Mais 6 coisas que você não sabia sobre cinema

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Para você, curioso da indústria do cinema, que sempre quis saber de seus meandros, mas não tinha onde procurar, aposto que deve ter curtido a matéria do Corrales sobre as 5 coisas que você não sabia sobre cinema. Pois bem, exatamente para você, trazemos mais uma fornada fresquinha de elementos do mundo cinematográfico esmiuçados para compreender como essa fascinante indústria funciona.

1 – A NEFASTA ONDA DO 3D

A menos que você seja um sujeito muito desligado, já percebeu que de uns tempos pra cá as cópias de filmes em 3D, que antes eram esparsas e apenas uma curiosidade, se tornaram a moda da vez e todos os estúdios estão transformando seus blockbusters em potencial em filmes 3D.

O que a lenda urbana diz: Que no fundo todo mundo gosta de usar óculos e de pagar mico no cinema afastando criaturinhas imaginárias que saltam da tela na sua direção.

A realidade: Com a tecnologia dos home theaters cada vez mais avançada (HDTV e Blu-ray, estou falando com vocês), a qualidade de som e, principalmente, de imagem, não deixa nada a dever aos cinemas. Então, se você não acha essencial assistir aos filmes na tela grande do cinema, que motivo tem para aguentar o público cada vez mais mal educado das salas exibidoras?

Por que pagar um ingresso caro para ver o filme apenas uma vez se com um pouco mais de bufunfa você compra seu DVD ou Blu-ray pra assistir quantas vezes quiser no conforto do seu lar e sem ninguém pra te encher o saco? Ou, pra chutar o balde de vez: pra que pagar ingresso quando se pode assistir de graça na Argentina?

A nova onda 3D (vale lembrar que a tecnologia surgiu na longínqua década de 50 e teve uma segunda tentativa na virada dos 80 para os 90) nada mais é do que uma tentativa da indústria de manter o mercado exibidor vivo e lucrativo com um diferencial que os cinemas caseiros ainda não podem oferecer e que ainda não é possível ser pirateado. Sem contar que o ingresso é mais caro, logo, mais lucro com a desculpa de oferecer profundidade de campo. É mais ou menos o que aconteceu quando surgiu a televisão e o cinema imediatamente passou a ser a cores.

No entanto, o que temos aqui ainda é uma baita picaretagem. Isso porque a imensa maioria dos filmes ditos 3D é convertida na pós-produção. As câmeras 3D, para captar a película já nesse formato, ainda são caras, grandes e pesadas, ou seja, apresentam limitações. E a menos que você seja James Cameron e invente seu próprio equipamento, vai precisar de um baita orçamento e não conseguirá filmar certos planos da forma que imaginou por conta do “fator trambolho” dos equipamentos disponíveis atualmente para os reles mortais.

Assim, é mais simples e muito mais em conta converter seu filme captado em 2D na pós-produção, conferindo-o uma profundidade de campo tão mixuruca que você nem mesmo vai perceber que ela está lá.

Isso explica: Toda essa febre irritante que tomou conta da indústria e não parece que vai passar tão cedo.

– Porque todo dia você lê na internet que um filme X será convertido para o 3D.

– Porque as fabricantes de televisores estão investindo nas TVs em 3D.

– Porque não existem filmes em 3D na Argentina.

– Porque Avatar é tremendão em 3D e apenas meia-boca em 2D.

– Porque qualquer outro filme 3D é absolutamente igual em 2D.

Minha opinião: Particularmente não sou fã do 3D. Os óculos me incomodam e a imensa maioria das conversões dos filmes simplesmente não faz a menor diferença se visto em duas ou três dimensões. Claro, a partir do momento em que passarem a filmar realmente em 3D, como Avatar, as diferenças serão maiores e tais filmes realmente terão motivo para existir. Mas creio que essa tecnologia só vai emplacar de vez a partir do momento em que conseguirem remover os óculos da equação. Até lá, pode surgir alguma onda nova.

2 – POR QUE TANTA GENTE PREFERE AS CÓPIAS DUBLADAS?

Outro fenômeno que tem me chamado a atenção, esse já um pouco mais antigo. Se antes a proporção de cópias dubladas para legendadas era de (atenção, número puramente especulativo, mas completamente embasado em pesquisas profundas da DataDelfos) duas para 10, agora é só abrir qualquer guia de cinema no jornal e constatar que a proporção chega quase a 50% pra cada.

