente amo esse estilo de visual. Até mesmo limitações da época que ele reproduz, como os fatos de que os presuntos estão sempre de frente para o jogador são, para mim, puro charme.

O áudio não é tão legal quanto o visual. A música da tela título é um heavy metal bem legal, mas as que tocam no gameplay são naquele estilo épico mais tradicional. O que deixa um pouco cansativo é que as trilhas são dinâmicas. Ou seja, há uma música de ação, que toca toda vez que há combate. Isso é chato porque o jogo tem combate quase o tempo todo, então a música fica constantemente começando e parando. Seria mais legal que usasse um estilo mais tradicional, em que cada fase tem seu tema.

ARMAS E TIROS

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos

A arma que você vê na imagem acima é a Boltgun do título. É a primeira que você pega, e a que mais vai usar durante toda a campanha, já que é a única que tem bastante munição disponível. Ela é tipo uma metralhadora, mas o que a separa das armas que você vê em FPS mais modernos é o impacto. O som, a forma como ela arranca sangue dos meliantes ou mesmo o jeito artístico e estilizado que eles explodem em pedacinhos de carne a faz parecer extremamente poderosa.

Felizmente, Warhammer 40000 Boltgun tem um monte de outras armas legais. Não poderia faltar a escopeta, que é bem gostosa de usar, mas no fim das contas perde em utilidade por não ser muito poderosa. Mas tem várias outras formas de atacar. Tem raios, lança-granadas e muito mais. Porém, você pode carregar pouca munição das outras. Então você pode sacar uma arma mais poderosa com munição cheia e ficar sem tiros depois de matar pouca gente. E inimigo aqui é o que não falta.

AÇÃO A RODO

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos

Ação é o que não falta em Warhammer 40000 Boltgun. Você fica quase o tempo todo atirando e desviando. Se tanto, aliás, eu criticaria o jogo por ter inimigos demais ao mesmo tempo (o último chefe chega a ser cômico se não fosse irritante). Doom e a maioria dos games antigos usavam os inimigos de forma mais administrável. Você sabia onde eles estavam, como eram seus ataques e como desviar deles. Isso se torna impossível se você está lutando, ao mesmo tempo, contra mais de 25 caboclos. Os ataques simplesmente vêm de todos os lados, sem parar.

E este é o principal ponto fraco do jogo para mim. Ele é difícil, mas não é difícil como as pessoas normalmente entendem esta palavra. Na dificuldade normal, ele me parece simplesmente impossível. É um bullet hell em FPS, mas muito mais rápido de morrer com qualquer erro do que Returnal, para citar um exemplo bem impiedoso. E sim, há checkpoints automáticos, dá para salvar a qualquer momento e tudo mais. Mesmo assim, é comum você estar com o máximo de vida (250), dar de cara com um pequeno grupo de inimigos e, ao dar cabo deles, perceber que está com menos de 100.

DIFICULDADE E INVULNERABILIDADE

Felizmente, o game tem uma opção que permite ligar invulnerabilidade. E, sinceramente, eu não consigo imaginar alguém jogando sem ligar isso (embora esteja certo que em poucos dias teremos vídeos de nerds desocupados terminando sem levar dano jogando em um tapete de Dance Dance Revolution). Tem também uma dificuldade abaixo da normal, mas a normal me parece tão impossível que sinceramente não imagino que o “fácil” realmente tenha um desafio justo. Curiosamente, nas duas primeiras fases, mesmo no normal, estava achando Boltgun fácil demais, mas quando ficou difícil, ficou impossível.

A impressão que tenho é que a Auroch Digital falhou feio na hora de tunar a dificuldade, e só percebeu isso na reta final. Eles simplesmente colocaram o jogador como um alvo constante de ataques extremamente poderosos e, ao perceber tarde demais que o game era praticamente impossível, tacaram uma opção de invulnerabilidade, o que é mais fácil do que tunar tudo de novo.

LABIRINTOS

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos
Uma das poucas vezes que o layout te dá algum tipo de orientação.

Outra coisa que me incomodou é quão complicadas são as fases. Depois que você avança um pouco na campanha, a coisa fica extremamente labiríntica. É comum você encontrar as três portas trancadas antes de achar as chaves. E depois que acha as chaves, fica andando a esmo procurando as portas de novo.

É um tipo de level design que era popular nos FPS dos anos 90, mas Warhammer 40000 Boltgun dificilmente guia o jogador como Doom ou Quake o faziam. É comum você passar 15 minutos limpando os inimigos, e depois simplesmente andando a esmo, com todo mundo morto e sem saber para onde ir. Isso fica ainda mais complicado pelo fato de não haver mapa, algo comum nos games antigos do estilo.

WARHAMMER 40000 BOLTGUN: LIGUE A INVENCIBILIDADE E SEJA FELIZ

Warhammer 40000 Boltgun, Boltgun, Warhammer, Focus, Delfos

Estes dois incômodos são consideráveis, e são os responsáveis por Warhammer 40000 Boltgun não ser tão legal quanto Prodeus (provavelmente o melhor retroFPS que já joguei).

E é uma pena, pois, por mais que eu seja totalmente a favor de todo game permitir ligar invulnerabilidade, jogar inteiro assim acaba atrapalhando a experiência. Afinal, especialmente em chefes, você acaba simplesmente ficando na frente dele atirando sem parar. É aquele ditado de gamedesign que, se tiver a oportunidade, o jogador vai otimizar a diversão para fora do jogo.

Não me parece possível terminar Warhammer 40000 Boltgun no modo normal, então diria que ligar a invulnerabilidade é essencial para aproveitá-lo. A boa notícia é que, mesmo com isso ligado, o combate continua gostoso, a violência continua deliciosamente crocante e o game ainda é um enorme prazer. Fácil, fácil de recomendar.