The Strokes – Comedown Machine

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Os Strokes se encontram num momento de incertezas. Após serem laureados, já no longínquo ano de 2001, como mais um dos inúmeros salvadores do Rock, hoje a situação não poderia ser mais diferente. Após um disco irregular (First Impressions of Earth, de 2006) e um decepcionante (Angles, de 2011), eles precisam desesperadamente de um acerto para manter sua relevância como uma das principais bandas de rock em atividade.

Ao mesmo tempo, este seu novo lançamento, Comedown Machine, é seu último álbum pela gravadora RCA (uma subsidiária da Sony Music). Com isso, o futuro da banda é uma incógnita. Eles podem voltar para a independência, ou acabar de vez caso este disco não seja bem recebido. E se depender puramente de sua qualidade musical, bem, o futuro não parece muito promissor…

Minha primeira audição de Comedown Machine não poderia ter sido mais negativa. Achei o disco péssimo. Fiquei com a impressão de que a banda havia gravado qualquer coisa nas coxas só para cumprir logo sua obrigação contratual. E a capa horrorosa só reforça essa impressão. Mas gosto sempre de frisar, quando se trata de música, geralmente minhas primeiras impressões não são nada boas, e em audições seguintes acabo por mudar completamente de opinião.

Por isso, após passar alguns dias ouvindo o disco várias vezes em nome de uma avaliação justa, apresento o veredicto: Comedown Machine não é a porcaria que achei ao dar play nele pela primeira vez. Mas é muito pouco para levantar a carreira do grupo. É um disco em geral razoável, com algumas músicas boas e outras bem ruins.

Creio que consegui identificar o problema. Ao menos para o meu gosto. Para mim, os Strokes funcionam muito bem como uma banda de um estilo só, tipo um Ramones ou AC/DC. Aquela que faz sempre o mesmo som, mas com muita competência. No caso dos Strokes, me refiro aos Rocks de garagem acelerados com cara de trilha sonora de videogame 16 bits.

Contudo, quando eles querem mudar sua sonoridade, simplesmente não dá certo. Acho ótimo uma banda estar disposta a experimentar e variar, mas eles não têm as manhas. As baladas deles, então, acho um porre de tão chatas. E é isso que faz a qualidade de Comedown Machine despencar. Baladas modorrentas como 80’s Comedown Machine ou Partners in Crime (essa cantada quase toda em falsete) são duras de ouvir. Bem como a Bossa Nova hipster que fecha o disco, Call It Fate, Call It Karma. Ponto positivo pela intenção e negativo pela execução.

E a trash One Way Trigger, com seus tecladinhos cafonas e vocal constrangedor em falsete (hum, seria uma nova tendência?) é daqueles casos de “tão ruim que quase chega a ser bom”. Quem se divertiu muito com ela foram os fãs brasileiros, que tiraram muito sarro por sua incrível semelhança com o Tecnobrega.

Essas músicas acabam por tirar um pouco do brilho das melhores, como Chances, Welcome to Japan (com seu refrão extremamente grudento na parte do I didn’t want to notice / didn’t know the guns were loaded) e aquela que é a minha favorita do disco, a nervosa, punk, e com os vocais de Julian Casablancas soterrados em efeitos 50/50. Essa não faria feio se estivesse no Is This It (2001) ou no Room on Fire (2003).

Mas para você ver que quando a fase é ruim, nada ajuda, ao invés de escolherem uma dessas citadas no parágrafo acima como primeira música de trabalho, optaram por All the Time. Apesar de boa e de ter a cara tradicional do Strokes, não chega a ser uma das melhores do disco.

Comedown Machine, no balanço geral, acaba como um disco de regular para razoável. Os momentos ruins pesam muito contra, mais até do que os positivos. Algumas boas canções se salvam, mas a impressão geral é de que este disco, puramente baseado na qualidade, não é aquele que vai ajudar a levantar sua carreira. E assim, as incertezas continuam. O que acontecerá aos Strokes? Essa é uma pergunta para a qual ninguém parece ter a resposta.