Em 2015, Bloodstained: Ritual of the Night quebrou recordes de arrecadação no Kickstarter. Projeto de Koji Igarashi, umas das mentes responsáveis pelo absurdamente clássico Castlevania: Symphony of the NightBloodstained foi proposto como uma continuação espiritual. Análise Bloodstained Ritual of the Night

Desde então, muita coisa mudou. Em especial, na época da arrecadação, metroidvanias eram relativamente raros. Nos últimos quatro anos, o gênero desfrutou de um saudável revival, com grande quantidade de lançamentos de qualidade. Só nas últimas semanas, por exemplo, tivemos os excelentes Gato RobotoTimespinner, este último podendo por si só ser considerado uma continuação espiritual de Symphony of the Night. Será que, tantos anos depois, e neste novo cenário, Bloodstained: Ritual of the Night seria capaz de agradar? A resposta: e como, cara!

METROIDVANIA DE ALTO ORÇAMENTO

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Bloodstained: Ritual of the Night tem cara de superprodução.

Metroidvanias são tradicionalmente jogos em 2D (embora haja algumas interpretações do gênero em 3D, como Tomb RaiderDarksiders). Porém, em geral os jogos modernos do gênero são indies ou, em outras palavras, feitos com orçamento mais baixo. A questão é que as origens do estilo não são nada humildes. Super MetroidCastlevania: Symphony of the Night eram superproduções na época em que foram feitos. Seu visual não era pixelado por estética, mas porque é o que era possível fazer.

Em Symphony, isso fica ainda mais claro. Embora ele seja visualmente pixelado, por já ter vindo na era dos jogos em CD, tem a história interpretada por atores de voz e músicas orquestradas. Essas coisas são caras, meu!

E isso é o mais legal e o que mais impressiona assim que você roda Bloodstained: Ritual of the Night pela primeira vez: esta definitivamente não é uma produção de baixo orçamento. Ele é, claramente, o metroidvania em 2D mais caro já feito.

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Brilhante e colorido.

Ritual of the Night tem um visual brilhante e colorido. Jogue-o no escuro e sua sala vai parecer uma discoteca por causa das luzes que vão sair da tela. Além disso, os cenários são ridiculamente detalhados e mesmo as fases mais padrão, como a tradicional parte no gelo, são lindonas.

AUDIOVISUAL Análise Bloodstained Ritual of the Night

É verdade que em algumas cutscenes, quando você vê os personagens mais de perto, a coisa não se sustenta tão bem. Nestes casos, falta algum polimento e cuidado, mas são momentos pontuais, e durante a jogatina a cara de Bloodstained impressiona muito.

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O visual não é tão impressionante nas cutscenes.

Outra coisa no visual que pode causar algum estranhamento é seu design um tanto aleatório. Em especial, salas de savefast travel e conexões entre áreas são sempre iguais, não interessa onde estejam. Estes são alguns dos cenários mais belos do jogo, mas causa estranhamento você estar numa caverna cheia de lava e de repente ter uma sala gótica com uma estátua enorme para salvar o jogo.

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A sala de save é lindona, mas não faz sentido aparecer algo assim dentro de um vulcão.

A música impressiona ainda mais do que o visual. Boas composições são tradição na série Castlevania desde o Nintendinho, mas Bloodstained leva isso às últimas consequências. É minha opinião pessoal, mas as músicas aqui presentes têm ainda mais variação e qualidade do que a já excelente trilha do Symphony.

As músicas apresentam, em sua maioria, uma orquestras completa, e as composições vêm cheias de melodias pegajosas, daquelas que dá para cantar junto enquanto joga. Mas não para por aí, pois algumas composições são belos interlúdios de piano e outras, ainda, trazem um empolgante heavy metal cheio de solos de guitarra. Eu curto muito os três estilos abordados pela trilha de Ritual of the Night, e sua qualidade é tão alta que eu diria que temos aqui uma das melhores trilhas sonoras de games de todos os tempos.

UMA PILHA MISERÁVEL DE SEGREDOS

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Pular de plataforma em plataforma deixa o Corrales feliz.

gameplay é bastante familiar para quem jogou Symphony of the Night ou seus influenciados mais modernos. Trata-se de um jogo de plataforma com foco em combate e exploração. Tem um monte de armas, magias e equipamentos, cada um com suas estatísticas próprias. Tem até os tradicionais familiars que te acompanham e ajudam na porradaria. E tem dúzias de chefes bem diferentes, que normalmente vêm acompanhados de upgrades que possibilitam acessar novas áreas do castelo.

upgrades abundam, meu amigo. Embora as habilidades de movimentação sejam mais raras, não deve passar cinco minutos sem rolar uma nova magia. Estas popam aleatoriamente após vencer os inimigos padrão e vêm de todos os tipos. Raios de fogo, gelo e luz? Tem. Escudos de proteção? Tem. Minha preferida criava um pilar de fogo na minha frente e, após alguns upgrades, simplesmente enchia a tela de pirotecnia. Parecia até um show do Kiss.

