Amigo delfonauta, eu vou te contar: Metro Exodus era, ao lado de Devil May Cry 5, o jogo deste início de ano que mais me causava expectativa. A série Metro representa para mim algo que está cada vez mais raro no mundo dos games: um jogo de tiro focado em história e em single player. E, próximo ao lançamento de um Call of Duty que abandonou a campanha, isso é muito importante.

Verdade, Metro Exodus não é um bastião forte da resistência dos jogos lineares, uma vez que a 4A Games optou por, neste terceiro capítulo, flertar com mundo aberto. O quanto isso afetou o jogo, e se foi para melhor ou para pior, você descobre neste mesmo bat-canal e neste mesmo bat-horário. É só continuar lendo.

METRO EXODUS

Metro Exodus, Delfos, 4A Games, Deep Silver

Em um jogo que dá tanta importância à história, convém começarmos falando dela, não? No início de Metro Exodus, Artyom e seus companheiros descobrem que nem toda a superfície russa foi contaminada pela radiação da guerra. Assim, este grupo de espartanos pimpões resolve pegar um trem e sair explorando o país em busca de um lugar que possam colonizar.

No caminho, você vai conhecer muitos personagens coloridos, como um excêntrico barão do deserto (personagem que lembra os vilões de Far Cry). Novos amigos vão se juntar à turma. Alguns vão ficar pelo caminho. Como qualquer história pós-apocalíptica, eventualmente chega a hora de reconstruir. E este é o foco de Metro Exodus.

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Pela Aurora!

E como você sabe se jogou Metro 2033Metro: Last Light ou se leu os livros nos quais eles são baseados, os companheiros de Artyom também são bastante carismáticos. Temos, por exemplo, um sujeito chamado Idiota, que é tudo menos isso. Na verdade, Idiota escolheu este apelido como um sinal de humildade, e é o mais erudito da turma.

UMA HISTÓRIA DE AMOR

E, claro, tem a Anna, a esposa de Artyom e sua razão de viver, que por acaso é também uma sniper pintuda. Embora Metro Exodus não seja um jogo especialmente bonito (ele sofre por ser escuro demais ou claro demais quase o tempo todo, e texturas têm mania de popar quando estão bem na sua frente), as interações de Artyom com Anna, mesmo em momentos simples, como ajudar a subir em um lugar alto, demonstram na animação o carinho que eles têm um pelo outro.

Metro Exodus, Delfos, 4A Games, Deep Silver
Artyom até dá colinho para a Anna.

Ao longo de sua jornada, você vai conhecer cada um dos tripulantes da Aurora (o trem no qual eles viajam) muito bem. A câmera nunca sai da primeira pessoa, então você nunca vê Artyom. E, embora ele seja o narrador da história nas telas de loading, o rapaz nunca fala durante o jogo ou nas cutscenes. Esta talvez seja a opção narrativa mais questionável da turma da 4A Games. Um jogo com tantos bons personagens merecia um protagonista à altura. Isso de “herói mudo” era bem comum nos games de alguns anos atrás, mas não tem mais motivo para existir.

Não ajuda muito o fato de alguns dos atores que fazem as vozes em inglês (a Olga, em especial) serem muito ruins. Talvez valha a pena jogar no original em russo, mas infelizmente eu não pensei nisso a tempo. A mixagem também deixa a dever, com as vozes muito baixas, os tiros muito altos e a opção de mexer no volume apenas da música.

NARRATIVO

Metro Exodus é um jogo de tiro com pitadas de survival horror e flertes com mundo aberto. Porém, metade de seus capítulos são unicamente narrativos. Estes acontecem quando o trem está viajando e é sua oportunidade de conhecer seus companheiros e interagir com eles. Dá para simplesmente ir até o mapa e pedir para continuar jogando, mas se você fica tentado a fazer isso, talvez este não seja o jogo para você.

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Quem nunca trocou uma ideia em uma tirolesa?

A ideia aqui é viver com a tripulação da Aurora e desenvolver as relações com cada um deles, ainda que a interação nestes capítulos se limite a andar até um personagem e esperar ele acabar de falar. Mas quem não estiver disposto a investir este tempo vai perder momentos singelos como o que pode ser visto no vídeo sem spoilers abaixo (é só uma música, não tem nada de história).

Assim como um filme de ação não é porrada o tempo todo, um jogo narrativo também não precisa ser apenas uma sequência de tiroteios. Mas o legal é que neste aspecto Metro Exodus também se dá bem, muito por causa de algo que virou tradição na série.

AMBIENTAÇÃO TREMENDONA

A abertura de Metro Exodus já mostra o que ele tem de melhor. Assim como Uncharted e outros jogos de ação narrativos, cada cena de ação tem um contexto e diálogos únicos a ela. Às vezes você estará sozinho, às vezes acompanhado, mas sempre tem alguma coisa acontecendo. Por exemplo, em um bunker underground, você pode encontrar um presunto abraçado a um papel e, ao interagir, descobre que o papel é uma foto de família.