O que a lenda urbana diz: Que estadunidense é burro e não sabe ler legenda. Portanto, refilma qualquer filme estrangeiro… Espera, estamos no Brasil, onde sempre fomos acostumados a ler legenda!

A realidade: É verdade que a dublagem tupiniquim sempre foi considerada uma das melhores do mundo e, embora seja um processo caro (é preciso pagar estúdio, técnicos de estúdio e dubladores), é mais barato que o processo de legendagem, pois basta trocar a banda de áudio, mais fácil de manusear que a película em si. Contudo, sempre fomos acostumados a ler as legendas e antigamente muitas pessoas criticavam os filmes dublados porque, por melhor que fosse o dublador, você basicamente assistia a uma outra atuação ao invés da original.

Mas nos últimos anos algo aconteceu para alterar essa opinião. Não pode ser apenas tática das distribuidoras para baratear custos (diminuir as cópias mais caras legendadas e aumentar as mais baratas dubladas), afinal, há demanda para essas cópias, ou elas não teriam aumentado de número tão exponencialmente.

Isso explica: Na verdade nada, ainda não entendo essa mudança de preferência.

Minha opinião: Acho bizarro que isso aconteça agora e não antigamente. Veja só: antes o inglês não era tão necessário e, portanto, menos gente conhecia a língua. Junte a isso o fato de que as legendas, restritas às suas duas linhas, funcionam apenas como uma síntese e não uma tradução literal, e a preferência pela dublagem seria compreensível. Mas hoje, com o inglês quase como obrigatório e, portanto, com mais gente que domina a língua, essa mudança é um paradoxo.

Na França, os filmes estrangeiros são dublados por lei, como uma forma de preservar a cultura e a identidade nacional, no caso, o afrescalhado idioma francês. Mas por aqui não temos essa preocupação, o que só me leva a crer que as novas gerações, essas mesmo que têm preguiça de ler um texto com mais de cinco parágrafos e criaram o maldito “TLDR”, simplesmente se recusam a ler duas linhas, dando preferência à dublagem, que requer menos esforço.

3 – POR QUE A PELÍCULA AINDA SOBREVIVE EM TEMPOS DIGITAIS?

Hoje em dia, com a popularização e constante evolução das filmadoras digitais, junto com os softwares de edição e efeitos, qualquer um pode fazer um filme decente com uma câmera amadora e um computador caseiro. Imagine então com equipamento digital profissional. Sendo sabidamente mais fácil e infinitamente mais barato de se filmar em digital, por que a película ainda sobrevive?

O que a lenda urbana diz: Que a imagem digital não tem a mesma qualidade da película e que cineastas são seres que gostam do método old school.

A realidade: A verdade é que um dia essas duas afirmações acima já foram verdade, mas hoje em dia não é mais bem assim.

Se antigamente você conseguia identificar a 15 quilômetros de distância uma imagem captada por uma câmera digital, hoje em dia, com câmeras de alta resolução, filtros de pós-produção e outros truquezinhos digitais, é impossível dizer o que é digital e o que é película.

O digital é mais barato, mais prático (você pode deixar a câmera rodando ou gravar por cima), melhor para se mexer na pós-produção (você passa direto para o computador) e mais fácil e barato de se tratar a imagem (você elimina processos que teriam que ser feitos por um técnico especializado em um laboratório de foto).

Não à toa, muitos cineastas, por mais românticos que fossem quanto ao seu apego à película, estão se rendendo ou ao menos admitindo a praticidade da mídia digital. Vide Quentin Tarantino quando acompanhou e dirigiu uma cena de Sin City – A Cidade do Pecado.

Mas gente do naipe de Steven Spielberg ainda é apaixonada pela película (Spielberg, por exemplo, ainda monta seus filmes na movieola, um equipamento de edição analógico) e a vê como o último grande bastião da arte do cinema, o artesanal em contrapartida ao digital carne de vaca que transformou qualquer Zé Mané em pretenso cineasta.

Contudo, mesmo que um filme seja captado digitalmente, para ser exibido ele ainda é convertido para película na grande maioria dos casos. Isso porque ainda são poucos os cinemas com projetores digitais disponíveis e, embora seja um equipamento melhor (eliminando a película da projeção você elimina seu desgaste, a sujeira e os eventuais riscos), é preciso um grande investimento para trocar todos os equipamentos de um complexo exibidor.

Isso explica: Porque a película ainda não virou peça de museu.

