Faith No More – Sol Invictus

0

O comportamento da indústria do entretenimento nos leva ao seguinte questionamento: em qual ano vivemos? As principais novidades envolvem Mad Max, Jurassic Park, Cavaleiros do Zodiaco, Dragon Ball, etc. Integrando todo um universo de franquias renovadas, reinventadas, ressuscitadas e “reebootadas”. Seria a era da comercialização abusiva do fanservice e da nostalgia? Estão tentando ocultar a falta de criatividade? Talvez.

No mundo da música, a situação não é das melhores: bandas consagradas são reduzidas ao papel de covers de si próprias, o mainstream está cada vez mais desinteressante e a cena underground passa por dificuldades. As novas bandas de Rock têm a internet a seu favor enquanto ferramenta sofisticada para o Marketing de boca a boca, mas ainda encontram dificuldades em cativar um público cada vez mais conservador e refratário ao novo.

Neste contexto, Sol Invictus, o novo trabalho de estúdio do Faith No More, pode parecer apenas mais um no bloco da nostalgia excessiva quando na verdade é exemplo de atitude e longevidade. O Faith No More é uma das bandas mais influentes da década de 90, com um repertório calcado no Heavy Metal Alternativo e no Rock Experimental.

A banda alcançou o status de ícone da época em que nadavam contra a corrente – assim como o Tool e o Nine Inch Nails – e este é o seu maior mérito. A inspiração em vários estilos pode ser conferida nos covers de Black Sabbath, Bee Gees, Commodores e até mesmo um mashup com Lady Gaga.

A banda encerrou as atividades em 1998. De lá pra cá, a participação ativa de seus membros em outros projetos – só o vocalista Mike Patton participou do Fantômas, Tomahawk, Peeping Tom, Lovage, etc – sinalizava a impossibilidade de um retorno. Em 2009, voltaram aos palcos e instantaneamente criaram expectativas sobre a produção de material inédito. Sol Invictus veio como resposta.

O intervalo de 18 anos desde o último álbum lançado é o aspecto mais interessante de Sol Invictus. As faixas representam a evolução natural de Angel Dust (1992), King for a Day, Fool For a Lifetime (1995) e Album Of The Year (1997). O tempo parece ter passado na medida certa na cronologia própria do Faith No More ao entregar um trabalho além do esperado e sem se importar em lançar hits. O alto nível das composições comprova (mais uma vez) o vanguardismo da banda.

As faixas apresentadas antes do lançamento do álbum – Superhero, Motherfucker e Matador – desempenham a função de reunir e apresentar todos os seus elementos. Desde a obscuridade da faixa título passando pelos teclados marcantes de Sunny Side Up, pelo experimentalismo em Separation Anxiety e Cone of Shame, pelo refrão empolgante de Rise of the Fall, pela esquisitice lírica na temática consumista de Black Friday e as “mil vozes” de Mike Patton em From The Dead. Cada composição abraça diferentes backgrounds.

Tudo isso sem deixar o bom humor de lado, é claro. Marcado por letras “sem noção” e ciente dos trejeitos do Mike Patton, fica difícil não imaginar o vocalista fazendo caras e bocas enquanto canta “I’ll be your leprechaun”; “It’s a riot at the salad bar/Predatory lenders/Safari mission is far but you paid for them/To kill your mom”; “Get the Motherfucker on the phone, the phone”.

Não precisamos de outros 18 anos para concluir que Sol Invictus é um dos trabalhos mais consistentes do Faith No More. Além de se unir à galeria de outros trabalhos ousados e inovadores, é um bom repertório para a turnê. Vencer a prova do tempo à sua própria maneira é louvável e a recompensa é outro álbum do ano.