Top 5: Memória afetiva

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A inspiração para um texto pode vir de vários lugares diferentes. Às vezes de uma conversa, às vezes de um e-mail ou até de uma fantasia sexual-alimentícia (hum… ruivas com bacon…). No caso deste, veio de um sonho, onde alguém me perguntava se eu não tive uma Telefunken. Acordei logo em seguida com a idéia de um Top 5 relembrando coisas legais do passado, que muitas vezes nem eram tão legais assim, mas que ainda são lembradas com carinho por este que vos escreve. É fato, nerds estão entre as criaturas mais nostálgicas da Terra (seguidos de perto pelos ursos panda). Então relembre comigo algumas das coisas legais dos anos 80 e 90 e depois conta pra gente pelo que você tem memória afetiva.

MENÇÃO HONROSA: TELEFUNKEN

Acabei chegando a outras cinco coisas pelas quais tenho mais carinho do que por isso, mas não podia deixar de homenagear aqui a inspiração para o texto. Para quem não sabe ou não lembra, Telefunken era uma marca de televisão muito popular nos anos 80, mesmo que suas TVs fossem bem ruinzinhas. Ou pelo menos assim é como me lembro dela.

A primeira TV que pude chamar de minha era uma Telefunken (que havia sido abandonada pelo restante da família) e ela era uma porcaria, além de ter esse nome horrível. Demorava para ligar e não tinha controle remoto em uma época em que todo mundo já tinha TVs com controle remoto. Além disso, no painel, ela tinha um botão diferente para cada canal, nada daquele +/- que é popular hoje em dia.

Lembro do dia em que ganhei meu Master System (meu primeiro videogame), a dificuldade que foi ligá-lo naquela TV pré-histórica. Ao mesmo tempo, lembro da alegria que senti quando a imagem e a musiquinha do game Safari Hunt (um dos dois jogos divulgados que vinham na memória – tinha também um “secreto”, o labirinto) apareceu na tela. Foi mágico. *-*

Apesar de, na época, eu odiar essa TV por ela já estar muito ultrapassada, hoje tenho boas lembranças dela. Foi em sua telinha que assistia a coisas que adorava, como Jirayia e Changeman, vários clássicos da Sessão da Tarde (que só não entrou na lista porque já fizemos um grande especial sobre isso), além de ter sido nela que joguei pela primeira vez games que se tornariam grandes clássicos (ou pelo menos grandes preferidos meus), como Double Dragon, Alex Kidd in Shinobi World e Black Belt. Cara, que saudade da minha Telefunken.

Ah, se você quer saber o que aconteceu com a marca, ela estava decadente em 1989 e foi comprada pela Gradiente, que na verdade estava interessada é na fábrica. Assim, matou a marca e utilizou a dita-cuja para lançar suas próprias televisões.

5 – PICA-PAU NAS CATARATAS

“Ei, volte aqui com meu barril!”. A cada cinco episódios do Pica-Pau, o SBT reprisava esse. O resultado é que absolutamente todas as pessoas do Brasil inteiro já viram esse episódio (quer apostar que vai aparecer um carinha nos comentários e dizer que ainda não tinha visto?) e ele se tornou um dos preferidos de todos. Não há nerd que não se lembre do carinha descendo as cataratas num barril enquanto a turminha da capa de chuva faz “Yaaay!”.

O curioso é que esse episódio não mostra o Pica-Pau malvado de sempre. Ele não está sacaneando ninguém, ele só quer descer as cataratas em um barril. Achei que quando eu reassistisse ao episódio, depois de tantos anos, ia rolar aquela decepção, mas ao contrário. Ainda hoje, ele é engraçado. Confira abaixo e mate as saudades. Yaaay!

4 – SEU MADRUGA

Ele é headbanger, ele é mutante, ele é um filósofo. Ele é… tantantan… o Seu Madruga. Independente do fato de você ser nerd ou não, homem ou mulher, acredito que a série Chaves é onipresente na memória afetiva de todo brasileiro, em especial o Seu Madruga e seus “que que foi, que que foi, que que há?”.

