Já foi muito catalogado aqui no DELFOS meu desapreço por roguelikes. Porém, o exclusivo de PS VR2 Synapse vem angariando tantos reviews positivos que eu simplesmente precisava experimentar. Nem que fosse para justificar meu caríssimo investimento no headset. Será que deu bom?

ANÁLISE SYNAPSE

Synapse é um FPS exclusivo de VR feito pela nDreams, a mesma empresa que criou Fracked. Se você leu minha análise dele, deve se lembrar que eu gostei muito do jogo, mas que fui incapaz de jogá-lo até o fim por causa do enjoo que ele me causava. Isso é, até certo ponto, verdade também para Synapse, mas depois falamos disso.

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O sistema de cobertura funciona da mesma forma que Fracked.

Synapse traz muito de Fracked, não apenas pelo fato de ambos serem FPS. O sistema de coberturas, por exemplo, que envolve segurar em qualquer coisa e mover a mão para se inclinar, é reproduzido aqui. Este é um dos melhores sistemas de cobertura que vi em VR, certamente melhor do que os games que exigem que você fisicamente se coloque atrás das paredes do game.

Porém, se Fracked era um FPS tradicional, uma campanha linear com fases, Synapse adere à moda do roguelite. Ou seja, conforme você joga e morre, vai ganhando upgrades permanentes, que deixam sua próxima tentativa mais fácil. Eventualmente, você estará pintudo o suficiente para chegar ao final sem morrer. A diferença, para mim, é como ele faz isso.

AS REVELAÇÕES DE SYNAPSE

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A progressão de Synapse é atrelada aos troféus.

Ao contrário de Hades e tantos outros, Synapse não troca diminuição de dificuldade por tempo de jogo. Pelo menos não diretamente. Ele tem um sistema de “revelações”, que basicamente são desafios, normalmente atrelados a troféus. Alguns deles desbloqueiam com o tempo de jogo, como “matar 1500 inimigos”. Outros são desafios que você precisa ativamente tentar fazer, como o da imagem acima, que envolvia matar três caboclos com uma única explosão.

Cada troféus/revelação conquistado te dá uma quantidade pré-determinada de skill points, que podem então ser usados para comprar habilidades. Estas habilidades podem alterar absurdamente o jogo. Por exemplo, poder segurar inimigos com a telecinese te torna muito mais mortal, e muito menos dependente de coberturas, ou mesmo das armas de fogo. Também dá para aumentar saúde, desbloquear armas mais variadas e mais poderosas e assim por diante. Então Synapse não se resume a simplesmente ficar repetindo o jogo até ele decidir diminuir a dificuldade para você. Ele dá ao jogador um papel muito mais ativo e envolvente.

O AVANÇO ESTRATÉGICO DE SYNAPSE

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É possível, claro, jogar Synapse tentando chegar mais longe a cada nova vida. Mas isso vai limitar seu progresso ao invés de ajudar. A forma mais inteligente é jogar não para avançar, mas para cumprir os desafios e comprar upgrades. Daí, quando você sentir que já está poderoso o suficiente, aí sim é hora de tentar ir longe.

Somando este avanço estratégico ao fato de que o cenário (quase totalmente em PB) é praticamente igual o jogo inteiro, Synapse se aproxima daqueles jogos de rock de plástico, como Rock Band ou Guitar Hero. Isso porque você joga para cumprir desafios, não para ver até onde aguenta. Assim, se em uma run você destravou quatro ou cinco troféus, ela foi extremamente produtiva, mesmo que você tenha feito tudo apenas na primeira fase.

ROGUELIKE PELO GAMEPLAY

Assim como Rock Band, eu acabava jogando Synapse pelo prazer do gameplay. E daí cumpria desafios, o que tornava uma potencial nova tentativa de terminar mais fácil. Ajuda que o gameplay é uma delícia. O tiroteio em si não é muito bom, pois falta exatidão na mira das armas. A única arma com mira laser é a pistola, e tenho impressão que os tiros não vão exatamente para onde a mira está apontando. As outras, então, acabam sendo bem do tipo “spray and pray“, ou seja, você atira na direção aproximada e torce para aceitar. A telecinese é muito mais legal.

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Synapse usa o sistema de rastreamento dos olhos para ativar a telecinese. Então você não precisa apontar a mão para o que quer levitar (dá para modificar isso nos menus). Basicamente você olha, aperta o gatilho esquerdo, e daí movimenta a mão para onde quiser. No início, a telecinese serve para levantar escudos na sua frente ou para bater nos inimigos com caixas e barris explosivos. Mas com alguns upgrades você vai conseguir levitar granadas e os próprios inimigos. E é extremamente gostoso levitar um inimigo e jogá-lo com força na parede, ou para fora da área jogável.

O lado ruim é que a munição é bem limitada, e os inimigos soltam munição onde morrem. Então acaba sendo do seu interesse sempre matá-los perto de você. Acredito que o jogo ficaria ainda mais gostoso com opção de munição infinita, mas ela não existe no momento.

O VILÃO DO VR: O ENJOO

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O dia que minha munição acabou e eu tive que matar um chefe batendo com uma caixa na cabeça dele.

Synapse dá muito menos enjoo do que Fracked, ainda bem. Porém, alguns erros e inconsistências fazem com que jogá-lo por algum tempo cause forte desconforto. Isso se manifesta em momentos em que o jogo não se movimenta da forma esperada.

Um erro que pode ser consertado, mas que ainda está aqui e é fatal, é que, quando você pausa, o menu que aparece segue sua visão por cerca de um segundo antes de parar na área central (o tradicional para VR). Synapse é um jogo em que você pausa a toda hora, para olhar os próximos desafios que vai cumprir. Então com o tempo, este desconforto vai cada vez mais causando enjoo até dar vontade de vomitar e obrigar a parar de jogar.

Outro problema fatal para o enjoo é a escalação. Você nunca consegue se aproximar das áreas escaláveis, então é necessário esticar o corpo e o braço para segurar nelas. Porém, ao fazer isso, o jogo parece detectar que você está “dentro da parede”, causando movimentos de câmera erráticos e, portanto, desconforto. Desconforto que vira enjoo, que vira vontade de vomitar, que exige parar de jogar.

SYNAPSE: UM ROGUELITE BACANA

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Parece incrível, mas o enjoo acabou travando mais meu progresso do que a própria estrutura de roguelike. Por causa do enjoo, Synapse é um jogo para ser jogado aos poucos. E ele suporta isso. Porém, por ser em VR, jogar dá “mais trabalho” do que simplesmente pegar um controle e sair jogando. Trabalho demais que acaba não valendo a pena ligar o aparelho e carregar os controles específicos para jogar apenas 10, 15 minutos.

Assim, apesar de ter um funcionamento gostoso que lembra o de Rock Band, ele é muito menos plug and play. No mínimo você precisa colocar um capacete, esperar a tela desembaçar, passar um paninho… enfim, tem um monte de inconveniências no VR, mesmo no PS VR2, que são pouco faladas na mídia, mas que definitivamente atrapalham no dia a dia.

Então Synapse é um roguelite legal, sem dúvida o primeiro do gênero que me divertiu. Mas precisa urgentemente atualizar as duas situações de movimentos erráticos que causam enjoo, para poder ser perfeitamente aprazível. Ainda assim, se você gastou um dinheirão num PS VR2, provavelmente tem alguma tolerância a este tipo de desconforto, então fica a dica aqui de um jogo de ação legal e com gameplay gostoso.