Lore

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Imagino que para esse pessoal do cinema mais adulto, ou de arte, se preferir, filmes sobre a 2ª Guerra Mundial focados no nazismo e/ou no holocausto sejam o equivalente a películas de super-heróis para nós nerds. Assim como para nós gente superpoderosa trajando roupas estranhas nunca é demais nas telonas, para esse pessoal, alemães de uniforme nazista ou judeus esquálidos de cabeça raspada parece ser sempre uma boa pedida.

Pois é, pelo teor da introdução já deu para adivinhar, Lore é mais uma produção a abordar uma das temáticas mais usadas (e batidas) da história da sétima arte. Pelo menos este aqui se aventura numa interessante mudança de foco.

Acontece que aqui acompanhamos o que acontece com os filhos de um oficial nazista no fim da guerra, quando ele e sua mulher são presos e o controle do território alemão é repartido entre os países aliados. Por ele vagam ainda milhares de prisioneiros libertados dos campos de concentração.

É nessa situação que Lore, a filha mais velha, tem de tomar conta dos irmãos menores enquanto cruzam o país para chegar até a casa da avó. E até concluírem essa jornada, passarão por muitas agruras. Pobres criancinhas da raça superior. Está ouvindo este som? É o meu dedo indicador se esfregando contra o polegar, no gesto universal de tocar o menor violino do mundo.

Pois embora centrar a narrativa em determinado aspecto do lado perdedor, algo pouco comum nos filmes do gênero, seja justamente o que o ajuda a se diferenciar da multidão de outros filmes da mesma temática, é ao mesmo tempo sua fraqueza. Pois simplesmente não dá para sentir pena dos personagens.

Mesmo eles sendo apenas crianças e, portanto, sem qualquer culpa por seguirem a doutrina nazista, não dá para separar isso do contexto histórico. E em diversos momentos suas atitudes não ajudam em nada a criar simpatia por elas. Em especial quando Lore conhece Thomas, outro viajante, e descobre que ele é judeu.

Todos eles estão na mesma situação de miséria. O cara, seja lá por qual motivo, está ajudando ela e os irmãos, e ainda assim ela se sente no direito de tratá-lo como um ser inferior, ainda que também não esconda a atração sexual que sente por ele.

No mais, temos aqui todos os elementos que constituem um clássico filme nada. Figurinos e cenários caprichados, uma fotografia bacana e aquela trilha sonora com o piano que sempre toca nos momentos mais tristes, tudo cuidadosamente calculado para passar certo ar de dramalhão à obra.

Lore é mais um dos inúmeros filmes sobre um tema já abordado de todos os ângulos e maneiras possíveis. Mas o faz justamente por um dos ângulos menos utilizados, o que o deixa uma cabeça à frente da maioria das produções do gênero. Contudo, mesmo isso não é suficiente para elevar sua qualidade geral. É um filme assistível, mas rapidamente esquecível. Se você ainda aguenta assistir a mais uma película sobre o assunto, vai fundo. Senão, melhor deixar para lá.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
lorePaís: Alemanha/Austrália/Reino Unido<br> Ano: 2012<br> Gênero: Drama<br> Duração: 109 minutos<br> Roteiro: Cate Shortland e Robin Mukherjee<br> Elenco: Saskia Rosendahl, Nele Trebs, André Frid e Mika Seidel.<br> Diretor: Cate Shortland<br> Distribuidor: Europa Filmes e Mares Filmes<br>