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Até as cenas de perigo são narrativas.

Combine a isso o mundo hostil e o excelente design de som e você nunca se sentirá sozinho – embora nem todas as companhias sejam desejáveis.

Metro Exodus até dá um twist naquela ideia de ter alguém te caçando, como em Resident Evil 2. O bacana é que aqui o bicho em questão não é imortal. Você pode usar sua munição para se livrar dele, e ele fica morto de vez. Todo o restante da exploração naquele trecho será sem perigos. Mas no próximo trecho pode ter outro bicho desses, ou até mais do que um, e a munição é limitada. Então cabe a você planejar bem quando vale a pena se livrar dele e quando é melhor só evitá-lo.

MUNDO ABERTO

Tudo que descrevi acima acontece nas fases lineares. Dois dos seis capítulos de gameplay (há capítulos unicamente narrativos), no entanto, são mapas mais abertos. E funcionam como você espera. Seus amigos te passam uma missão e aparece um X no seu mapa. Daí você corre ou dirige até lá e cumpre o objetivo. Algumas vezes, isso envolve só pegar um item. Em outras, rola um dungeon completo, uma área de exploração mais linear e roteirizada.

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Acho que este bicho não escovou os dentes.

E, como um bom jogo de mundo aberto, você pode simplesmente sair a esmo, em busca de colecionáveis e upgrades. Como os recursos são limitados, no entanto, é bom pensar bem se o benefício de entrar naquela casa ou caverna compensa o custo em munição, medicamentos e especialmente filtros de ar que o desvio vai ocasionar.

Apenas em um momento da história eu recebi, ao mesmo tempo, duas missões que podiam ser chamadas de sidemissions, nos quais outros personagens me pediam alguma coisa. Eu agradeço a 4A Games por não ter enchido o jogo de fetch quests pentelhos, mas a verdade é que este mundo aberto está aqui só para representar o status quo de um jogo lançado em 2019, e não como uma decisão criativa.

A EXCEÇÃO

No terceiro ato da história, no entanto, vem um capítulo que é fantástico, e o único momento em que a ideia de fazer algo mais aberto atinge seu pleno potencial. É um ponto em que você fica sozinho em uma floresta. O mapa é largo, mas não é cheio de lugares de interesse fora do seu caminho, como os anteriores.

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Este é o mapa. As áreas exploráveis são as verdes, e cada uma funciona como uma fase.

Basicamente, no capítulo em questão você deve chegar do outro lado do mapa. Para chegar lá, você terá vários caminhos disponíveis, vai conhecer amigos e inimigos e terá opção de escolher como lidar com eles.

E apesar de este ponto da história ser considerado um único capítulo pelo jogo, ele é composto de várias fases, com objetivos diferentes. Além disso, é bastante longo. Eu passei mais de uma tarde só desbravando meu caminho por ele.

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Cuidado com os lobos. E com aquilo. Seja lá o que for aquilo.

Pena que os dois capítulos abertos anteriores foram desenvolvidos mais da forma checklist tradicional do que lançando mão deste aspecto narrativo, pois este trecho funcionou muito bem e é provavelmente o mais marcante do jogo.

ANTAGONISTAS E COADJUVANTES

Narrativamente, só é uma pena que algumas das coisas apresentadas nos jogos anteriores foram esquecidas por aqui. Os antagonistas, por exemplo, antes eram comunistas ou nazistas, enquanto agora são basicamente bandidos pós-apocalípticos comuns. Os dark ones, que foram importantíssimos em Metro: Last Light não são sequer citados por aqui, como se nunca tivessem existido.

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Os cenários abertos são uma mudança considerável.

Também vale citar que Metro Exodus perdeu um pouco da sua urgência. A história aqui acontece ao longo de um ano, e a maior parte dela é na superfície. Nos jogos anteriores, ir para a superfície era um evento emocionante e que só aparecia em horas pontuais da história. Você precisava se preparar e explorar era um risco, uma vez que o ar era venenoso. Aqui a maior parte do jogo rola na superfície, e a necessidade de usar máscara vem não por motivos narrativos, mas por decisões de gameplay. A coisa parece um tanto aleatória.

Também há alguns problemas técnicos que deixam a experiência inconsistente, como diálogos em que um personagem pergunta algo e o outro responde ao mesmo tempo. Morrer causa uma tela de carregamento que não raro dura mais de dois minutos, o que fez com que eu optasse por diminuir a dificuldade, não por achar o jogo difícil demais, mas por estar cansado de esperar tanto.

Metro Exodus, Delfos, 4A Games, Deep Silver
Não seria uma história pós-apocalíptica sem um cenário que parece saído de Mad Max.

Metro Exodus é o melhor Metro? Eu não diria isso. Ainda prefiro o Last Light, especialmente pelo fato de ser mais focado, enquanto este tem dois capítulos que são pura gordura. Ainda assim, é muito bom, e representa um dos poucos jogos de tiro focados na história que veremos em 2019. Isso, por si só, já é justificativa para jogar.