O típico perdedor caloteiro, que apanha de todo mundo e está eternamente com 14 meses de aluguel atrasado para o também tremendão Seu Barriga. Talvez o fato de ele ser tão absurdamente perdedor é o que contribui para o carisma do personagem. Como diz no Clube da Luta, nós somos educados para acreditar que seremos ricos e famosos, mas não somos. Na verdade, pouco nos separa realmente do Seu Madruga.

Pô, o sujeito é tão popular que uma busca por imagens do sujeito revela montagens que o colocam como um Super Sayajin, no ataque do World Trade Center, em capas do Iron Maiden e nas mais variadas e inusitadas referências da cultura pop. Até Racionais o cara já cantou!

Assistindo à série hoje, ao contrário do desenho acima, eu já não me divirto mais, mas a memória afetiva permanece e sempre vou lembrar com carinho das tardes que passei assistindo à dobradinha Chaves e Chapolim. Uma época em que Acapulco era um lugar mágico, que eu nem fazia ideia de onde ficava. Sigam-me os bons!

3 – ATARI 2600

Esse é um que quem não viveu a época não vai entender direito. Hoje as crianças já crescem sabendo da existência de videogames e outras coisas que se ligam na TV. Mas no início dos anos 80, aqui no Brasil, TV era um aparelho independente (ao contrário de hoje, em que as pessoas compram TVs de alta definição só para jogar PS3 e assistir blu-rays). Um videocassete era caríssimo e o Atari 2600, embora não tenha sido o primeiro videogame da história, foi o primeiro a se popularizar. E era algo como nunca tinha se visto antes.

O Atari que a gente tinha era da minha mãe e eu só podia jogar na presença dela. Assim, eu ficava ansioso esperando ela chegar do trabalho pra gente poder brincar no River Raid, Pac-Man e no meu preferido, Montezuma’s Revenge. O nome deste último era complicado demais para um semi-nenê, então eu o chamava apenas de “detetive”. Claro, a minha mãe me detonava, mas eu não jogava para ganhar, jogava apenas para me divertir. Além disso, ela não perdeu por esperar, pois logo chegou o Master System e daí eu pude ensinar para ela com quantos pixels se faz um personagem de videogame.

Além disso, os jogos eram muito baratos. Era comum eu ir ao shopping com minha progenitora e sair de lá com uns 10 jogos. Claro, eram bem simples, basicamente minigames que não teriam a menor graça hoje em dia, mas era muito mágico ter 10 jogos novos no mesmo dia. *-*

2 – FALTA DE LUZ

Hoje em dia, faltar luz é a pior coisa que pode acontecer. Você não pode trabalhar, não pode jogar videogame, não pode ouvir música. Enfim… toda a nossa vida gira em torno da energia elétrica. Graças a Satã, é muito raro acontecer isso hoje em dia. Mesmo na época do apagão, aqui em casa a gente passou da cota, veio na conta “sujeito a cortes” e, mesmo assim, não cortaram em nenhum momento. De qualquer forma, quando se é um fofo pimpolho ainda não dependente de eletricidade, isso é completamente diferente. Ou pelo menos era para mim.

Era batata (hum… batata…)! Praticamente sempre que tinha uma chuva forte, acabava a luz. E, como quase toda criancinha, eu tinha medo de chuvas fortes, trovoadas e coisas do tipo (sabe como é, manifestações de Odin só se tornam legais depois da sua iniciação ao Metal). Quando a luz acabava então, era pior ainda. Mas isso logo passava, pois era uma coisa que unia a família.

A gente acendia velas e ficava todo mundo na sala brincando de desenhar no escuro. Aí queimava o giz de cera na chama e dava para fazer vários efeitos nos desenhos. Pô, provavelmente foi daí que surgiu minha veia artística não desenvolvida. =]

Enquanto todo mundo brincava, de repente as luzes e a televisão se acendiam, denunciando o retorno da energia. E esse era um momento de alegria e comemoração. Todo esse sentimento é algo que provavelmente nunca mais vai ser revivido e isso pode até ser positivo. Mas é uma memória que eu guardo com carinho, apesar dos inconvenientes óbvios.

