Michelle e Obama

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É fato que os estadunidenses gostam de retratar seus presidentes na telona do cinema. Faz parte da sua cultura tanto quanto seu patriotismo exacerbado que para nós soa apenas estranho e muito cafona.

Seja em cinebiografias tradicionais, que mostram toda sua história de vida até sua ascensão ao poder e à glória, seja em peças que retratam períodos mais específicos, geralmente seu tempo no poder. Ou até mesmo usar de presidentes fictícios como personagens nos mais variados gêneros. Como quer que seja, o comandante-chefe dos USA sempre costuma das as caras na sétima arte.

Contudo, é preciso dizer que esta talvez seja uma das produções mais inusitadas envolvendo um presidente a dar as caras no cinema em todos os tempos. Com o mandato de Barack Obama chegando ao fim, seria natural que aparecesse uma produção que ficcionalizasse sua passagem pela Casa Branca.

Michelle e Obama, no entanto, passa longe disso. Bem longe. É uma cinebiografia, mas se concentra num período bem específico. Aliás, num único dia deveras específico. Senhoras e senhores, para você que sempre quis saber como um jovem Barack Obama xavecou Michelle Robinson, que viria a ser sua futura esposa e primeira-dama, este é o filme que você tanto esperava!

Sim, o filme se pretende a contar como o então estudante de direito chamou sua colega de trabalho para sair num encontro e usou o dom da oratória pelo qual ficaria tão famoso futuramente na política para ganhar a moçoila (que não via com bons olhos relacionamentos entre colegas de trabalho) na lábia.

Fico tentando entender o que se passou na cabeça do roteirista para que ele resolvesse contar essa história em específico envolvendo essas figuras políticas. E ainda mais: o que levou os produtores a acharem que era uma boa ideia dar o sinal verde para colocar este texto em produção.

Seja como for, ele está aí e tem aquele jeitão de telefilme da Lifetime, manja? Que mais parece novela do que cinema e mira num público-alvo composto primariamente por donas de casa.

Eu não sei quanto a você, mas eu não tenho o menor interesse em assistir aos dates dos outros, não importa quão famosos sejam. Logo, mesmo que se trate de um filme bem curto, ele passou bastante devagar para mim. Em vários momentos, acabei olhando para o relógio e isso nunca é bom.

Também usa aquele clichê de em determinado momento dar um vislumbre de qual seria o futuro de Obama, quando ele faz um discurso cativante para os membros de uma comunidade negra de Chicago. E mesmo sendo um recurso manjado, esse talvez seja o momento mais interessante do longa.

No mais, ele de fato cumpre sua proposta. Obama jogando charme e Michelle mais na defensiva, tudo permeado por aquelas conversas com os dois tentando se conhecer melhor e vendo se eles possuem afinidades para justificar um passo além da mera amizade.

Se a vida sentimental dos presidentes dos EUA é algo de seu máximo interesse, então este filme é mais do que recomendado para você, bem como uma sessão de terapia logo depois, pois lamento dizer que você tem problemas. Contudo, se você faz parte do extrato normal da população, Michelle e Obama não passa de uma curiosidade bizarra, mas que não justifica o preço de um ingresso.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
michelle-e-obamaPaís: EUA<br> Ano: 2016<br> Gênero: Cinebiografia<br> Duração: 84 minutos<br> Roteiro: Richard Tanne<br> Elenco: Tika Sumpter, Parker Sawyers e Vanessa Bell Calloway.<br> Diretor: Richard Tanne<br> Distribuidor: Imagem<br>