A TV ainda tem (pouca) coisa boa

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Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.

Preciso treinar meu espanhol senão vou acabar olvidando. Este texto é dedicado a todos aqueles que falam espanhol e não têm com quem hablar (falar), para quem gostaria de hablar pero no habla nada e para quem gosta ou odeia o tema de hoje: a televisão brasileira e seus trecos.

O intuito não é fazer você, leitor, odiar a TV ou a mim. São meramente críticas construtivas, para repensar este meio que tem grande aceitação (segundo o último Censo, 99% da população brasileira possui pelo menos uma televisão em sua residência). E, para mim, se não existisse não faria falta alguma. Já aviso para quem vai desistir de ler que não vou falar de novelas, podem ficar calmos.

Começo com um cantor do qual particularmente não gosto, no entanto tenho que me dobrar diante do grande apresentador que se tornou, fugindo dos programas bitolados da noite: Ronnie Von (mais conhecido pelas leitoras com mais primaveras vividas como “Pequeno Príncipe” ou “Mãe de Gravata”) e o programa Todo Seu na TV Gazeta. Um programa inteligente – tirando os lapsos de temas fúteis que o apresentador tem quando fala de moda ou notícias dos famosos – com uma crítica de cinema pouca vista na televisão: consistente e profunda feita por Rubens Edwald Filho. Comentários perspicazes, um cenário arrojado e glamuroso. Sinto-me como se Ronnie Von estivesse em minha sala conversando. Toda a produção do programa e seus idealizadores estão de parabéns por produzir um programa que foge aos padrões da televisão brasileira, que considero cada vez mais rala. O programa vai ao ar de segunda a quinta a partir das dez horas da noite.

Vou abrir um parêntese sobre CQC (Custe o Que Custar) da Bandeirantes. É um programa reconhecidamente jornalístico com pitadas de humor. Marcelo Tas, Marco Luque e Rafinha Bastos comandam-no brilhantemente, embora sinta um toque de machismo por parte das propagandas veiculadas e da ausência feminina. Cabe aqui a sugestão: por que não uma mulher para fazer o CQC? Que tal uma mulher delfonauta? Além de ser uma boa jogada de marketing (já que abriria campo para produtos femininos), amenizaria a impressão machista que fica cada vez que nós mulheres, assistimos ao jornal. Fora esse pormenor, mais um programa cinco estrelas no meu conceito. Ele é exibido às segundas a partir das 22h15.

Este parágrafo será para falar de todos os vespertinos. Para mim, estão na mesma situação: de pouca (pouquíssima, quase nenhuma) qualidade. São programas de reprises, culinários, de baixarias, fofocas, casos insólitos e mais outras cositas imprestáveis que nem preciso citar, pois já sabem do que falo. Não é possível que nada possa ser feito, mas se há telespectadores que buscam este tipo de programação, nada há o que fazer. Resta desligar a TV e ler um livro (sim, é a campanha da MTV – sou adepta dela).

Por falar na MTV brasileira, não posso esquecer do 15 minutos, apresentado por Marcelo Adnet e Kiabbo. Um programa com uma proposta muito simples que fala o que todo telespectador gostaria de falar na MTV. Considero um ombudsman (a ouvidoria) da emissora. Dispensa qualquer outro comentário, é brilhante (mas ainda acho o Kiabbo muito sem graça) e tem o dom de nos fazer pensar sobre o “hum dê rum dê” da MPB ou rir em meio ao “furfle feelings”.

Domingo, de um modo geral, continue no churrasco ou dormindo depois da balada que você não perde nada! Qualquer dúvida, pergunte ao novo guru da televisão brasileira: a Maísa. Se for chover, se for fazer prova, se for arranjar emprego, pergunte a ela, oras! O futebol é enfastiante, assim como os animadores da tarde – um show de sensacionalismo, piadas insossas e lágrimas.

A TV Cultura é excelente em grande parte de sua programação. Quanto a programas infantis, devo dizer que alguns não são educativos, mas “emburrecedores”. O Jornal da Cultura, apresentado por Heródoto Barbeiro e Michele Dafour possui profundidade, inovando, trazendo entrevistas ao vivo com um tema que está em voga, banindo a bancada, com um vocabulário mais elaborado (não suporto programas que subestimam a inteligência do telespectador). É um bom diário, apesar da aparente falta de investimento.

Sei que a televisão já nasceu como instrumento de entretenimento, mas é inegável a deficiência de alguns setores do meio. E é arcaico o pensamento de que somos tão burros a ponto de aceitar esta programação de gosto duvidoso (ou somos?). Cabe a nós, consumidores desse meio de comunicação, exigir maior qualidade.

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