A Culpa é das Estrelas

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Sabe aqueles livros tão populares que ultrapassam o status de best-seller e você começa a vê-los não só em livrarias, mas também em bancas de jornal, hipermercados, e até lojas de conveniência em postos de gasolina?

Marley e Eu, A Cabana e O Código Da Vinci são alguns exemplos clássicos. Normalmente a gente desconfia, já que nesse fenômeno entram coisas como Crepúsculo e 50 Tons de Cinza. Mas de vez em quando surgem alguns que estouram assim por serem realmente legais, como A Menina que Roubava Livros e, mais recentemente, A Culpa é das Estrelas, do Vlogbrother John Green.

Trata-se de mais um representante da temida categoria young adult, e de novo um romance. Ele conta a história de Hazel Grace, uma menina de 16 anos que tem câncer de tiróide. Seu estado é terminal, mas ela se mantém viva graças a um novo medicamento experimental. Só não se sabe até quando. Afastada de seus antigos amigos e deprimida, Hazel frequenta um grupo de apoio para jovens com câncer, onde conhece Augustus Waters, de 17 primaveras, um rapaz que costumava jogar basquete, até que perdeu uma perna para o Osteosarcoma. Os dois rapidamente se aproximam e acabam por mudar as vidas um do outro.

Eu não sou grande fã de romances adolescentes e também não costumo curtir esses livros que usam o câncer como plot device para criar drama. Além disso, narradoras femininas escritas por homens frequentemente falham em ser relacionáveis para mim. Ou seja, este livro tinha tudo para ser completamente chato e/ou genérico. E talvez seja exatamente por isso que A Culpa é das Estrelas agrada. Ele é surpreendentemente legal!

É uma leitura muito agradável: bem construída e ao mesmo tempo extremamente fácil, e carregada com a nerdice do autor. Apesar de uma ou outra surpresinha, você já sabe mais ou menos no que vai dar desde o começo. Assim, o verdadeiro charme acaba sendo o desenvolvimento de Hazel e Gus, e não a progressão dos acontecimentos em si.

Hazel é sarcástica e um tanto amarga, mas ainda tem sua forma de otimismo, seu senso de beleza e seu entusiasmo. Eu não entendo porque tantos autores acham que todo personagem com um pouco mais de franqueza também tem de ser cínico e desagradável, e é sempre bom quando este estereótipo é quebrado. Gus também vai contra diversos tropes. Os dois providenciam boas reflexões sobre a amizade, os relacionamentos, e a irritante condescendência a que os cancer kids, como Hazel os chama, são submetidos. Tudo regado a muito humor negro.

Eles são eloquentes e filosóficos demais para a idade, mas isso é facilmente perdoável, e permite algumas referências mais clássicas para misturar com as alusões a V de Vingança e 300. O título A Culpa é das Estrelas, por exemplo, é referência ao Júlio César de Shakespeare, e Uma Aflição Imperial, o livro fictício que é o preferido de Hazel, tira seu título de um poema de Emily Dickinson.

Balanceando o clima adolescente com essa maturidade forçadamente adquirida dos personagens, ele consegue a façanha de fazer um livro de tema tão complicado ser leve, irreverente e teimosamente fofo. Perto do final as coisas vão ficando mais sofridas, então se livros costumam te arrancar lágrimas, é bom já preparar os lencinhos. Mas se você for mais difícil de comover, não se preocupe. Ele ainda consegue evitar a pieguice.

Por ser citado à exaustão internet afora e elogiado com os mais exagerados adjetivos (acho que só perde para As Vantagens de Ser Invisível neste quesito), é provável que ele enjoe bem rápido ou que não atenda às altas expectativas, mas isso não tira o mérito de que foi um livro bonito e bem escrito, que injetou alguma esperança no malfadado gênero de romance young adult.

E – surpresa! – a adaptação cinematográfica já está a caminho, com previsão de chegar em junho de 2014. Shailene Woodley e Ansel Elgort foram escolhidos como os protagonistas e as gravações já estão acontecendo, com uma supervisão bem próxima do próprio John Green, que também vai fazer uma ponta. Vamos esperar e ver se o filme vai manter os predicados do livro.