A cada ano, fica mais difícil acompanhar os lançamentos de jogos do que no ano anterior. Já conferiu o calendário de 2020?! Só tem jogaço! Por isso, às vezes alguns passam despercebidos, como é o caso de Blasphemous, que saiu no final do ano passado. No meu caso, só consegui jogar nas férias!
Por isso, hoje o DELFOS vem remediar este fato, pois Blasphemous é um dos melhores jogos de 2019 (bem, pelo menos ele estaria na minha lista!).
Análise Blasphemous: perturbador, de fato
Blasphemous é, de cara, um dos jogos com estética e temática mais perturbadoras dos últimos anos. Jogos violentos e de terror são comuns. Porém, poucos conseguem passar aquela sensação de que você talvez esteja mexendo com algo que não deveria. É como se o que você faz no jogo seja errado – a impressão é de controlar o verdadeiro vilão da história, embora ninguém te diga isso.
Bem, eu também não vou contar para você se esse é o caso. O que posso dizer é que o Penitente (protagonista do jogo) parece, de fato, um assassino ensandecido. A forma como o “herói” mata os inimigos e você, como jogador, toma prazer disso, ajudam a reforçar essa impressão.
O combate é uma sequência de fatalities, inclusive de condenados que sequer fizeram algo errado a você, mas você faz questão de tirar o sofrimento deles.
Como contexto para essa sanguinolência toda, temos uma temática religiosa gone wrong. Pense na Igreja Católica na época medieval, durante a Inquisição, deturpe-a completamente e você terá uma ideia sobre a religião fictícia de Blasphemous.
Somado a isso, temos gráficos pixelados maravilhosamente trabalhados, além de efeitos sonoros e músicas bem “atmosféricas”. A trilha sonora é um grande destaque: cada música combina perfeitamente com o cenário e o tom do jogo.
Devo elogiar também o roteiro, as dublagens em inglês e o trabalho de localização em português para os textos do jogo. Eles ajudam muito a criar essa sensação de desconforto e a construir o mundo de Blasphemous.
Blasphemous: que ninguém fique no caminho do Penitente
De nada adianta uma temática original se o gameplay for ruim, certo? Felizmente, Blasphemous é um prato cheio do gênero Metroidvania, com muita exploração e um dos combates 2D mais incríveis que já joguei.
A essência do combate é bem simples. Você tem o pulo, a esquiva, o parry, o ataque e pode equipar apenas uma magia por vez. Tem alguns elementos de RPG, como equipamentos e textos que você encontra com a história do jogo, mas é tudo bem simplificado. Este não é um jogo no qual você vai passar mais tempo em menus.
As batalhas contra os chefes são verdadeiros espetáculos – eles têm designs apavorantes, são intimidadores e exigem táticas arriscadas. Com frequência, é uma questão de se você consegue tirar a vida do chefe rápido o suficiente. Para isso, há equipamentos cheios de trade-off. O melhor deles: aumente drasticamente o ataque, mas diminua bem a defesa.
Blasphemous: calma, eu sou um Soulsborne?
Não há como negar: Blasphemous tem uma forte influência de Dark Souls. Os combates são ritmados e exigem que você aprenda os movimentos dos inimigos. Há várias áreas secretas que são reveladas quando você ataca.
Pois é, sabe como em Dark Souls você tem que calcular o tempo da sua cura? Em Blasphemous, você também tem disso. E prepare-se para algumas plataformas desafiadoras, dignas dos primeiros Castlevania. Por todos esses motivos, esse definitivamente não é um jogo 2D para sair correndo alucinado, como você faz em Dead Cells.
Outra mecânica emprestada de Dark Souls é a de “recuperar as almas” (para facilitar a sua e a minha vida, vou chamar o recurso de Blasphemous de almas). Ela funciona de forma diferente do que você está acostumado. Quando o penitente morre, ele comete um “pecado”, mas não perde nenhuma “alma” que usa para comprar upgrades.
A punição por morrer é que você passará a coletar menos “almas” a cada inimigo abatido. Para voltar ao status original, você precisa pagar o preço a uma estátua, e seu custo só será zero se você tiver recuperado todos os fragmentos dos lugares onde morreu.
Por fim, respondendo à pergunta do subtítulo, eu não chamaria Blasphemous de um soulsborne. Primeiro, porque ele cria em cima das mecânicas que pega emprestadas. Segundo, porque ele é muito mais daquele outro gênero clássico que citei!
Blasphemous: uma nova fórmula de metroidvania?
