O Garoto de Liverpool

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Muitas vezes eu já deixei claro aqui meu desprezo por cinebiografias. Mas não adianta, é só ter alguma cinebiografia cujo tema remotamente nos interesse (como a supralinkada, por exemplo), que já vem aquela esperança de que dessa vez será diferente. Mas nunca é.

Eu conheço duas cinebiografias relacionadas aos Beatles. A primeira é Backbeat, que no Brasil levou o extremamente explicativo nome Os Cinco Rapazes de Liverpool (curiosamente, bem parecido com o título deste, mostrando que a turminha brasileira adora repetir sempre os mesmos nomes). Esse é aquele que é muito mais famoso por causa da sua excelentíssima trilha sonora, que traz alguns dos maiores nomes do Rock Alternativo noventista (entre eles, membros do Nirvana, Soul Asylum e Afghan Whigs) fazendo versões pesadas, modernas e deveras legalzudas de algumas das covers mais legais gravadas pelos Beatles.

Mas Backbeat é completamente focado no quinto Beatle secreto e na sua relação com John, sendo que Paul e George mal aparecem e o Ringo literalmente só aparece em uma cena, e de costas.

Já este O Garoto de Liverpool também é focado na relação de John com alguém – no caso, a sua mãe. Paul aparece a partir da segunda metade. Nenhum dos outros Beatles aparece ou, se aparecem, eu não os vi. Na verdade, aqui a banda sequer se chama Beatles ainda – o nome é escolhido apenas no final e não é usado durante o filme.

Assim, aqui vemos John em seus primeiros passos musicais, sonhando ser Elvis e conhecendo Paul, mas a melhor de todas as cenas é quando ele aprende a tocar banjo, se movendo em velocidade real enquanto todo o resto do mundo se move aceleradamente. Isso é cinema, amigo delfonauta!

Porém, o filme tem também alguns problemas sérios. O personagem de John é um babaca e sua relação com a mãe é um tanto perturbadora. Tem hora que parece que eles vão se beijar. E, pô, nenhum deles é da família McFly. Mas o pior mesmo é o terceiro ato, que vira tamanho dramalhão que eu fiquei com a sensação de estar assistindo a uma novela mexicana. Diante desse cenário, me vi obrigado a tirar do bolso meu recém-adquirido exemplar de Abbey Road e fazer pipi nele.

O principal ponto positivo, claro, é a trilha sonora. Repleta de sucessos e faixas da época que todo mundo conhece (mas nenhuma originalmente dos Beatles, assim como Backbeat). E convenhamos, existe alguém que não gosta do Rock dos anos 50? Eu nunca conheci ninguém e, sinceramente, não quero nem conhecer. A música da época era muito legal e se alguém não gosta disso, merece uma morte lenta e dolorosa! Ou então um abraço do Tony Ramos suado e sem camisa.

O filme, no entanto, deixa a desejar. Sofre de todos os problemas comuns às cinebiografias e o fato de terminar antes dos Beatles existirem dá a sensação de que não cumpriu o prometido.

Talvez para quem queira contar histórias reais de personalidades públicas, o caminho da cinebiografia não seja o mais recomendado mesmo. Afinal, para quem se interessa, um documentário apresenta muito mais informação, e muito menos clichê.

CURIOSIDADE:

– Alguém já viu um filme, jogo ou qualquer coisa ambientada nos anos 50 que não tenha a música Mr. Sandman? Será possível que ela é a música que melhor representa a época?

– O clipe abaixo não é recomendado para coulrofóbicos.