1 – BBS

Isso já é mais recente, eu já era adolescente e já estamos falando de algo completamente nerd. Se você não é tão nerd assim e não sabe do que se trata, basta dizer que a BBS era o embrião da internet. Você pagava uma mensalidade para acessar um troço que hoje seria descrito como um portal feio. Cada BBS (ou portal, se assim preferir), era diferente do outro, com conteúdos diferentes e até mesmo preços diferentes. Eu cheguei a assinar dois, a Mandic e a STI.

O padrão era que você pudesse ficar 60 minutos por dia conectado. Quando você ligava, através do seu computador, era comum dar ocupado e demorar muito para conseguir uma conexão. Contudo, essa dificuldade fazia parte do charme do negócio. Era o surgimento de uma nova tecnologia que iria mudar o mundo, pô!

Nas BBSs, você podia baixar arquivos (obviamente todo mundo só queria mesmo saber de pornografia), mas o mais legal mesmo era poder conversar com outras pessoas através do computador. Tá, hoje isso não é nada demais, mas naquela época, como tantas outras coisas nesta lista, era mágico. *-*

Como era algo completamente underground, as BBSs eram habitadas exclusivamente por nerds, geeks e afins, ou seja, só pessoas legais. Contrariando as expectativas, tinha também mulheres – todas nerdas e a maioria bonitas (embora você só descobrisse isso caso fosse se encontrar com ela, já que não existiam câmeras digitais e scanner era equipamento de luxo). E a competição para falar com as moçoilas era enorme, pois assim que elas conectavam, eram inundadas de mensagens dos nerds tarados que atiravam para todo lugar. Era inclusive comum um cueca entrar no chat com nick de mulher para tirar um sarro dos necessitados. E ficar em uma sala privada com uma moça concorrida, fazia qualquer nerd se sentir pintudão.

Na Mandic, o chat era mais chat propriamente dito. Já na STI, se chamava “Conectados”, e era algo muito parecido com o que o MSN é hoje, ou seja, mensagens instantâneas. A STI tem boa parte das minhas memórias afetivas, provavelmente porque foi lá que eu passei momentos mais divertidos.

Lá, existia um joguinho chamado L.O.R.D., que o Bruno resenhou aqui. É até engraçado lembrar quão nervoso coisas banais nesse jogo me deixavam. Coisas como uma das minhas esposas dormir com outro cara, ou alguém usar as cores do meu clã me deixavam realmente bravo, mas acho que essa é justamente uma das graças de um RPG.

Na STI, se você conectasse em “horário nobre” (das 20 às 2, se não me engano), seu tempo seria reduzido a 45 minutos. Após as duas da matina, seria aumentado para 120 ou 90 minutos (não tenho certeza qual). O resultado é que, nas férias, todo mundo conectava exatamente às duas horas e daí que era legal. Era praticamente um ponto de encontro nerd.

Inclusive, lá eu comecei a falar com um sujeito chamado Bruno Sanchez e, só depois de várias semanas trocando idéia, fomos descobrir que já nos conhecíamos e que estudávamos no mesmo colégio. Aliás, o Bruno contou essa história em detalhes no nosso podcast. Depois de descobrirmos isso, nos tornamos mais amigos ainda e era comum esticarmos nossos papos por telefone depois que o tempo online acabava.

É engraçado vermos as pessoas falando que socializar no computador é perda de tempo, mas hoje eu lembro dessas madrugadas conversando com o Bruno e com mais um monte de gente como uma das melhores lembranças da minha vida. É uma pena que logo surgiu a internet e acabou com toda a graça e o charme desses primeiros anos, onde só os realmente iniciados sabiam o que significava a palavra online. Depois do advento da internet, acho que nunca mais entrei em um chat.

Por tudo isso, a BBS leva a medalha de ouro neste Top 5 e, como sempre, convido o delfonauta a dividir com a gente as suas memórias afetivas. Tenho certeza que vários comentários vão me causar aquela sensação de “noooossa, é mesmo, isso era mó legal!”. Então não me decepcione! =]

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