Durante a maior parte do jogo, Blasphemous parece um metroidvania bem tradicional. Algumas áreas ficam inacessíveis no começo do jogo e, para acessá-las, você precisa coletar três “chaves”. Como encontrá-las, o jogo não informa, então cabe a você explorar e descobrir as soluções.
Foi apenas no final do jogo que entendi uma coisa, que até onde sei é única de Blasphemous: você não precisa de nenhum upgrade para terminar o jogo. Sabe como na maioria dos metrodvanias você precisa conquistar novas habilidades para progredir? Pois é, aqui, você pode passar o jogo inteiro sem upgrades e chegará ao chefe final sem problemas. Mas acredite: eles estão aqui e apenas com eles você terá acesso a diversas áreas do jogo.
Este aspecto acabou sendo um dos mais divisivos sobre o jogo para mim. É deveras estranho chegar ao final sem upgrades de movimentação, mas foi o que aconteceu comigo.
Por outro lado, esse talvez também tenha sido o maior charme de Blasphemous durante a minha campanha, pois eu realmente não tinha ideia do que ia acontecer. Com tantos metroidvanias no currículo, a fórmula já está desgastada, e eu consigo ver um novo upgrade a quilômetros de distância – mas não em Blasphemous.
Blasphemous: esse jogo não é fácil!
Aliás, eu realmente não recomendo Blasphemous a quem não goste, ou não tenha muita experiência com metroidvanias. Este é um jogo bastante difícil, tanto nos combates, como na exploração. Juro, tem backtracking e sequence breaking pra chuchu. Ademais, os mapas são realmente enormes – talvez maiores do que Bloodstained.
E aí, não tem jeito: vai muito do seu gosto e de sua experiência com o jogo. Você gosta de se sentir perdido, desolado, muito distante do último checkpoint, sem ter certeza se o melhor é seguir em frente ou retornar? Vale dizer: Blasphemous tem apenas cinco pontos de Fast Travel e uma única dificuldade.
Blasphemous é o meu tipo de jogo, porque gosto desse tipo de proposta e, mais importante, ele deixa claro que se o jogador empacar, a culpa é dele, não dos desenvolvedores. O que é obrigatório o jogador saber para lutar, explorar os cenários e avançar é ensinado e repetido várias vezes. Agora, conseguir fazer isso… é outra história.
Blasphemous: entre os melhores de 2019, mas com ressalvas
Blasphemous definitivamente não é um jogo acessível. Tem seus defeitos: algumas sidequests confusas, com NPCs que não ajudam, e um ou outro cenário menos inspirado e repetitivo (como a prisão).
Porém, tem um dos melhores combates 2D já vistos (os dois últimos chefes me lembraram os melhores momentos que tive com Sekiro: Shadows Die Twice) e é um metroidvania diferente, que quebra a expectativa em um gênero que teve muitos jogos semelhantes nos últimos anos.
É um dos meus favoritos de 2019 e, quem sabe, pode ser um dos seus também. Só não espere por um jogo muito politicamente correto e que segura sua mão durante a aventura.
Saiba mais sobre Blasphemous no site da editora (em inglês).
Subtítulo bônus: os meus favoritos de 2019
Sabe como é, o Corrales fez o especial dos melhores jogos de 2019, mas eu queria dar uns pitacos e citar outros que também não devem ser esquecidos. Além de Blasphemous, os meus games favoritos de 2019 foram:
1 – Metro Exodus: holy shit, só eu achei este o melhor do ano?
2 – Devil May Cry 5: o melhor Devil May Cry, e eu acho que o Dante é o novo personagem do Super Smash Bros. Ultimate!
3 – Resident Evil 2: porque óbvio, mas ignore o peste do Mr. X e a segunda campanha com a Claire!
4 – Dragon Quest XI S – Definitive Edition: teoricamente é um jogo de 2018 e tem diversos problemas, como falei no especial sobre o jogo. Mas sério: nunca me empolguei tanto com um JRPG quanto este. Viva a jornada do herói!
5 – Sekiro: Shadows Die Twice: a parte final do jogo é repetitiva (pô, o mesmo chefe três vezes?) e calma que esse não é o melhor da From Software, mas é sem dúvida um baita jogo e mereceu a atenção recebida. Graças a ele, o Corrales e eu tivemos o nosso melhor debate do ano, sobre escolha de dificuldade nos jogos da From. Perdeu? Veja os argumentos a favor e contra.
E concordo com o Corrales: Bloodstained é demais. Que músicas, meu!