Se você jogou bastante videogame na geração atual, deve concordar comigo quando eu digo que hoje os joguinhos se dividem em poucos gêneros. Nos de alto orçamento, temos RPGs de mundo aberto longuíssimos. Nos de médio, clones de Dark Souls. Finalmente, entre os mais indies, é tudo metroidvania pixelado. Em alguns casos, os três gêneros são combinados em uma satânica mistura sem originalidade. Isso não significa que não existem jogos bons nesta trindade de gêneros. Mas é fato que se você gosta também de outros gêneros, tem poucas opções a não ser os jogos da Nintendo e um ou outro Call of Duty. A teimosia em seguir estas tendências torna Journey to the Savage Planet algo realmente especial.

SE TODO MUNDO PULAR DA PONTE, VOCÊ PULA TAMBÉM?

Vamos começar falando de um diferencial que realmente destaca Journey to the Savage Planet para gamers adultos e com família. Ele não visa se tornar um emprego, nem o último game que você vai jogar na vida. Eu terminei sua história em 11 horas, fazendo 72%. Se tanto, eu até gostaria que ele fosse mais longo. Faz muito tempo que eu não termino um jogo pensando que gostaria de jogá-lo por mais algumas horas.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

Ele também não é um RPG. Há upgrades, mas não tem loot, estatísticas, necessidade de trocar de roupa nem nenhuma pentelhação do tipo. Aliás, Journey to the Savage Planet faz algo que acredito que nenhum outro jogo nesta geração fez: quando você atira em um inimigo, números não saem voando. Já viu isso antes?

Melhor ainda, é possível vencer os inimigos com dois ou três tiros, sem necessidade de segurar o gatilho por vários segundos até a vida deles zerar. Como antigamente.

Isso tudo faz com que Journey to the Savage Planet seja um exemplo de um jogo raríssimo sem gorduras, que diverte em praticamente toda sua duração. Ou seja, exatamente o que um gamer adulto com pouco tempo para jogar procura.

ANÁLISE JOURNEY TO THE SAVAGE PLANET

Mas isso é o que ele não é. O que ele é? Journey to the Savage Planet é um jogo de ação e aventura focado em exploração. Em outras palavras, é um metroidvania em primeira pessoa. A mídia especializada o está comparando com Metroid Prime, e faz sentido, uma vez que existem poucos outros metroidvanias em primeira pessoa.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

Você é um explorador enviado a um planeta longínquo para descobrir se ele é uma boa opção para colonização humana. Logo, você é liberado no planeta, com objetivos relativamente lineares, mas com vários pontos do mundo fechados para exploração até que você adquira upgrades. Ou seja, como qualquer metroidvania.

Há ação, mas não dá para classificá-lo como FPS. Você tem apenas uma arma, uma estilosa pistolinha. Além disso, nem toda criatura ataca quando te encontra. E as que atacam, normalmente morrem rápido. Tem uns três chefes ao longo da campanha, mas nenhum deles é especialmente desafiador. Aliás, mais um ponto a favor de Journey to the Savage Planet é que ele não é difícil, uma raridade na geração atual.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

O foco mesmo é na exploração e nas habilidades de locomoção. No início, você faz pouco além de correr e pular, mas depois de algumas horas, terá pulos quádruplos, um grapple estilo Batman e até a possibilidade de deslizar por trilhos como o Ratchet ou o Sonic.

O mundo é bastante vertical, então é vital olhar sempre para cima e para baixo para encontrar segredos e upgrades.

O QUE TODO MUNDO FAZ

Infelizmente, Journey to the Savage Planet tem algumas características pentelhas que o encaixam como um jogo desta geração. Em especial, checkpoints e mortes funcionam exatamente como Dark Souls.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

Ou seja, ao morrer, você perde tudo que estiver carregando e deve voltar ao local em que morreu para recuperar. Os checkpoints são limitados e longínquos, e funcionam como pontos de fast travel.

Felizmente, como o jogo não é difícil, estas pentelhações não são tão pentelhas como costumam ser. O que é realmente pentelho é que ele também segue a modinha de não ter pausa (algo tão absurdo e sem sentido que estou planejando um texto especificamente sobre isso).

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

Outra coisa chatinha é que você precisa voltar para a nave para “guardar” o que pegou na viagem. Seria mais prático poder fazer isso simplesmente ativando o checkpoint.

Por fim, apesar de curto, a última área do jogo é bem chatinha e mostra que, mesmo que o jogador ainda não esteja cansado dele, pode ser que o fôlego estivesse acabando.

HUMOR

Não há muita história em Journey to the Savage Planet, mas o que há é contado através de vídeos em live action que tocam sempre que você volta para a nave. Estes se dividem em mensagens do seu chefe, ou comerciais absurdos.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

São divertidos, e o estilo do humor me lembrou um pouquinho Portal, mas não é tão genial nem tão engraçado.

Typhoon Studios, desenvolvedora de Journey to the Savage Planet, foi formada por uma turminha que trabalhou na Ubisoft. Inclusive, o diretor Alex Hutchinson dirigiu o ótimo Far Cry 4. A jogabilidade de Journey to the Savage Planet lembra bastante Far Cry, com sua movimentação precisa e divertida. Inclusive, os controles têm um polimento digno de um AAA, tornando tudo ainda mais bacana.

Análise Journey to the Savage Planet, 505 Games, Typhoon Studios, Delfos

Eu não sei a essa altura se Journey to the Savage Planet estará na minha lista de melhores de 2020. O que eu sei, no entanto, é que ele é um dos jogos mais únicos desta geração, justamente por evitar seguir a maioria das tendências atuais. Sacrifico bodes para que o futuro traga muito mais variedade para nossos joguinhos. E, se depender da Typhoon Studios, acho que pode rolar.

VAMOS TERMINAR EM UMA MÁ NOTÍCIA?

Typhoon Studios, que mostrou tanto potencial aqui, foi adquirida pelo Google e, no futuro, deve desenvolver jogos exclusivamente para o Google Stadia. Fuckin’ hell!