Nos últimos tempos, tenho dito em algumas resenhas que a variedade de gêneros e temas do cinema brasileiro parece finalmente estar se ampliando, principalmente nos campos do terror e suspense. Eis então que Uma Quase Dupla chega para ampliar ainda mais esta variedade, sendo ele um autêntico representante do subgênero conhecido como buddy cop movie.

Trata-se do tradicional filme da dupla de policiais. Se eles não se bicarem e/ou tiverem personalidades totalmente opostas, melhor ainda. Podem ser filmes policiais mais sérios, mas geralmente tendem a misturar amplas doses de comédia, podendo pender totalmente para o humor. Claro, o maior representante do gênero é o tremendão Máquina Mortífera e suas continuações.

Este aqui segue pelo lado da comédia. Keyla é uma pilhada investigadora de polícia carioca que vai até a cidadezinha fictícia de Joinlândia (onde todo mundo é joia!) para auxiliar a polícia local na caçada por um serial killer cujas vítimas são compostas por pessoas que possuam alguma característica irritante. Logo, ela vai fazer dupla com Claudio, um policial local meio bobão, mas que é amigo de todo mundo na cidade.

Delfos, Uma Quase Dupla, CartazSe você prestou bem atenção nesta sinopse, já se deu conta de que, salvo pequenos detalhes, ela é praticamente idêntica a do divertidão Chumbo Grosso, uma das maiores homenagens ao gênero já feitas. Infelizmente, as semelhanças param por aí. Quanto ao nível de qualidade das obras, não poderiam estar mais distantes.

Sabe aquele filme que você vai ver na maior boa vontade, querendo que seja bom, mas o qual simplesmente não corresponde? Pois é, é este aqui. Caramba, quão legal seria uma comédia de buddy cop nacional bem feita. Tipo um Fucker & Sucker (aquele saudoso quadro do Casseta & Planeta que satirizava as duplas de policiais estadunidenses da ficção) transformado em longa-metragem.

TOCA UM DETONAUTAS AÍ!

E ele até tem algumas piadinhas boas e claramente bebe nas fontes certas, tipo Angie Tribeca e Na Mira do Tira (lembra desse?). Também se dá bem quando adapta as situações para a nossa realidade. Tipo quando Claudio interrompe uma perseguição a pé para falar com uma moradora idosa amiga da mãe dele. É o tipo de coisa que acontece toda hora com quem mora em cidades do interior.

Só que a maior parte da história é tratada de maneira boboca, como se por ser uma comédia, não precisasse de tanto capricho. Ao menos esta foi a sensação que eu tive enquanto assistia. E aí novamente Chumbo Grosso entra como exemplo de algo com um roteiro extremamente caprichado. Em outros momentos, ele não parece saber direito se abraça de vez as piadas específicas de buddy cop ou se vira algo mais amplo para uma audiência maior.

Delfos, Uma Quase Dupla

E também sofre dos principais males do cinema mainstream nacional, os diálogos e as atuações. E ambos neste caso estão intrinsecamente ligados. As falas são aquelas típicas totalmente irreais, escritas de uma forma que ninguém falaria daquele jeito na vida real. Por causa disso, é extremamente difícil entregá-las com o nível de naturalidade necessária. Logo, se o ator não consegue fazer isso, prejudica sua performance geral.

Os dois protagonistas sofrem com isso, mas Tatá Werneck até consegue driblar esse problema na maioria das vezes falando super rápido, transformando isso numa característica da sua personagem. Já Cauã Reymond não teve a mesma sorte e todas as suas falas são muito ruins, toscas e ele não consegue dizê-las sem usar daquela atuação estilo global de novela, meio travadona.

É uma pena, pois é um estilo de filme que eu gosto bastante e seria bem legal ver um bom representante nacional. Infelizmente não foi dessa vez. Uma Quase Dupla apenas requenta algumas gagues do gênero de forma mal costurada e com atuações muito abaixo da média. Melhor deixar este pra lá e rever as aventuras de Riggs e Murtaugh numa maratona de Máquina Mortífera (os filmes, é claro!).

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-uma-quase-dupla-e-um-buddy-cop-nacionalTítulo: Uma Quase Dupla<br> País: Brasil<br> Ano: 2018<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 90 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Diretor: Marcus Baldini<br> Roteiro: Leandro Muniz e Ana Reber<br> Elenco: Tatá Werneck, Cauã Reymond, Louise Cardoso e Gabriel Godoy.