Minha opinião: É bem capaz que a película seja extinta, mas isso ainda deve demorar algum tempo.

Da mesma forma que Chaplin resistiu anos a se render aos filmes falados, vai ter uma galerinha resistindo enquanto puder às câmeras digitais. Mera questão estética/filosófica. Hoje em dia você até vê um eventual filme em p/b, mas mudo ou captado em Betamax já é outra história. A película deve acabar indo por aí.

Mais séria é a questão da troca dos equipamentos. Quem já viu um filme num projetor digital sabe de sua qualidade, mas enquanto num país rico como os EUA, é relativamente fácil as redes exibidoras trocarem seus equipamentos sem grandes traumas, em países menos favorecidos, como este onde você está, por exemplo, esse processo será muito mais lento devido ao alto custo (taxas de importação, impostos, licenças, etc) exigido.

4 – POR QUE ÀS VEZES O MICROFONE APARECE?

Essa aqui é batata. Qualquer pessoa que já viu filmes suficientes na vida e é apenas um pouco mais observadora aos detalhes, com certeza já viu algum filme onde, em determinada cena, um objeto fálico preto desce do teto pouco acima das cabeças dos personagens só para sumir no plano seguinte (e às vezes reaparecer depois). Claro, estou falando do microfone de captação do som ambiente (ou boom, como é chamado) e ele não deveria aparecer.

O que a lenda urbana diz: Que técnico de som, diretor de fotografia, operador de câmera e diretor comeram bola e não se deram ao trabalho de conferir se o microfone estava aparecendo no enquadramento.

A realidade: Na imensa maioria dos casos, a culpa é de um único camarada e seu nome é projecionista.

O negócio funciona da seguinte maneira: toda câmera de cinema possui bordas ou margens (como uma mira), que definem o enquadramento pretendido, mas essas bordas não equivalem à de captação da película, que acaba sendo um pouco maior. O técnico de som sempre irá colocar o boom no limite do enquadramento (e aí cabe ao operador de câmera conferir para ver se não está vazando no quadro) para captar o som o mais perto possível dos atores. Por isso, embora esteja fora do enquadramento, ele é registrado pela câmera.

Quando o filme é revelado e copiado, tudo que a câmera captou, mesmo fora das bordas do enquadramento, vai parar na cópia final. É dever do projecionista ajustar as lentes do projetor no começo de cada sessão, para que você só veja o que foi pretendido por diretor e diretor de fotografia. Isso se chama “janela”. O que acontece é que muitas vezes o cara dorme no ponto e se esquece de ajustar a janela correta e aí o espectador acaba vendo algo que foi impresso na película, mas que não deveria ser visto. E aí está incluso o microfone.

O que mais é culpa do projecionista: É também por culpa deste indivíduo que muitas vezes, no começo de uma projeção, a imagem fica achatada ou esticada. Alguns filmes usam técnicas de captação que comprimem mais imagem do que uma película normalmente suportaria. Por isso elas precisam ser projetadas com lentes diferentes que ajustam o que foi captado ao olhar humano. Quando o sujeito liga o projetor com a lente errada, você vê a imagem tal como ela foi captada originalmente.

Isso explica: Porque você vê o microfone no cinema, mas depois não o vê em home video ou na TV. Para o lançamento em VHS, DVD, Blu Ray e sei lá mais o quê, só é transferida para a matriz a imagem do enquadramento correto.

Minha opinião: Ok, errar é humano e isso é uma das coisas que mais acontece numa sala de cinema. Mas o que me irrita é que muitas vezes o cara liga o projetor e sai antes do filme começar, sem conferir se está com a janela e a lente certa. E aí demora uma cara pra ele arrumar algo que levaria cerca de dois segundos se ele fizesse seu trabalho com o mínimo de capricho. Mas às vezes nem dá para ficar com raiva do cara, pois é comum um mesmo projecionista ter que cuidar de mais projeções do que o recomendado e fica difícil dar conta de tudo.

5 – AFINAL, QUAL O LANCE DOS ERROS DE CONTINUIDADE?

Essa é outra característica que os mais detalhistas sempre observam. Você está lá vendo o filme e, de repente, de um plano pra outro, a gravata do protagonista, que antes estava com o nó, aparece solta, o cabelo da mocinha parece diferente e objetos que estavam em cima de uma mesa sumiram ou misteriosamente mudaram de posição. Bem-vindo ao maravilhoso e complexo mundo dos erros de continuidade!

