Bem-vindo à nossa crítica Amor Sublime Amor, versão do seu Steven SpielbergAmor, Sublime Amor ou, como também é conhecido por aqui, West Side Story, é uma peça que em 1961 virou um filme muito famoso e premiado. Mesmo que você nunca tenha visto o dito-cujo, com certeza já viu paródias e referências. Sabe aquela cena super batida, das duas gangues rivais que ficam se encarando enquanto estalam os dedos? Então, é daqui. Ou melhor, é dali. Mas também está aqui. Aliás, é a cena que abre este filme.

CRÍTICA AMOR SUBLIME AMOR

Amor, Sublime Amor conta uma história que se passa em West Side, em Nova Iorque, daí o título em inglês. O bairro está passando por reconstruções e as pessoas estão sendo despejadas, ou “convidadas a se mudar”. Nesse cenário tenso, há duas gangues brigando por territórios. Elas se odeiam com todas as forças porque – e isso é uma citação literal do filme – “eles não se parecem com a gente”. Suspiro. Ah, esses estadunidenses xenófobos.

Para mim, a proposta já começa a sofrer por aí. E fica ainda pior porque para mim as duas gangues parecem ser compostas pelas mesmas pessoas. São todos homens, magros, altos e bonitos. Ou seja, os típicos galãs de Hollywood. Sim, uma das gangues é composta de latinos, mas você sabe, aqui no Brasil latino é considerado branco, então a gente não vê tanta diferença de cor de pele quanto os estadunidenses. Lembra aquela cena de Bacurau, em que os brasileiros dizem para os gringos que são brancos e os estrangeiros começam a rir? Aqui é mais ou menos a mesma coisa, mas ao contrário. Tipo: “mano, todos vocês são brancos. E são exatamente do mesmo biotipo!”.

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Olha só que turma mais perigosa e homogênea. Você sabe qual lado é qual?

Mas o mais importante aqui não é essa rixa racial entre galãs pálidos e galãs ligeiramente mais bronzeados. Afinal, esta é uma história de amor. O que realmente importa é que, no meio desse cenário todo, um membro da gangue dos brancos se apaixona por uma latina. E ela contribui. Ooooo, amor proibido. Como os Montéquios e os Capuletos. Aliás, literalmente.

ROMEU E JULIETA

Talvez você já saiba isso, mas é necessário dizer: Amor, Sublime Amor simplesmente traz a história clássica de Romeu e Julieta para os EUA dos anos 50. Tem várias cenas aqui que você conhece da peça de Shakespeare ou de suas muitas versões. A da varanda, por exemplo. E outras, claro, mas por motivos de spoiler, limitar-me-ei aqui a citar apenas a da varanda.

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Romeu e Julieta.

Amor, Sublime Amor é também um musical. Mas nesse aspecto até é bem diferente do esperado. Musicais costumam tender para o humor, e este é bem sério e dramático. Outra diferença bem bacana é o enorme foco que este filme traz à dança. Isso o torna tão legal quanto um clipe clássico do Michael Jackson, pois sempre temos dezenas de pessoas dançando de forma sincronizada e belíssima.

Inclusive, muitas cenas são apenas danças, com músicas instrumentais, que não avançam a história. Dança pela dança, eu diria. E são as melhores partes do filme. Eu gosto muito do estilo do Spielberg, e a direção aqui é bela e segura.

Os planos são longos, o que torna fácil acompanhar a coreografia. E os ângulos também são muito bem escolhidos e nada óbvios. Spielberg opta por filmar algumas danças de uma altura baixa, o que deixa tudo bem estiloso e intimista. E daí, quando você está se acostumando, o foco abre e você vê dezenas de pessoas dançando. É realmente muito bonito.

CRÍTICA AMOR SUBLIME AMOR E AS LEGENDAS

Uma coisa que me incomodou muito foi a legendagem. Acontece que a tradução das músicas nas legendas simplesmente não corresponde ao que está sendo cantado. Exemplo: tem uma música que a moça está falando de nenês, e a legenda fala de furacão. E não, isso não é uma piada, acontece mesmo.

Suponho que tenham optado por usar nas legendas as letras que as músicas têm em sua versão dublada. Mas foi uma péssima ideia. Se você tem algum conhecimento de inglês, vai logo perceber a dissonância entre a palavra escrita e a cantada, e isso faz com que não dê para entender nada. Eu acabei optando por parar de ler as legendas quando os personagens começavam a cantar.

Crítica Amor Sublime Amor, Amor Sublime Amor, Spielberg, Steven Spielberg, West Side Story, DelfosOutro problema na legenda é que boa parte do filme é falado em espanhol (sem exagero, de 10 a 15% dos diálogos). Tem cenas inteiras faladas em espanhol. Porém, a legendagem traduz apenas o que é falado em inglês.

Some isso a um roteiro que reflete a mente de um estadunidense que nunca falou com estrangeiros. Os personagens latinos combinam inglês com espanhol o tempo todo, usando os dois idiomas em todos os diálogos. Algumas vezes eles falam a mesma frase nas duas línguas (pois é, lembrou quando o Call of Duty veio ao Brasil: “ele foi atingido! He’s been shot!”), mas em geral as frases se complementam, tornando tudo importante para a total compreensão da cena. Isso dá um tilt na cabeça, especialmente se você tentar entender mesmo o que não é legendado.

ROTEIRO X FILME

Eu costumo dizer que para mim o mais importante de um filme é o roteiro, a história em si. E tanto pela indecisão bilíngue quanto por contar uma história extremamente batida, nesse aspecto Amor, Sublime Amor é muito ruim.

Porém, se esquecermos a história, e o encararmos como um videoclipe de 2h30m, é muito bom. Sim, longo demais, é verdade. Mas as músicas são boas, as danças são legais e a direção é excelente. O problema é a história a que essas coisas servem, que acaba arrastando tudo para baixo. O resultado, veja só, é um filme nada.