Stubbs the Zombie – Rebel Without a Pulse

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Jogos onde se joga com o personagem que seria o vilão são extremamente raros. Assim, de sopetão, me lembro apenas de três: Rampage, onde você controla bichos gigantes que destroem a cidade, aquele jogo de Mega Drive do Frajola onde o objetivo é pegar o Piu-Piu e este Stubbs the Zombie, um dos jogos mais divertidos que já joguei.

Você controla Stubbs, um zumbi que não é apenas simpático, mas é também o que dá origem a todos os outros. Assim como nos filmes de George Romero, não é explicado porque Stubbs saiu do túmulo. Ele apenas saiu e está faminto pelo seu prato preferido: Miolos, baby!

Ao contrário de praticamente todos os jogos de zumbi que já foram lançados, aqui o clima não é de terror. Muito pelo contrário, este game é incrivelmente engraçado (repare no rasgo que ele tem na calça – dá para ver que Stubbs usa a tradicional cueca branca com bolinhas vermelhas) e, vejam só, até bonitinho. O final, então, é uma das coisas mais românticas que já foram mostradas em um games. É de gargalhar. Fique ligado também para referência a filmes, como quando Stubbs faz um discurso de guerra para seu batalhão de zumbis em frente à bandeira dos EUA. O que ele fala? Ora, a única coisa que zumbis sabem falar (e ele o faz de várias formas, dando um show de interpretação): “brains”, ou seja, “miolos”. Também vale a pena prestar atenção no que os humanos falam durante a luta. Por exemplo, quando você arranca o braço de um cidadão, ele exclama, entre outras coisas: “Esse era o segundo braço que eu mais gostava” ou “Minha mãe me deu esse braço”. O bando de caipiras, então, são os mais engraçados, pois estão convencidos de que os zumbis são todos comunistas. Nessa fase dos caipiras, aliás, o papel do jogo de Land of the Dead se inverte, pois também tem um milharal onde não dá para ver direito. A diferença é que aqui você é o caçador e não a caça. Outros inimigos que merecem destaque são uns cantores que falam tudo, bem, cantando (!).

Não é apenas através de mordidas que Stubbs se defende. Na verdade, você só pode comer miolos de humanos indefesos (aqueles desarmados) e de não indefesos apenas quando eles estão de costas para você ou quando estão tontos. Para deixá-los tontos, você precisa dar alguns socos até eles ficarem atordoados, mas cuidado para não bater demais, pois aí você mataria o cara e ficaria sem sua refeição.

Stubbs tem alguns poderes. O primeiro que você aprende é um super pum que faz com que todos os humanos ao redor fiquem tontos, facilitando o banquete. Depois vem o mais utilizado: arrancar seu pâncreas e jogá-lo nos inimigos como uma granada. Ele até explode. Depois vem a possibilidade de jogar sua mão. Fazendo isso, você ganha controle da mão e pode ir em lugares onde Stubbs não entra ou até mesmo possuir alguns humanos e adquirir suas habilidades (acredite, não é tão divertido quanto parece). Finalmente, você adquire a habilidade de jogar a sua cabeça como uma bola de boliche. O problema é que demora tanto para o zumbi arrancar a própria cabeça que esse poder fica quase inútil.

Como um zumbi moderno pós-Terra dos Mortos, Stubbs também sabe dirigir. Na verdade, subir nos veículos tira um pouco da graça do jogo, que é comer miolos. Além disso, é muito difícil de controlar os carros.

Assim como nos filmes, humanos atacados pelos zumbis voltam dos mortos sedentos por miolos. Não é necessário mordê-los para que eles retornem. Basta matá-los com socos ou mordidas. Os únicos que não voltam dos mortos são aqueles mortos por outros humanos ou pelos veículos.

Fazer zumbis é a grande graça do jogo. Você vai comendo miolos, matando humanos e quando olha para trás, está um tremendo caos, com um monte de zumbis comendo miolos e fazendo novos zumbis. Apesar disso, você está quase sempre em menor número do que os humanos, principalmente nas últimas fases, já que todos os zumbis morrem bem rápido. O único mais resistente é o próprio Stubbs, que tem um fator de cura de fazer inveja ao Wolverine.

Joguei inicialmente na dificuldade normal e, embora as primeiras fases sejam bem fáceis e agradáveis, as três últimas e quase todos os chefes beiram o impossível. Ao meu ver, este não é um game que deve ser difícil, mas apenas divertido e engraçado, então fica a recomendação para os que forem jogá-lo, fazerem na dificuldade mais fácil (cuja descrição dada é “os humanos são quase tão burros quanto os zumbis”), onde o jogo é bem tranqüilo e você pode passear pela cidade e comer miolos à vontade. Claro que, fazendo isso, você vai morrer menos e terminar mais rápido, o que vai evidenciar quão curto é o jogo. É realmente uma pena, pois ele deixa com uma vontade de “quero mais” absurda. Vamos torcer para que uma continuação esteja a caminho.

Embora os gráficos sejam legais (principalmente o efeito do sangue), os desenvolvedores parecem ter optado por usarem cores sem vida. É curioso, pois nas cutscenes, a cor é belíssima, não deixando nada a dever aos jogos do Super Mario ou do Sonic. Por que escolheram tirar a cor da imagem durante o game, não faz sentido para mim e deixa o visual do jogo um tanto quanto monótono.

A trilha sonora de Stubbs já ficou famosa e ganhou até um lançamento em CD de áudio. E não é para menos, é a melhor trilha sonora de um game, desde GTA – Vice City. Ao contrário de GTA, no entanto, a trilha de Stubbs não é licenciada, a softhouse contratou algumas bandas especialmente para o jogo. Ok, não conta com artistas do calibre do GTA, que tinha, entre muitos outros, Twisted Sister, Judas Priest e Michael Jackson e nem com músicas inéditas, mas as gravações são muito legais e a escolha das canções também.

Como o game se passa em uma época semelhante aos anos 50, só que futurista (mais ou menos como em Capitão Sky e o Mundo de Amanhã), a seleção é composta de músicas da época em versões “atualizadas”, com guitarras pesadas e elementos eletrônicos. Curiosamente, duas das músicas presentes estão também na trilha do tremendão De Volta Para o Futuro: Earth Angel (aquela que a banda toca no baile da escola antes de Marty assumir a guitarra) e Mr. Sandman (a baladinha fofa que toca assim que Marty volta para os anos 50).

Obviamente, em um game de zumbis e com uma trilha sonora dessas, não poderia faltar uma fase de dança, inclusive com a óbvia referência a Thriller, que toca um pedacinho suficientemente grande para ser reconhecida, mas pequeno demais para ter que licenciar a música. Espertinha essa softhouse, não?

O grande defeito da trilha é que as canções não tocam o tempo todo. Na verdade, elas quase não tocam, na maior parte do jogo o som é composto apenas de efeitos sonoros. Uma coisa que nunca entendi nos games modernos é o porquê de terem parado com as músicas de fases.

Stubbs the Zombie é um jogo recomendável não apenas para fãs de zumbis, mas esses sem dúvida vão saber curtir bem mais o que ele tem de melhor a oferecer. Não levou o Selo Delfiano Supremo por muito pouco, mas a diversão é garantida. Afinal, tem coisa melhor que um bom prato de miolos? 😉

 

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
stubbs-the-zombie-rebel-without-a-pulseAno: 2005<br> Gênero: Beat'em Up<br> Plataforma: Xbox, PC, Mac<br> Editora: Aspyr<br> Versao: PC<br> Desenvolvedora: Wideload<br>