Recentemente tivemos aquele evento em que um monte de demos temporários poparam nos PCs e consoles. Um dos que eu joguei que mais me chamou a atenção foi Raji: An Ancient Epic, a ponto de que eu até tuitei sobre ele (aliás, já segue o DELFOS no Twitter?). Eu joguei o demo no Xbox One e, até então, ele não tinha data de lançamento. Mal sabia eu que ele estava para sair, e como um exclusivo temporário de Switch. Venha ler nossa análise Raji: An Ancient Epic.

ANÁLISE RAJI: AN ANCIENT EPIC

Análise Raji, Raji: An Ancient Epic, Delfos
Raji é um jogo de porradinha.

Raji: An Ancient Epic é um jogo em um estilo que era relativamente comum no PS2, mas desde então ficou esquecido. Trata-se de um game de ação estilo hack and slash com câmeras pré-determinadas e cinemáticas. Apesar de não ter, obviamente, os mesmos valores de produção do primeiro God of War, é naquela linha.

A câmera é um tanto mais simples, na maior parte do tempo optando por enquadramento isométrico. Porém, ela é muito mais dinâmica do que, por exemplo, Hob. Ela se movimenta com frequência, rotaciona, se aproxima para momentos mais íntimos, ou se afasta para mostrar a epicidade dos cenários. É bem bacana. Particularmente, eu adoro isso.

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Onde está Raji? Dica: ela está bem pequenininha.

A própria história tem bastante a ver com God of War, mas tem uma ambientação mais criativa e discutivelmente mais interessante. Raji se passa no mundo da mitologia indiana. Particularmente, meus conhecimentos dessa mitologia são parcos. Eu só conhecia alguns nomes de marca de cerveja (Brahma) ou de personagens de Streets of Rage (Shiva), o que tornou tudo ainda mais legal.

Você controla Raji, uma garota indiana normal que tem seu irmão raptado por demônios (você não odeia quando isso acontece?) e, com a ajuda dos deuses, logo se vê batalhando contra monstros mitológicos extremamente poderosos.

ACROBACIAS

O combate e a movimentação de Raji, no entanto, não lembram God of War. Estes vão mais para uma linha entre Prince of PersiaDarksiders II. Rola muita acrobacia, escalação de paredes, wall run e outras peripécias típicas de videogames que eu adoro.

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Um dia eu ainda vou aprender a fazer wall run na vida real.

O jogo é dividido em fases lineares, sem perda de tempo. Explorar não leva a colecionáveis nem a nada inútil, mas a upgrades. Dito isso, Raji: An Ancient Epic peca um pouco na comunicação. O hud é bem pouco intrusivo, mas carece de mais informações. Por exemplo, tem um super, estilo as magias de Golden Axe, que acertam todo mundo na tela, mas eu não consegui descobrir onde ele me mostra se eu tenho ou não essa habilidade em estoque. No final das contas, quando queria usar, apertava o botão e esperava pelo melhor.

Os upgrades também são confusos. Ao longo da campanha, você adquire quatro armas e três elementos (fogo, trovão e gelo), e pode fazer upgrades nos elementos. Eu fiquei quase o jogo inteiro achando que cada arma tinha seu elemento específico. Só perto do final do jogo percebi que você podia atribuir qualquer elemento a qualquer arma.

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Trovão em ação.

Como os upgrades são limitados (é possível upar totalmente um único elemento na campanha), é muito mais negócio colocar todas as armas no mesmo elemento, o que acaba deixando o combate menos variado do que poderia ser com upgrades mais abundantes. Pelo menos ele segue a linha de Devil May Cry, em que você pode trocar seus upgrades a qualquer momento, assim possibilitando explorar tudo que o jogo oferece (dica: o elemento gelo é o mais overpowered).

BELEZA INDIANA

Raji: An Ancient Epic é um jogo bem bonito artisticamente, mas tecnicamente ele demonstra seu orçamento limitado. Em outras palavras, ele parece um jogo bonito de PS2 (como o próprio God of War original), o que tem seu charme. Porém, é claro que a turminha da Nodding Head Games não teve o orçamento necessário para realizar completamente sua considerável ambição.

Por outro lado, o jogo é totalmente falado, e as músicas com temperos indianos são simplesmente sensacionais. Nesse aspecto ele é, sim, totalmente realizado.

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Raji tem alguns cenários muito bonitos.

PORRADA

Se você lê o DELFOS, sabe do meu cansaço com o fato de todos os jogos de ação atualmente terem influências consideráveis de Dark Souls (até os mais recentes God of WarDarksiders, franquias que inspiraram Raji, mostraram essas influências). Assim, é um grande prazer para mim jogar um hack and slash em 2020 que não traga absolutamente nenhuma característica soulsborne. Dá literalmente para contar nos dedos de uma mão quantas vezes isso aconteceu nessa geração (foram apenas Devil May Cry 5Monkey KingRyse, se não me falha a memória).

Dito isso, o combate em Raji não é tão bom quanto o dos jogos que o inspiraram. É difícil passar a sensação em palavras, mas de alguma forma falta impacto nos golpes. E isso é um problema grave em um beat’em up/hack and slash.

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Rangda é um exemplo de chefe longo demais.

Ele também cai em algumas armadilhas comuns no gênero. O chefe acima, Rangda, por exemplo, não é difícil, mas demora muito para morrer (cerca de 10 minutos). Você morre sendo atingido três vezes, e mesmo sendo relativamente fácil escapar dos seus ataques, acaba tornando a briga uma batalha de resistência. E é frustrante levar o terceiro golpe depois de oito minutos de batalha.

BATTLETOADS

O combate também funciona da mesma forma que critiquei em Battletoads. Você vai andando, o caminho é bloqueado e inimigos se teleportam onde você está. Não chega a ficar tão entediante quanto Battletoads pelo fato de Raji ser em 3D (então você não anda apenas para a direita). Mas as batalhas em si podem encher o saco. Muitas vezes você vence três inimigos, mais cinco se teleportam, você os vence, e mais quatro se teleportam.

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Belos desenhos nas paredes permitem ativar narrações que contam a história da mitologia indiana.

Algumas batalhas se estendem demais. E sempre tem um checkpoint antes delas, mas nunca durante elas. Assim, batalhas mais longas ficam ainda mais chatas quando você vence três ou quatro ondas de inimigos e, ao morrer, tem que voltar do início, sem saber quanto falta para poder avançar. Isso não é um problema nas primeiras horas, mas perto do final, as batalhas ficam realmente longas e cansativas.

Por fim, essa versão de Switch realmente não roda bem. Eu não tenho como medir, mas tenho a sensação de que ele dificilmente alcança 20 frames por segundo. Explorar o mundo dá uma desconfortável sensação de slideshow. Talvez nos consoles mais poderosos ele venha a rodar melhor, e mesmo a versão de Switch pode melhorar via patches, mas nesse momento o jogo é tecnicamente bem fraco – e isso incomoda bastante.

PROMISSOR

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Assim, Raji: An Ancient Epic é um jogo de ação bem promissor, mas tem alguns problemas técnicos e de design que podem vir a melhorar muito em futuros jogos da desenvolvedora. Definitivamente, a Nodding Head Games mostrou criatividade e habilidade para criar excelentes títulos. Raji não é perfeito, mas merece ser jogado, e deve ser elogiado por sua ambição considerável para um título indie. Eu definitivamente vou acompanhar o futuro da Nodding Head Games de perto.