Joguei pouco videogame quando era moleque. O hábito me veio depois de velho, já no final da sétima geração, e por isso não experimentei boa parte dos jogos que fizeram parte da infância de quem nasceu nos anos 80 e 90.

Em tempo, chegou às minhas mãos quase virgens a nova coletânea de clássicos da Sega, contendo nada mais, nada menos que 53 games da era dos 16 bit. Tem de tudo um pouco: jogos bons, jogos ruins e uma boa parcela de jogos marromenos.

Além de trazer os jogos adaptados para os monitores atuais, com várias opções de renderização e ajuste de imagem, a coletânea oferece também outras facilidades. Agora você pode, por exemplo, salvar os jogos a qualquer momento, ou voltar no tempo caso faça alguma besteira como errar aquele salto no Sonic ou levar uma bicuda fatal em Streets of Rage.

Já o menu do jogo merece seu próprio parágrafo: ele simula o que, supõe-se, seria o quarto “típico” de um adolescente dos anos 90, com pôsteres pelas paredes e um videogame conectado à TV de tubo. Enquanto as configurações de imagem podem ser ajustadas no monitor da TV, a seleção de jogos é feita no canto direito do quarto, em uma estante com três prateleiras.

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Os jogos inclusive vêm em suas próprias caixinhas.

Estes pequenos detalhes, claro, não afetam o gameplay em si. Ao contrário: os jogos estão replicados aqui em sua mais pura essência. Por este motivo, achei que seria um bom momento para analisá-los um a um, como um jogador que os está experimentando pela primeira vez, e registrar minhas impressões gerais.

Alex Kidd in the Enchanted Castle

Comecei com desconfiança, mas acabei simpatizando com o guri. Quem fez este jogo estava loucaço. É muita coisa acontecendo, e nenhuma delas faz o menor sentido. A trilha sonora é terrível, mas o jogo tem seus momentos.

Alien Soldier

Jogo de tiro/porrada com alienígenas. Dá para se divertir depois que você entende os comandos. Os inimigos parecem ter saído direto de um quadro do H. R. Giger.

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Tipo esse monstro e seu rosto… peculiar.

Alien Storm

Outro de tiro/porrada com alienígenas. A sonoplastia é podreira, mas alguns trechos em primeira pessoa deixam as coisas interessantes. Dessa vez os inimigos parecem saídos de um livro do Clive Barker. Foi a primeira vez que lutei contra uma lixeira!

Altered Beast

Aparentemente você é um halterofilista greco-romano (Hércules?) que ressuscita do inferno (Hades?) para lutar contra pterodátilos, zumbis, demônios e cães de duas cabeças. Ganhou pontos pela criatividade nonsense.

Beyond Oasis

Este é praticamente um Witcher dos 16 bits. Há diálogos, vilarejos e criaturas fantásticas. Pena que os controles sejam bem travadões.

Bio-Hazard Battle

Aqui o doce bateu forte. Escolha um entre quatro avatares insectoides e saia flutuando pelas fases enquanto explode cobras voadoras, espermatozoides gigantes e outras preciosidades lisérgicas. Não tem roteiro nem sentido, mas as músicas são da hora.

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Seria um jogo sobre educação sexual?

Bonanza Bros.

Meio stealth, meio shooter. Assuma o controle de um dos irmãos Bonanza e faça carreira no crime enquanto rouba itens e fuzila policiais. Simpático e educativo.

Columns

Tipo um Tetris, mas pior. A trilha sonora, para ajudar, vai acelerando com o passar do tempo, o que aumenta o senso de urgência e a vontade de trocar de jogo. Perfeito para quem tem ansiedade.

Columns III: Revenge of Columns

Mesma coisa que o primeiro, mas com uma trilha sonora ainda pior. Desta vez há uma historinha de pano de fundo que envolve enigmas, pirâmides e uma aranha falante. Me pergunto quão ruim deve ser o Columns II para ter ficado de fora da coletânea.

Comix Zone

Um dos melhores. O jogo inteiro se passa dentro de um gibi, com falas em balões e tudo mais. Para completar, os gráficos são bacanas e a porradaria come solta. A trilha sonora é excelente, com músicas que lembram bandas como Elastica, Lady Tron e Sonic Youth. Jogaço.

Crack Down

Mistura de Pac-Man e Wolfenstein em visão isométrica. Fraquinho, mas a opção de jogar em co-op ameniza o tédio.

