Ash é um garoto que gosta de desenhar e de visitar a cidade abandonada na qual cresceu. Um belo dia, ele percebe que tem o poder de revitalizar a cidade da única forma possível: pichando tudo que é parede. A questão é que o pincel do moleque é mágico! Esta é nossa análise Concrete Genie.

NINGUÉM PINTA COMO EU PINTO

Nosso amigo Ash tem o poder de pintar criaturas nas paredes e dar vida a elas. Estes bichinhos, os gênios do concreto do título, são fantasminhas que se movimentam apenas através das paredes. Há três tipos, e cada um tem uma habilidade que vai ajudar o herói a solucionar puzzles, como queimar ou mover obstáculos.

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Os gênios são muito simpáticos.

A relação com os gênios, no entanto, não pode ser meramente profissional. Você deve deixá-los felizes, ocasionalmente pintando o que eles desejam, e mesmo brincando com eles de coisas como basquete ou esconde-esconde. Não por acaso, a maior parte dos troféus é concedida justamente para atividades com os gênios.

Mas como é o jogo?

ANÁLISE CONCRETE GENIE

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Queima a caixa pra mim, brôu?

Aqui a coisa começa a desanimar. Isso porque se o visual e os personagens esbanjam simpatia, o gameplay é entediante. O jogo é dividido em duas metades. Na primeira, você é solto em um cenário grande e relativamente aberto, e deve encontrar luzes e pintar perto delas para acendê-las. Só dá para progredir depois de acender todas.

COME ON, BABY, LIGHT MY FIRE

O mapa até mostra onde estão as luzes, mas ele não é muito claro. As fases são divididas em atos, e o mapa mostra a fase inteira de uma vez. Há uma sutil diferença de cores entre a área delimitada por cada ato, e eu demorei para perceber isso. Por exemplo, eu passei um bom tempo tentando chegar em um determinado ponto do mapa sem sucesso, acreditando que era para lá que tinha que ir. Só depois vi que tinha uma luz muito sutil lá atrás que tinha deixado passar, e que a parte para a qual estava tentando ir era a próxima fase – e, portanto, lacrada.

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Você desenha através de um menu semelhante a um RTS.

A pintura não é feita manualmente, mas selecionada através de um menu. Daí você deve movimentar o controle ou usar a alavanca direita para escolher o ponto do desenho, sua orientação e tamanho.

Claramente, a intenção da turma da Pixelopus era que você criasse suas próprias obras primas – tanto que os desenhos que você faz são permanentes durante toda a campanha. E isso talvez seja legal para crianças ou pessoas que curtem este tipo de interatividade eletrônica. Particularmente, eu apenas escolhia os desenhos que ocupavam mais espaço (meu preferido era uma nuvem de chuva) e ia martelando o botão até todas as luzes se acenderem, sem nenhuma preocupação com a estética.

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Os gênios também são customizáveis.

Você também pode personalizar os gênios ao criá-los, colocando orelhas, rabos, chifres, etc. Aqui, da mesma forma, eu personalizei os primeiros, mas depois comecei a deixá-los com o visual padrão.

Ocasionalmente, você precisa lidar com bullies que impedem o seu acesso a determinadas áreas. Isso normalmente envolve chamar a atenção deles, subir num telhado e pintar onde eles estavam enquanto estão distraídos.

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Caso eles te peguem, simplesmente te jogam em alguma lata de lixo. Você não perde progresso, mas tem que esperar uma animação não pulável que deve demorar mais de 30 segundos.

O ESGOTO

Eu fiquei bem entediado no início, até que veio a fase do esgoto. Pois é, este malfadado cenário que não para de aparecer em videogames aqui é a melhor parte. Este capítulo funciona como os anteriores, mas ao invés de ser um cenário aberto, onde você fica apenas procurando pelas luzes, é um estágio com começo, meio e fim. É basicamente uma sequência de puzzles e de plataforma leve. Aqui, as luzes aparecem naturalmente na sua frente, ao longo do seu caminho.

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É no esgoto que Concrete Genie tem seus momentos mais lúdicos.

Este esquema mais linear permite que Concrete Genie brinque mais com seus personagens. Por exemplo, tem uma hora que um gênio se esccondeu atrás de uma caixa e brincou de me assustar. É nesta fase – e apenas nesta fase – que podemos ver o verdadeiro potencial do jogo e de sua premissa.

A SEGUNDA METADE

Lembra que eu falei das duas metades? Pois a segunda parece outro jogo. Combate é introduzido, e Ash se torna mais mágico, podendo, por exemplo, patinar em rastros de tinta como um Homem de Gelo pichador.

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Neste trecho do jogo, você não mais pinta. Seu objetivo é revisitar os cenários anteriores e caçar chefes neles. Assim como Monster Hunter: World, são batalhas longas que se alternam entre momentos de luta e de perseguição. Há inimigos menores, mas estes são apenas distrações, uma vez que cada fase agora se resume a um ou mais chefes.

É uma diferença brutal, mas, assim como na primeira metade, o gameplay nunca chega a ficar realmente interessante.

A HISTÓRIA

Concrete Genie tem um visual bem estiloso que lembra bonequinhos de stop motion, mas eu tenho sérios problemas com a história que ele conta. Basicamente, o objetivo de sua narrativa é redimir os bullies. E isso não cola para mim.

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Particularmente, eu vejo bullies como as pessoas em geral vêm nazistas: como criaturas do mal incapazes de empatia, e portanto não merecedores dela. Essa ladainha de que os bullies só torturam os mais fracos porque têm vidas domésticas difíceis é uma desculpa que não cola e não corresponde com a realidade, mas a cultura pop não se cansa de repetí-la.

Humanizar estes seres horríveis para mim é tão nojento quanto justificar as ações de um estuprador. Aliás, bullies e estupradores são mais parecidos do que se pode pensar a princípio. Ambos são psicopatas que torturam vítimas vulneráveis para se sentirem poderosos. E nenhum deles deveria ter espaço para existir na nossa sociedade. Entender as causas, sim, é necessário, até para evitarmos que continue acontecendo. Justificar ou perdoar, no entanto, nunca.

Quando a história de um jogo não me agrada, eu costumo focar no gameplay e ainda assim sou capaz de me divertir. Porém, o gameplay de Concrete Genie não me conquistou, e sua história me incomodou. Daí fica mais difícil.

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High five!

Eu gostei dos gênios, do visual e do Ash como personagem. Concrete Genie tem boas ideias, mas só consegue de fato mostrar a que veio no capítulo do esgoto. São seis capítulos, e em apenas um eu realmente me diverti.

Eu valorizo o trabalho da Pixelopus. Eles se esforçaram em criar um gameplay único, em um mundo próprio e com algo a dizer. Concrete Genie é único, para o bem ou para o mal. Isso é algo que anda raro nos games de hoje. Infelizmente, não foi desta vez que seus conceitos foram plenamente realizados.