Os Estagiários

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Poucas coisas na vida são tão boas como você se acomodar na poltrona do cinema. As luzes vão diminuindo, a tela acende, avisos de segurança. E o melhor de tudo é quando você sabe que vem aí mais um filmão estrelado por grandes nomes da comédia como Vince Vaughn e Owen Wilson. Oh, boy!

Mas tudo tem um lado bom, e aqui é o fato de que este filme é totalmente diferente de todos os outros que eles fizeram. Saca só: dessa vez eles são uma dupla de vendedores que perdeu o emprego e se encontram em maus lençóis. Isso até eles ficarem sabendo do programa de estagiários do Google. Eles acabam conseguindo duas das muitas vagas, e logo descobrem que terão que formar um time e competir em uma série de desafios para serem efetivados.

Como eles são muito mais velhos que o resto da turma, além de serem os únicos não nerds no filme inteiro, acabam ficando no time dos rejeitados, e são rejeitados até pelos colegas do time. Pois é, eles foram de maus lençóis para piores lençóis, e agora vão ter que aprender a trabalhar juntos, potencializando as diferenças de cada um. No caminho, todos no time deles se tornarão grandes amigos e aprenderão várias lições de vida inspiradas em Flashdance, e tudo isso é muito mais importante do que uma vaga de emprego.

O PROTESTO DO DELFONAUTA HIPPIE

“Pô, Corrales, mas cê parece que num sei, bicho”, protesta o delfonauta hippie sentado no centro da sala. “Essa é exatamente a história de Com a Bola Toda, meu. E ele é até estrelado pelo Norman Bates de Psicose também”.

E eu respondo, enquanto peço o telefone da CDF gata da primeira fileira: “Pois é, delfonauta hippie sentado no centro da sala. Mas você não sacou a diferença? (baixinho) Isso aqui é um nove? (voz normal) Em todos esses filminhos de azarões, o grupo de azarões é sempre formado por nerds no meio de atletas. Aqui é o contrário. A maioria é nerd, e os não-nerds são os excluídos que devem provar seu valor”. A cultura nerd é tão absurdamente presente nos testes do Google que um deles é uma partida de quadribol.

Isso realmente mostra o quanto a cultura nerd dominou o mundo de hoje, uma vez que nós, os tradicionais azarões do cinema, agora somos o establishment. Tem até uma cena em que os nerds do grupo dos protagonistas fazem bullying mandando os dois procurarem pelo Professor Xavier. Que puxa!

Ok, a gente tira sarro dessa turminha de comediantes estadunidenses que fazem esses Sessões da Tarde inofensivos, mas uma coisa deve ser admitida: em uma Hollywood infestada por continuações, remakes e adaptações, são exatamente esses caras que respondem por 97,33% das produções cinematográficas originais da atualidade. Neste caso, o Vince Vaughn é até um dos roteiristas. E eu tirei esta porcentagem diretamente da minha cabeça, o que mostra que é totalmente confiável.

Outra verdade é que o que temos aqui é, sim, um filminho bobo e inofensivo, daquele tipo de que você assiste na TV para matar um sábado chuvoso. Mas ele até é simpático e divertido. Admito, até me arrancou algumas saborosas gargalhadas, o que não é algo que qualquer uma dessas comédias consegue fazer. Isso sem dúvida o coloca acima da média, e também ajuda o fato de o Ben Stiller não estar no elenco, embora o Will Ferrell apareça em uma ponta. Mas também tem umas pontas legais, como o sempre simpático John Goodman.

Além disso, a quantidade de mulheres bonitas por aqui beira o assustador. Para ficar ainda melhor, a maior parte delas usa óculos, e convenhamos, quem não gosta de mulheres de óculos? Hum… mulheres de óculos com brócolis… Que foi? Eu estou tentando viver uma vida saudável, pô!

Assim, Os Estagiários poderia ser um filme altamente recomendável, se não fosse por dois grandes problemas, e não me refiro a seus protagonistas.

OS DOIS GRANDES PROBLEMAS

O primeiro deles você já deve imaginar: a história não poderia ser mais batida. Não é apenas a mesma história de Com a Bola Toda, mas é também a mesma história do recente Universidade Monstros e de tantos outros filmes, novos ou antigos, como o clássico A Vingança dos Nerds.

E tudo, absolutamente tudo, acontece exatamente no momento que você espera. As lições de amizade, a parte triste, a hora que um deles desiste do sonho. Está tudo aqui, na mesma ordem de sempre, e isso enfraquece sobremaneira um longa que poderia ser bem legal.

Além disso, o negócio todo parece um grande anúncio do Google. Digo mais, ele está para o Google como o cara de pau O Gênio do Videogame está para a Nintendo. Durante cada segundo das duas horas de filme eles dão a entender que o Google é uma empresa perfeita, inovadora e cheia de mulheres bonitas e inteligentes. Isso para mim é especialmente amargo, já que o Google me roubou quase 100 dólares logo no início do DELFOS, o que fez com que eu me tornasse uma das poucas pessoas do mundo que odeia eles (junto com todas as outras que eles roubaram, e tem um monte de gente que caiu no mesmo golpe que eu).

Mas isso é uma história para outra ocasião, e devo dizer que mesmo que no lugar do Google estivesse uma empresa com a qual eu simpatizasse, eu também não gostaria do fato de o filme ser praticamente um grande comercial. E convenhamos, fica difícil aceitar pagar o salgado preço do cinema atualmente para assistir a um comercial. Desta forma, embora tenha boas piadas e até seja um filminho simpático, minha recomendação é que você espere para ver de graça na TV. Ou com as hermanas da Argentina, é claro. Hum… hermanas com papas fritas…

CURIOSIDADE:

– Se você sabia que o Vince Vaughn foi o Norman Bates do remake de Psicose, high five!