Decap Attack

Um Super Mario dos infernos. Ajude uma múmia sem cabeça a enfrentar fantasmas, lobisomens e outras criaturas sobrenaturais enquanto tenta salvar o mundo. De quebra, você pode saltar sobre lagos de fogo e enfrentar aparições. Uma legítima experiência cristã.

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De alguma forma, mesmo sendo um morto-vivo, você pode morrer. ¯\_(ツ)_/¯

Dr. Robotnik’s Mean Bean Machine

Tipo um Tetris, só que com feijões. A ideia pode parecer ruim, mas na prática é ainda pior.

Dynamite Headdy

Tive três tipos de epilepsia jogando este aqui. Morri seguidas vezes antes de entender o que estava acontecendo. Pensando bem, não entendi até agora. Um parabéns para a direção de arte.

ESWAT: City Under Siege

Gostei desse. É tipo aquele joguinho de Super Nintendo do Robocop. Inclusive a premissa é a mesma: combater o crime na pele de um ciberpolicial. Infelizmente, sou tão ruim que não consegui passar da primeira fase.

Fatal Labyrinth

Suponho que seja um RPG. O troço é tão confuso, entretanto, que fico apenas na suposição. E eu achando que Dark Souls era complicado.

Flicky

Esse é fofo. Controle um pássaro que tenta ajudar pintinhos a escaparem dos gatos malvados que aparecem pelo cenário. Sem tiroteio, veículos, alienígenas nem explosões. Dá para acreditar?

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É mais difícil do que parece.

Gain Ground

Far Cry em 16 bits. Atire, corra, mate os nativos e sobreviva. Para ser ruim teria que melhorar muito.

Galaxy Force II

Jogo de navezinha. Meio Space Invaders, mas com a câmera por trás da nave. Deu para tirar uma pira, ainda que esteja longe de ser imperdível.

Golden Axe

Um beat’em up divertido e bem feito. Escolha um entre três personagens e saia distribuindo porrada em uma história de fantasia medieval. Eu escolhi o anão.

Golden Axe II

Igual ao primeiro, mas com novas músicas e monstros diferentes. O anão me pareceu um pouco mais alto.

Golden Axe III

O mais fraco da trilogia. Cenários tosquinhos e música enfadonha. Em compensação há dois novos personagens jogáveis. Agora o anão é um NPC. =(

Gunstar Heroes

Último jogo da primeira prateleira e certamente o melhor da coletânea. Cheio de adrenalina, com gráficos excelentes e uma jogabilidade responsa. Jogarei mais vezes.

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Explosões para todos os gostos.

Kid Chameleon

Gostei deste. Simples e divertido, seus comandos envolvem basicamente ir para os lados e saltar. Quase um Super Mario, mas com armaduras e dragões.

Landstalker

Nunca joguei Zelda, mas o personagem principal desse aqui, Nigel, me lembrou bastante o Link. Sem dúvida tem uma das apresentações mais caralhudas da coletânea. Enquanto os demais geralmente se limitam a mostrar um texto de contextualização, Landstalker tem praticamente uma cutscene de início, repleta de ação e diálogos bem-humorados. Ademais, é um RPG completinho.

Light Crusader

Bem sem graça. Envolve solucionar uma história de desaparecimento em um reino. A jogabilidade, assim como a temática do jogo, é nada menos que medieval – mesmo para os anos 90.

Phantasy Star II

O sistema de combate por turnos e a movimentação pelo cenário são similares aos jogos de Pokémon que eu curtia no Gameboy. Consegui vencer umas lutas, mesmo sem saber direito o que estava fazendo.

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Esses mosquitos são barra-pesada.

Phantasy Star III: Generations of Doom

Dessa vez o enredo gira em torno de um príncipe tentando resgatar sua noiva. Sim, é tão interessante quanto parece. A trilha sonora é suportável, se você jogar no mudo.

Phantasy Star IV: The End of the Millenium

Por pouco a coletânea não se chamou Phantasy Star e Outros Jogos.

Ristar

Joguinho simpático, parente próximo do Sonic. Mas, em vez de um porco-espinho, você controla uma estrela de braços compridos. Deu para perder um tempinho aqui.

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Pela cara do personagem, ele também não sabe bem o que está rolando.

Shadow Dancer

Ajude um ninja e seu cachorro (?) a avançarem pelo cenário enquanto descem a lenha em ninjas inimigos que vêm pelo sentido contrário. É.

Shining in the Darkness

Novamente uma princesa em apuros. Novamente um jogo com batalha em turnos. Dessa vez, porém, em primeira pessoa.

