Invencível

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Invencível é o segundo longa-metragem dirigido por Angelina Jolie (o primeiro foi Na Terra de Amor e Ódio, de 2011), e, após assisti-lo, fica bem clara a sensação de que ela está muito a fim de ganhar um Oscar. Vale lembrar que ela já tem um de atriz coadjuvante por Garota, Interrompida (1999), mas agora ela quer um de direção.

O longa conta a história real de Louis Zamperini, sério concorrente ao posto de pessoa mais azarada de todos os tempos. Sente só: o cara era um promissor atleta olímpico, que estaria no auge de sua forma e provavelmente levaria o ouro no atletismo nos jogos de 1940, que foram cancelados devido à 2ª Guerra Mundial. O cara vai então para o conflito como parte da Força Aérea dos EUA e, durante uma missão de resgate, seu avião cai no mar.

Ele e alguns colegas sobrevivem, mas passam mais de 40 dias à deriva em um bote salva-vidas lutando para não virar petisco de tubarão. Eis que eles finalmente são resgatados… pelos japoneses. Zamperini vai então direto para um campo de prisioneiros de guerra, e o comandante do lugar, um sujeito sádico, fica de marcação com ele. Ao invés de mandar um “você não vai com a minha cara?” para o truta, Louis apenas resiste como pode, mostrando que o espírito humano é invencível. Escorreu até uma lágrima depois dessa sinopse.

Este é um típico oscarizável, que se utiliza de uma história cheia de sofrimento e ao mesmo tempo enaltecedora (exatamente como os velhinhos da academia tanto gostam) e, ao invés de conferir a ela sentimento real, apenas usa a grande miríade de clichês desse tipo de produção, seguindo à risca a cartilha das produções do gênero, deixando tudo mecânico e sem alma, tudo milimetricamente calculado para arrancar emoções artificiais do espectador.

O pior é que realmente poderia sair um bom filme disso. A história do cara, por mais inacreditável que possa parecer, tem diversos momentos realmente bacanas, com fortes cargas dramáticas. Um diretor mais preocupado em contar um bom enredo e menos em concorrer a um careca dourado, poderia extrair bem mais do que é apresentado.

Jolie tem talento atrás das câmeras. A sequência inicial, mostrando um combate aéreo, é bem impressionante na tela grande. E toda a parte dos sobreviventes à deriva no mar é boa, incluindo uma tomada específica envolvendo um tubarão que ficou linda. Mas ela rapidamente se rende ao feijão com arroz do estilo, tipo interromper a narrativa principal para mostrar flashbacks desnecessários da infância do protagonista e coisas do gênero.

Isso dá uma quebrada no ritmo e várias passagens não são tão interessantes, deixando o todo bastante irregular. Para completar, a última parte, no campo de prisioneiros, descamba de vez para o maniqueísmo bobo e o dramalhão descarado. É bastante exagerado, a ponto de beirar o caricato.

É uma pena, pois o filme realmente começa bem, mas vai caindo de qualidade à medida que seus 137 minutos vão avançando. É de estranhar também o nome dos irmãos Coen no roteiro. A dupla, responsável há pelo menos uns 25 anos por alguns dos filmes mais bacanas (e às vezes esquisitões) do cinema dos EUA, não conseguiu deixar esse roteiro menos quadrado e padrão. É no mínimo muito estranho a dupla estar creditada como roteiristas dessa produção que não tem nada a ver com a estética deles.

Seja como for, Invencível, do jeito que ficou, é apenas mais um entre tantos longas com a pretensão de ser indicado e receber um careca dourado. Se isso vai ou não acontecer, saberemos nos próximos meses. No meio desse filão de oscarizáveis, não é o pior a dar as caras, mas também está longe dos melhores. Acaba, desta forma, na parte carnuda da mediocridade. Por conta disso, acho difícil recomendar isso para alguém. Deve ter coisa melhor em cartaz.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
invencivelPaís: EUA<br> Ano: 2014<br> Gênero: Drama/Cinebiografia<br> Duração: 137 minutos<br> Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson<br> Elenco: Jack O’Connell, Garrett Hedlund, Domhnall Gleeson e Jai Courtney.<br> Diretor: Angelina Jolie<br> Distribuidor: Universal<br>