Teenage Mutant Ninja Turtles

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Uma década, esse é o tempo que faz desde que as Tartarugas Ninja, grandes ícones dos anos 80 e início dos 90, sumiram dos videogames e fliperamas com seu último jogo (saiu em 1993 para Super Nes, Nintendo e Mega Drive), o Teenage Mutant Ninja Turtles: Tournament Fighters.

Nesse tempo, muita coisa colaborou para o sumiço dos répteis mais queridos do planeta: o fim do desenho clássico, algumas ações infelizes de marketing por parte dos estúdios responsáveis, uma nova série meia boca com atores reais e, principalmente, o fim da febre ninja que estourou mais ou menos na metade dos anos 80. Mas agora, em pleno século XXI, os estúdios Fox ressuscitaram as tartarugas com um novo desenho, uma nova linha de produtos e, obviamente, um novo jogo desenvolvido pela mesma Konami que criou os excelentes jogos com a marca há quase 15 anos atrás.

Para quem não se lembra destes clássicos, vale a pena refrescar a memória: em 1989 as Tartarugas Ninja viraram uma febre mundial (pretendo escrever uma matéria relembrando este momento em breve aqui para o DELFOS) e para coroar esta fase, a fabricante japonesa, Konami, que então vivia seu auge financeiro e criativo, soltou para o Nintendo um side-scrolling (ou seja, com ação lateral 2D), sem grandes novidades, e um outro jogo para fliperama que praticamente redefiniu o conceito de multiplayer (com até quatro jogadores simultâneos, cada um com uma tartaruga) e ajudou a popularizar o estilo de jogo que ficou conhecidos como beat´em up, ou seja, andar e sair na porrada, mas desta vez em um ambiente “pseudo 3D” onde você também poderia se mexer verticalmente na tela, não só horizontalmente.

Vale lembrar que Teenage Mutant Ninja Turtles não foi o pioneiro deste gênero, o também clássico Double Dragon saiu 2 anos antes, mas o jogo das tartarugas alcançou um sucesso absurdo por unir com perfeição a ótima utilização da franquia com uma parte técnica impecável pois também contava com vários efeitos sonoros tirados diretamente do desenho, uma dublagem especial onde cada chefe de fase soltava uma frase antes do confronto e a maravilhosa trilha sonora original que embalou uma geração inteira de jovens jogadores (“Heroes in a half Shell… tanranran”). Lembro-me quando o fliperama chegou ao Brasil em 1989, filas enormes se formavam para testar a máquina no único shopping de São Paulo que a possuía, o Morumbi, mais ou menos 6 meses depois do lançamento nos EUA.

Mas esse assunto fica para outra hora. Vamos deixar a nostalgia de lado e falar um pouco sobre o novo jogo, lançado no final do ano passado para Playstation 2, Gamecube, X-Box e PCs, além de uma versão diferente e mais simples para Gameboy Advance. A primeira coisa que todos vão notar assim que ligarem seus respectivos videogames (ou computadores) é a utilização questionável da franquia, totalmente baseada na nova série animada das Tartarugas Ninja, bem diferente do desenho original e esquecendo muitos personagens clássicos. Infelizmente, nada dos carismáticos Rocksteady, Bebop e Krang (o famoso chiclete mastigado), figurinhas marcadas dos antigos cartuchos, mas que não puderam dar as caras aqui por problemas judiciais (também pretendo explicar isso na matéria que deve sair em breve). Em compensação temos novamente as quatro tartarugas com suas respectivas armas, o mestre Splinter, April, Baxter e o Destruidor, além do chatão Casey Jones e sua máscara “quero ser o Jason”.

Outra coisa é que a Konami preferiu não reinventar a roda e seguiu a velha fórmula da jogabilidade beat´em up em um ambiente 3D renovado, onde você pode andar em todos os sentidos e, teoricamente, com maiores possibilidades. Uma idéia estranha já que o gênero andou saturado e em baixa por um bom tempo até desaparecer do mercado há alguns anos. Mas no novo jogo temos tudo conforme manda o figurino: a possibilidade de se jogar com as 4 tartarugas, cada qual com sua própria arma, as longas fases divididas em sub-níveis repletos de inimigos e o tradicional chefão no final, ou seja a casca mudou mas a gema do ovo continua a mesma.

Apesar da idéia dos velhos desafios com uma nova roupagem soar interessante, a estréia das tartarugas na nova geração acaba sofrendo de um mal criado por elas próprias há mais de uma década: fases repetitivas em excesso. A questão é que os jogos antigos, apesar de não serem nada originais (salvo a exceção do primeiro jogo de arcade, que realmente inovou e criou sua legião de seguidores), tinham doses altas de diversão porque faziam um bom uso da franquia e exploravam ao máximo todos os personagens, amigos e inimigos das temporadas do desenho da televisão, dos três filmes para o cinema, das HQs e até alguns outros criados exclusivamente para os jogos, tudo com gráficos e sons realmente surpreendentes para os padrões da época (e que ainda são bons até hoje). Já a nova empreitada sofre por se basear apenas na primeira temporada do novo desenho e isso significa uma pequena variedade de inimigos (sem brincadeira, no jogo inteiro, você provavelmente não vai encontrar mais de uma dúzia de inimigos diferentes, fato lamentável nos dias atuais) e muita, mas muita encheção de lingüiça mesmo, com fases longas, cansativas e uma parte técnica, digamos, datada.

Não temos uma histórica concisa. Cada fase representa um episódio da primeira temporada com um chefão no final e trechos retirados diretamente do novo desenho entre cada etapa para resumir um pouco o que está acontecendo (o que é bem legal, visto que ultimamente é cada vez mais raro vemos jogos que trazem cenas em filmes ou desenhos animados).

Para complementar o engodo, os gráficos são razoáveis, com bons modelos para as tartarugas e para os inimigos. Os cenários foram feitos em um 3D bem tosco com muitas cores, mas poucos detalhes e péssimas texturas, além de serem repetitivos demais para os padrões atuais. Os chefões de fase, normalmente, são mais interessantes, especialmente os que ocupam quase o tamanho da tela. A trilha sonora é fraca se lembrarmos as belíssimas composições que embalavam o jogo original de fliperama e sua continuação, Turtles in Time. Uma pena que a Konami não reaproveitou muitas daquelas músicas em troca dos sons do desenho novo.

A jogabilidade é igualzinha aos velhos jogos do estilo: um botão pula, outro dá o golpe e um terceiro solta especial. Apenas tivemos a inclusão de alguns combos e algumas seqüências que resultam em movimentos diferentes a la Street Fighter, mas nada do outro mundo, já que muitos jogos dos anos 90 já utilizavam o mesmo recurso. Os inimigos são fáceis e previsíveis, com exceção de um ou outro sub-chefe ou chefe mais apelão, mas todos têm seus próprios esquemas que você não deve demorar muito para descobrir.

No final das contas, tivemos uma volta burocrática das Tartarugas Ninja com um jogo que não soube se adaptar aos novos tempos e honrar o histórico do antigo e inovador fliperama: é, infelizmente, apenas mais um entre tantos outros lançamentos. Só compre se você for muito fã do novo desenho das tartarugas, ou se, como o Carlos aqui do DELFOS, morre de saudade dos beat´em ups de outrora.

Vale lembrar que, apesar das críticas negativas gerais, a Konami já anunciou o lançamento do segundo game dessa nova “série” baseada no novo desenho para o final de 2004. Vamos torcer que neste novo lançamento, a empresa tire um pouco de criatividade da cartola e invista em algumas novidades para que a decepção não volte a ocorrer.

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