Shining Force

Outra aventura naquele estilo Pokémon, com gráficos medianos e uma historinha boba. Empolga pouco ou quase nada. Nota: na página de criação do perfil, o jogo lhe chamará de Max se você não preencher seu nome.

Shining Force II

Mesma bobagem que o anterior, com a diferença de que agora o jogo lhe chamará de Bowie caso você não tenha paciência de nomear seu personagem.

Shinobi III: Return of the Ninja Master

Um jogo fraco em todos os aspectos. Apesar do nome, faz parte da franquia do Shadow Dancer. Como se um deles já não fosse o bastante.

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Cuida dessa retaguarda, ô seu ninja!

Sonic the Hedgehog

Acho que este dispensa apresentações. De todos os jogos da coletânea, foi o único que eu já tinha jogado. Continua bom como sempre.

Sonic the Hedgehog 2

Igual ao primeiro, só que melhor.

Sonic 3D Blast

Sonic em visão isométrica. Pode isso, Arnaldo? Acabou com a graça de jogar Sonic. Por um momento acreditei que isso era o pior que podiam fazer com um exemplar da série...

Sonic Spinball

…até este pinball do Sonic provar que eu estava errado. Um pinball do Sonic, cara. Um pinball! Do Sonic!

Space Harrier II

Outro que não sabe se é um jogo ou uma bad trip de ácido. Controle um Flash Gordon dos pobres que corre alucinado sobre uma esteira quadriculada enquanto enfrenta demônios voadores e tartarugas de três cabeças.

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Deu ruim.

Streets of Rage

Jogo de porradaria muito bem recomendado pelo Corrales. Tem um visual bonitão e trilha sonora nos conformes. Fica mais divertido se jogar em dupla.

Streets of Rage 2

O dobro de ruas, o dobro de raiva! Mais difícil que o primeiro, igualmente porradeiro.

Streets of Rage 3

Os gráficos e a movimentação dos personagens parecem aquém dos primeiros jogos. A direção de arte também dormiu no ponto, substituindo a cidade coloridona por cenários cinzentos, e os inimigos estilosos por modelos genéricos.

Super Thunder Blade

A premissa é interessante: pilote um helicóptero pela cidade enquanto destrói veículos inimigos. A jogabilidade truncada e o alto nível de dificuldade, entretanto, não compensam o esforço.

Sword of Vermilion

Gráficos de ponta e uma história envolvente embalados por mecânicas funcionais e belíssimos cenários.

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Só que não.

The Revenge of Shinobi

Mais um da série Shadow Dancer. Controle um ninja que salta, bate, lança shurikens e desvia de outros ninjas. Tão imperdível quanto o restante da franquia.

ToeJam & Earl

Que tal ajudar dois aliens muito descolados a recuperarem os pedaços de sua nave perdidos na Terra? Um joguinho bem-humorado e na estica, cujos cenários podem ser criados proceduralmente ou pré-determinados. A opção é do jogador.

ToeJam& Earl in Panic on Funkotron

Último jogo da segunda prateleira. Bem diferente do primeiro, com uma pegada mais próxima de jogos como Sonic ou Donkey Kong. Não faz feio, mas também não é grandescoisa.

Vectorman

Fiquei impressionado com esse aqui. A jogabilidade é fluida, as mecânicas são divertidas e os gráficos bem avançados para a época. Seria mais divertido se não fosse tão difícil.

VectorMan 2

Uma sequência bem feita. Ligeiramente mais fácil que o jogo anterior.

Virtua Fighter 2

Jogo de lutinha tradicional. Muitos golpes, poucos pixels. Longe de ser criativo.

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Eu versus Stalin.

Wonder Boy III: Monster Lair

Eu teria gostado bastante deste aqui quando era moleque. Vai direto ao ponto, sem enrolação nem muitos botões para apertar. Avance pelo cenário, mate os inimigos, pule pelas plataformas e seja feliz.

Wonder Boy in Monster World

Idem ao anterior, mas com a adição de algumas complexidades desnecessárias. De qualquer forma, é uma boa maneira de encerrar a terceira e última prateleira da coletânea.

E assim encerro este compilado de breves anotações. Sem saber direito se gostei desses jogos ou não, mas certo de que pelo menos preenchi uma falha em meu currículo gamer. No fim de toda essa experiência, apenas lamento o fato de que a coletânea não conte com a presença de Aladdin, este sim um verdadeiro jogaço. Fica para a próxima.