Não tem jeito. Mais que o novo longa-metragem de Ridley Scott, Todo o Dinheiro do Mundo doravante será sempre conhecido como “o filme que já estava pronto quando estouraram as denúncias de casos de assédio sexual cometidos pelo Kevin Spacey e os produtores e o estúdio optaram por limá-lo e refilmar seu personagem com o Christopher Plummer no lugar”.
Enfim, segundo a página do filme no IMDb, essas refilmagens teriam durado oito dias e custado a bagatela de 10 milhões de verdinhas. Um preço pequeno a se pagar para ficar livre de um ator que agora é equivalente a material radioativo.
E por incrível que pareça, este “causo” que para sempre vai cercar o filme acaba sendo a coisa mais interessante a seu respeito. Deixando as polêmicas de lado, tudo que resta é mais um filme da fase recente de Ridley Scott (exceção feita ao excelente Perdido em Marte): é bonitinho, mas ordinário.
Ele é baseado na história real do sequestro de um dos netos de J.P. Getty (Christopher Plummer) na Itália. Getty era, em sua época, o sujeito mais rico do mundo, tendo feito sua fortuna com petróleo. A mãe do garoto (Michelle Williams) recorre ao sogrão para obter os 17 milhões de dólares que os sequestradores querem de resgate e se surpreende quando o velho se recusa a tirar a carteira do bolso.
Acontece que Getty é daquele tipo de rico que enriqueceu sendo extremamente sovina. É o tipo de cara que pode ter sua própria companhia telefônica, mas continua ligando a cobrar para economizar uns trocados. Tipo um Tio Patinhas da vida real, mas trocando o humor pela canalhice.
Ao menos ele coloca um de seus empregados, um ex-espião responsável por sua segurança (Mark Wahlberg) para ajudar a resolver o caso e trazer o moleque de volta. Sem pagar nada, é claro.
Este filme pode ser encarado como uma versão mais séria, com cara de Oscarizável, do divertidão O Preço de um Resgate (1996), da época em que Mel Gibson era maluco só nas telonas. É basicamente a mesma história, apenas com uma pegada mais sisuda e pretensiosa.
Aí entra o fator “Ridley Scott moderno”: é muita forma para pouca substância. O filme é lindo de se ver. Fotografia maravilhosa, enquadramentos caprichados, cenários deslumbrantes, recriação de época meticulosa. Mas todo o resto parece estar no piloto automático.
Ele é até bom, mas muito distante do auge criativo do diretor. Claramente falta mais pegada na condução da história, falta punch. Daí, acaba resultando muito parecido com diversos de seus filmes mais recentes. Até diverte enquanto se assiste, mas não vai ficar na memória como aqueles de seu período áureo. Exceto, claro, pela história do corte do Kevin Spacey, que será mais lembrado que a própria trama da película.
Eu até gostei enquanto assistia, mas já havia ajustado de antemão meu nível de expectativa para um filme de Ridley Scott do nível dos mais recentes. E foi justamente isso que ele entregou. Se você não se incomoda em ver exatamente mais do mesmo que ele vem entregando nos últimos anos, até vale a assistida. Caso contrário, melhor optar por outro programa.