Michael Kohlhaas – Justiça e Honra

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Michael Kohlhaas – Justiça e Honra é baseado numa novela (literária, não aquelas da Globo. Um formato maior que um conto e menor que um romance) escrita pelo alemão Heinrich Von Kleist e publicada em 1810. Agora que já dei esse aparte cultural, darei minha definição pessoal para a trama: é um Coração Valente dos pobres, numa escala muito menor e sem a ação tremendona.

O sujeito que dá nome ao filme é um criador de cavalos do século XVI que encontra em seu caminho um nobre babaca e uma cobrança de pedágio. Essa situação aparentemente trivial escala de uma maneira tal que leva Kohlhaas a pegar em armas, formar um exército rebelde e tocar o terror atrás do engomadinho que o sacaneou.

Eu sei, essa sinopse até parece tremendona, prometendo um épico cheio de batalhas e derramamento de sangue. E isso não poderia estar mais equivocado. Até há violência, mas ela é pouca, pontual, e numa escala bem longe do que poderia ser considerado como épica.

Este é um filme europeu, e logo, tem a pegada costumeira de grande parte das produções do continente, mais lenta, contemplativa e mais interessada no que move o personagem e não na mera violência gratuita. Até aí, sem problema. Acredite ou não, mas nem só de explosões de helicópteros vive a sétima arte.

O problema é que o longa é bem genérico, morno e mesmo quando dá uma reviravolta na trama, tomando uma direção inesperada, o que geralmente é algo que dá uma sacudida nesse tipo de produção, aqui o faz para pior.

O próprio personagem não é tão interessante assim, e passa o longa inteiro batendo na tecla de que suas ações são movidas por uma questão de princípios. Mas é difícil acreditar que o cara estava pronto para bagunçar o país inteiro por causa de dois cavalos, quando algo muito pior lhe acontece e para isso ele não parece dar tanto valor assim.

Acaba ficando meio contraditório e com aquela sensação de coito interrompido, causada pela já citada virada na trama que deixa as motivações do protagonista ainda mais desequilibradas, beirando o nonsense.

Bom, apesar de tudo isso, e de suas duas horas de duração, até que o filme não enche o saco e tem um design de som legal (repare nos zumbidos de moscas que permeiam o filme todo). E você ainda pode ver Mads Mikkelsen falando francês, um verdadeiro homem da renascença!

Ainda assim, é uma propaganda enganosa ver o Hannibal Lecter da TV de cabelos esvoaçantes e espada embainhada nas costas no pôster e não receber o épico que a imagem promete, mas apenas um longa de escala bem menor, focado na história (que não é tão boa) e bastante esquecível, ainda que, com a disposição certa, seja bem assistível. Ou seja, o típico filme nada. E, como tal, longe de ser a melhor opção para um ingresso de cinema.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
michael-kohlhaas-justica-e-honraPaís: Alemanha/França<br> Ano: 2013<br> Gênero: Drama<br> Duração: 122 minutos<br> Roteiro: Christelle Berthevas e Arnaud des Pallières<br> Elenco: Mads Mikkelsen, David Kross e Bruno Ganz.<br> Diretor: Arnaud des Pallières<br> Distribuidor: H2O Films<br>