Far Cry

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Depois de tanta expectativa, finalmente consegui colocar as mãos em um destes “jogos da próxima geração”. Depois de um ano vendo fotos e vídeos embasbacantes, pude experimentar a sensação de viajar ao futuro dos jogos de tiro com este Far Cry.

Infelizmente, a viagem teve algumas turbulências logo na sua instalação. Além do espaço absurdo ocupado no HD, mais de 3 gigas. Todo o processo de instalação levou quase 30 min (e olha que tenho um Pentium 4 2.8), mas finalmente pude jogar o primeiro FPS (First-Person Shooter, ou jogos de tiro em primeira pessoa) da próxima geração, o jogo que seria revolucionário e surpreendente em sua complexidade. Como vocês podem perceber, eu coloquei bem claro um “seria” porque, na verdade, Far Cry não é nada disso.

A estória é totalmente chata e batida. Você é Jack Carver, um marombeiro (santa originalidade) dono de uma empresa de aluguel de barcos que é contratado para levar uma misteriosa mulher até uma ilha tropical. No caminho seu barco é atacado, a tal mulher é sequestrada e você está sozinho nessa ilha onde coisas estranhas acontecem. É tudo uma grande mistura de Half-Life, Soldier of Fortune e Doom com pitadas de Jurassic Park. Mas tudo se desenvolve de uma maneira tão lenta e os personagens são tão estereotipados e bobos que você nem presta atenção no que está acontecendo. Fica aquela impressão de uma grande desculpa para a matança desenfreada!

Na parte técnica, comecemos pelos falados gráficos. Sim, eles são bem feitos. Todos os personagens são extremamente detalhados e as movimentações são excelentes, mas eles não são muito variados. Ok, os tipos humanos até que têm uma coisinha ou outra diferentes (cor da pele, chapéu, detalhes nos uniformes) mas, no geral, são todos bem parecidos. Já os monstros são iguais o jogo todo. De fato, você passa o tempo enfrentando quatro tipos diferentes de inimigos: Um humano padrão e três tipos de monstros mais para frente, sendo que um deles, o maior, é uma cópia descarada daquele alienígena grandão com uma arma no braço do Doom 2 (sem brincadeira, é uma cópia mesmo!). Os veículos sim, são bem feitos e interagem perfeitamente com o ambiente, inclusive quando você os destrói. Tudo graças ao sistema físico implementado.

Este sistema, que é o mesmo do Max Payne 2 (já resenhado aqui na Delfos em 3/2/2004), se destaca pela total interatividade com o ambiente. Tudo reage de uma maneira “física” próxima da realidade, inclusive os modelos dos personagens e inimigos. Por exemplo, se você empurrar um tonel ladeira abaixo, ele vai ganhando velocidade até se chocar contra algum objeto podendo quicar e dependendo do ângulo de inclinação, parar lentamente. Ou se você atirá-lo em um lago ele irá boiar dependendo da força com que foi parar lá. Quem já jogou Max Payne 2 sabe exatamente do que estou falando e posso afirmar que este é o grande diferencial do jogo. Afinal trata-se do primeiro FPS a utilizá-lo (o Half-Life 2 irá usar um sistema ainda mais sofisticado quando for lançado).

Os cenários são enormes, muito bonitos, e prepare-se para se perder em meio a densa vegetação se você não conseguir entender o radar. Aliás a ilha é cheia de detalhes e lugares escondidos. Mesmo o fundo do mar (que tem um belíssimo efeito gráfico na água) possui suas características com algas e veículos destroçados.

Mas (sempre tem o mas…), você só terá tudo isso tiver um belo computador. No mínimo um Pentium 4 2.0 com 512 de Ram e uma placa de vídeo GeForce 3 para cima, senão dá-lhe retirar os detalhes para conseguir uma velocidade satisfatória.

A jogabilidade é aquela clássica e tradicional dos FPS modernos com o famoso sistema WASD para controlar o personagem e o mouse controlando a mira. As armas não são muito originais também. Basicamente você terá uma faca, uma pistola, uma espingarda calibre 12, uma sniper, alguns tipos de submetralhadora (com zoom ou não), um fuzil e uma metralhadora “ignorante”. Nada de novo. São os mesmos tipos de armas que você já encontrou em Counter-Strike, Unreal, Max Payne e por aí vai.

As músicas do jogo passam praticamente batidas. Aliás, já fazem alguns anos que não vejo músicas interessantes em jogos de computador a não ser alguns tradicionais remakes em jogos da série Star Wars. Será que as produtoras não estão desembolsando a verba suficiente para essa parte tão importante dos jogos? Uma música bem colocada é capaz de inserir o jogador no clima da estória, mas o que se percebe em Far Cry é aquela tradicional trilha sonora que, no momento em que você desliga o computador, se esquece do que estava ouvindo. Uma pena, sem dúvida.

Os sons são um pouco mais interessantes. As armas possuem seus barulhos característicos muito bem digitalizados e os soldados inimigos se comunicam por rádio com vários scripts diferentes. De resto são os grunhidos de monstros mutantes e barulhos de helicópteros e jipes que você já deve estar cansado de ouvir.

O grande problema de Far Cry, tirando a sua estória manjada e os gráficos exigentes, é o seu alto grau de dificuldade. Se você for um jogador impaciente, simplesmente passe longe, pois este é um dos jogos mais apelões lançados recentemente, daqueles de você puxar os cabelos se perguntando por quê diabos os programadores colocaram tantos inimigos em determinadas partes. Para piorar ainda mais, contrariando as tendências modernas, ele não permite quicksaves. Você só salva em determinados pontos chaves da fase e não adianta reclamar, se morrer tem de voltar tudo mesmo. Ou seja, é sempre bom tomar uma colher de maracujina (merchandising grátis) antes de encarar as longas missões.

Medindo na balança da Competência X Mediocridade, concluo que o jogo está bem equilibrado. É uma pena, pois Far Cry tinha tudo para ser excelente mas os programadores acabaram abusando dos clichês na estória insossa e na dificuldade exagerada. Jogue Far Cry (mas tome maracujina antes) apreciando seus belos gráficos e torcendo para que os próximos jogos desta geração tão promissora sejam, ao menos, mais criativos.

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