Fight’N Rage saiu para PCs lá em 2017 e desde então habitou um monte de listas de melhores beat’em ups. Como fã do gênero, eu queria muito jogá-lo, mas não no PC. Pois entre o final de 2022 e início de 2023, ele finalmente saiu para os demais consoles. Era minha chance. Mas por algum motivo, eu só fiquei sabendo do lançamento dois meses depois. Felizmente, ainda consegui a possibilidade de experimentá-lo. E quem diria? Ele veio com uma generosa dose do ingrediente secreto do chef José Marques. Essa não!

ANÁLISE FIGHT’N RAGE

Análise Fight'n Rage, Fight'n Rage, Delfos, Beat'em up

É fácil perceber porque Fight’N Rage se tornou tão querido. Temos aqui um game que funciona mais ou menos como um best of do gênero, pegando emprestado várias mecânicas de seus irmãos maiores. Por exemplo, de Streets of Rage 3, ele pega a barrinha que se enche automaticamente, e permite usar o especial sem consumir vida. A pílula P, de Pit Fighter, também aparece aqui, com o mesmo efeito visual e poder. Claramente uma referência direta.

Outra mecânica muito boa que ele copiou ou criou em cima foi a de Final Fight, que permitia arremessar os inimigos através dos socos, sem agarrá-los antes. E Fight’N Rage a tornou ainda melhor, pois aqui dá para escolhar jogar os caboclos para frente ou para trás dependendo da direção segurada pelo direcional. E isso é uma mão na roda, porque você luta contra muita gente o tempo todo.

Nos beat’em ups antigos, até por limitações técnicas da época, dificilmente tínhamos mais do que quatro ou cinco inimigos na tela. Aqui é comum ter dezenas. Isso dá ao game uma sensação mais Dynasty Warriors do que Tartarugas Ninja. E acaba também servindo como um diferencial. E já que falamos disso, tem algo muito importante em qualquer game de soquinho.

O AUDIOVISUAL

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Fazer a porradaria ser gostosa é essencial. E parte importante dos ingredientes para alcançar este sabor é o audiovisual. A estética de Fight’N Rage é bem marcante. É um jogo que você consegue reconhecer de longe, ao mesmo tempo que remete aos mestres do passado que habitavam o Mega Drive. Ele traz até de volta coisas que sumiram dos games, como os peitinhos balançando que fizeram a fama da Mai Shiranui. Você sabe, o tipo de coisa que não pega mais bem hoje em dia.

Particularmente, eu não acho que Fight’N Rage é visualmente muito atraente, especialmente se comparado a clássicos antigos ou novos. Mas é uma questão de gosto, e sem dúvida ele tem muita personalidade. Algo que eu simplesmente amei foi a trilha sonora.

Streets of Rage colocava o nome do compositor Yuzo Koshiro na tela título, Fight’N Rage faz o mesmo com Gonzalo Varela, que ganha até um logotipo de desenvolvedor próprio. E faz jus a isso, pois as músicas são sensacionais. Especialmente as que focam em solos de guitarra. Sei lá, tem alguma coisa muito videogame em solos de guitarra. Eu acho a trilha sonora perfeita para games de porrada ou de corrida, e a composição aqui é tão boa quanto a execução.

FIGHT’N RAGE E O COMPLECIONISMO

Fight’N Rage é um daqueles jogos curtinhos que incentiva o replay quase eterno. Seus pontos são transformados em moedas, que podem ser usados para comprar modos de jogo, músicas e até novos personagens. Pois é, aparentemente qualquer inimigo presente no jogo pode ser jogável.

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Ricardo é um nome muito legal para um herói de beat’em up!

Além disso, a campanha tem opções de caminhos, com vários finais, para incentivar a repetí-la várias vezes. Agora sabe o que começa travado e que não faz sentido nenhum? A dificuldade fácil. Inclusive, como ao começar a campanha, você pode escolher apenas normal ou hard, deduzi que ela não existia. Entra José Marques.

ENTER THE CHEF JOSÉ MARQUES

Eu passei da primeira fase sem morrer. Na segunda, passei na vida zero. Achei que perderia todas na terceira, mas curiosamente consegui chegar longe até usar o primeiro continue. E quando usei, achei legal, pois os continues são infinitos e, embora não retornem do mesmo lugar, estilo arcade, voltam apenas ao início da tela, não da fase. “Bacana, José Marques não passou por aqui”, pensei. Foi dai que ouvi um “Ora, pois espere, meu garoto, deixa só eu fazer um xixizinho aqui”. E pronto, tudo que tinha visto de bom no Fight’N Rage foi para o beleléu.

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A princípio, voltar do início da tela não era um problema, pois parecia que três vidas sempre seriam o suficiente para avançar. Porém, perto do final da campanha, as telas começam a ficar extremamente longas (mais de dez minutos) e trazendo um onslaught de inimigos poderosos em combinações nada saudáveis. Comecei a precisar usar vários continues para passar de cada tela. A diversão começou a sumir. Queria apenas que ele tivesse uma dificuldade mais baixa e me deixasse mudar para ela na tela de continue.

Daí cheguei a uma tela que era um longo corredor cheio de barris e inimigos, muitos deles chefes de estágios anteriores, que vinham em dupla, junto com uma cambada de minions. Penei muito pra passar daí. Porém, ao vencer todo mundo, já na vida zero, o game me joga um chefe, que me mata rapidinho. “Se voltar do chefe, vá lá”, pensei. Não voltou. Voltou do início da tela. Estava sem tempo de continuar jogando, então resolvi desligar para continuar depois. E foi aí, meu camarada, que o gostinho do ingrediente especial chegou glorioso na minha boca!

EL CHEF

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Fight’N Rage não salva. Ou seja, quando eu desliguei o jogo para fazer outra coisa, perdi absolutamente todo meu progresso. Uma manhã inteira jogando foi pro lixo. Isso não é aceitável, especialmente no PS5, o único console da atualidade sem quick resume. Aí acabou para mim. Não vou gastar mais de uma hora para chegar de volta naquela mesma tela e ficar travado de novo. Neste momento estava decidido que não jogaria mais Fight’N Rage.

Fui checar o menu, e agora, só agora, havia uma dificuldade fácil destravável. Por que isso não era comprável quando abri o jogo pela primeira vez? Aliás, por que não começou aberta logo de cara? A primeira vez com um beat’em up é exatamente quando a gente mais quer jogar no easy. Depois a gente poderia comprar dificuldades mais altas para variar. Mas a turma da SebaGamesDev acha que o fácil deve ser merecido, e o difícil deve ser dado.

Bom, eu não tinha tempo e muito menos saco para começar uma nova campanha do zero. Então essa foi minha experiência, e não dá para recomendar o jogo nesse estado. Se você quiser experimentar, sem dúvida há qualidades aqui. Mas minha dica é: jogue a primeira fase, saia do jogo, compre o easy, e só depois comece a investir de fato na campanha. Caso contrário, você pode ficar travado no final, sem conseguir passar e sem ter tempo para tentar mais vezes, como aconteceu comigo.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
analise-fightn-rage-reviewDisponível: PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series, Windows<br> Analisada: PS5<br> Desenvolvedora: SebaGamesDev, Blitworks<br> Editora: Blitworks, Selecta Play<br> Lançamento: 19 de setembro de 2017 (PC), 13 de outubro de 2022 (Switch), 1 de março de 2023 (demais consoles)<br> Gênero: Beat'em up<br>