O que a lenda urbana diz: Que duendes brincalhões infestam os estúdios e pregam essas peças só de sacanagem.

A realidade: Salvo raras exceções, os filmes não são rodados na ordem do roteiro. Tudo depende de variadas questões de logística para poupar tempo e dinheiro. Sendo assim, se você tem, digamos, uma cena de diálogo entre dois personagens em plano e contraplano, você não vai ficar alternando entre eles (isso é serviço da montagem). Você filma primeiro todos os diálogos de um personagem, e depois do outro. E muitas vezes pedaços da mesma cena, por diversos motivos, são filmados até com meses de diferença.

Como a memória humana não é das mais confiáveis, é preciso um profissional com o único intuito de lembrar os outros como as coisas estavam quando chegar a hora de filmar o resto da cena. Se o ator estava de relógio, se havia um quarto de café em seu copo, se sua gravata estava afrouxada, se ele tinha um corte dois centímetros acima do supercílio esquerdo, por aí vai…

O continuísta tem que reunir todos esses dados, seja através de anotações ou fotografias, para evitar que erros grosseiros apareçam no produto final. Contudo, por mais detalhista e metódico que seja tal profissional, ele ainda é humano, e uma ou outra coisa sempre escapa. É só ver aqui no DELFOS mesmo. Você com certeza já deve ter visto algum erro de digitação em algum texto (e se viu espero que tenha avisado para que fosse corrigido). E isso foi parar no site mesmo depois de ser revisado várias vezes pelo autor e pelo Corrales. Simplesmente acontece. No cinema é a mesma coisa, por mais que se preste atenção, algo sempre vai escapar pelas frestas.

Isso explica: Porque em Homem-Aranha, na cena em que Peter está treinando seu lançamento de teias no quarto, ele quebra o abajur verde para logo em seguida o mesmo dito cujo reaparecer do lado da porta quando ele vai dar um perdido na tia May. Aliás, os filmes de Sam Raimi são notórios por conter erros crassos de continuidade. Nesse caso, o continuísta de seus trabalhos deve ser ou filho do Mr. Magoo ou muito “bróder” do Sam Raimi.

Minha opinião: Absolutamente todos os filmes já rodados em qualquer parte do mundo apresentam ao menos um erro de continuidade. Mais que irritar os fãs, eles servem mais como uma brincadeira, do tipo ache o erro e ganhe um abraço, e inclusive há milhares de sites dedicados exclusivamente a apontar comidas de bola nos filmes, mais voltados para a diversão de se achá-los do que por criticá-los.

6 – QUE RAIOS É A TAL DA MARCA DE CIGARRO?

Você já deve ter ouvido falar nisso e até mesmo visto em filmes como Clube da Luta sobre a tal da marca de cigarro que todo filme tem.

O que a lenda urbana diz: Que fumar é legal e por isso a indústria do tabaco patrocina Hollywood.

A realidade: Um filme pronto para ser exibido vem em vários rolos, pois se fosse unido num só ficaria gigante e daria para dar a volta ao mundo. Sendo que ele vem em várias partes, o projecionista precisa saber quando é o momento de trocar de rolo, antes que o anterior acabe e você fique na companhia da tela em branco. Sendo assim, os estúdios colocam uma marca na película perto do fim de cada rolo para avisar ao profissional que chegou a hora da troca e ele possa executá-la sem que o espectador perceba o que aconteceu.

Essa marca geralmente fica no canto superior direito e é um círculo marrom pouco menor que uma cabeça que lembra uma queimadura de cigarro, daí o nome. Você com certeza já deve ter visto isso e agora sabe que não é sujeira, ela está lá pelo nobre propósito que acabei de explicar.

Isso explica: Duas coisas.

– Porque todo filme sempre tem a mesma sujeirinha no canto da tela independente do cinema onde é exibido.

– Porque nunca acontece um intervalo forçado porque o rolo acabou sem aviso prévio.

Minha opinião: Sério mesmo que tenho que ter opinião sobre isso? Então lá vai. Quer apostar quanto que, em tempos de politicamente correto, vai aparecer uns manés querendo mudar o nome disso de marca de cigarro pra… sei lá… auréolas angelicais?

Esperamos que os delfonautas tenham gostado desse nosso pequeno especial e mantenha-se delfonado para a próxima edição: “69 coisas que você não sabia sobre o cinema adulto”.