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Imagem meramente ilustrativa.

Na real, eu diria que Bloodstained até passa um pouco do ponto na quantidade de armas e magias. São tantas, mas tantas, que eu logo parei de testar tudo que adquiria. A experimentação é ainda mais inibida por você poder equipar apenas uma arma e uma magia de cada tipo.

Há atalhos, onde dá para criar loadouts personalizados, mas isso não envolve apenas armas e magias, mas também roupas. Porém, se faz sentido alternar entre uma magia de fogo ou gelo dependendo da ocasião, uma vez que você troca de roupa, a anterior se torna inútil, pois diminui suas estatísticas. Desta forma, eu usei o sistema de atalhos apenas para equipar facilmente algumas magias de movimentação com usos específicos, atualizando frequentemente apenas o meu “atalho padrão”.

PLANO DE ATAQUE: ATACAR

As armas, aliás, também vêm de vários tipos. Chicotes, espadas, adagas e até botas com facas embutidas. Nas minhas primeiras horas eu adquiri uma espada que atacava sem interromper o movimento da protagonista. É tipo uma espada telecinética. Isso significa que eu podia atacar na velocidade que conseguia apertar o botão.

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Este chefe é um dos mais legais do jogo.

Assim, embora ela fizesse menos dano (se não me engano, era 14 por ataque), eu conseguia atacar cinco vezes no tempo de um único ataque com qualquer outra arma. Isso tornava o dano por segundo dela muito maior do que o das outras (as armas mais fortes que encontrei faziam 45 por ataque) e, por isso, eu quase não experimentei outras armas. Só fui aposentar minha espadinha telecinética quando, próximo ao final, eu fui obrigado a equipar uma arma específica para avançar a história.

Uma coisa que me chamou a atenção quando joguei recentemente o Symphony of the Night e que também rola aqui: quão poderosos os inimigos padrão parecem ser. Há uma grande quantidade de inimigos enormes, que metem medo. Alguns parecem até chefes. Você acha que a luta vai ser épica, mas daí eles morrem com alguns poucos golpes. Eu acho isso muito legal, pois ajuda a fazer a protagonista parecer ainda mais pintuda.

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Este dragão enorme, por exemplo, é um inimigo normal, que aparece no meio da fase.

Tudo no level design, da quantidade de saídas de cada sala, ao posicionamento dos inimigos e dos segredos, demonstra o valor criativo de um jogo feito a mão. Bloodstained: Ritual of the Night é um excelente argumento contra os roguelikes com seus layouts aleatórios. Este é um nível de qualidade simplesmente inalcançável sem a mão humana.

FINAIS E MAIS FINAIS

Eu demorei 10 horas para terminar Bloodstained, com 50% do mapa revelado. Até aí, joguei sem colar. Mas ao me deparar com o final ruim, tive que olhar um guia para saber como continuar. É algo comum dos jogos antigos do gênero, mas admito que parar de jogar para buscar guias não me agrada.

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Esta imagem tem uma dica da solução de para onde prosseguir depois do final ruim.

Depois disso, avancei por mais sete horas, fazendo o final bom em 17 horas. Neste tempo, matei todos os chefes, incluindo os opcionais, com exceção de um que só aparece quando você revela 99% do mapa. Sabe quanto eu fiz? 98,9%. Parece até brincadeira, mas eu simplesmente não vejo mais nenhum ponto do mapa em branco ou sala na qual não tenha entrado. Isso demonstra quão bem escondida está a miserável pilha de segredos de Bloodstained, o que deve fazer a alegria de quem adora procurar por isso.

O PREÇO DA QUALIDADE

Por uma série de motivos, eu não sabia se teria a oportunidade de cobrir este lançamento, então cheguei a namorá-lo na loja enquanto esperava uma posição da editora. Admito que me surpreendi quando vi o preço de US$ 40 / R$ 180. Afinal, metroidvanias costumam custar metade disso. Depois de jogar, no entanto, considerei este preço absurdamente justo. Bloodstained não é apenas um metroidvania feito por um criador com pedigree. É uma verdadeira superprodução, algo que não víamos no gênero desde o próprio Symphony of the Night. E fazer um jogo assim é caro.

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Esta sala parece guardar algum segredo que eu não encontrei. Será que você consegue resolver?

Assim, Bloodstained: Ritual of the Night é a rara história de um kickstarter com final feliz. Foi uma estrada difícil, cheia de adiamentos, decepções e polêmicas. Mas no final das contas, Koji Igarashi e sua equipe entregaram exatamente aquilo que o público os pagou para fazer. E com qualidade muito acima do esperado.