Imortais

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Quando Imortais começou a receber muito material de divulgação no começo do ano, eu não soube o que pensar. Por um lado, poderíamos ter um épico grego divertido, como 300, já que a dupla Gianni Nunnari e Mark Canton produziu os dois filmes. Por outro, parece que os grandes épicos gregos não estão se saindo muito bem nos últimos anos, sendo Fúria de Titãs o exemplo mais recente de como decepcionar fãs do gênero. Isso me deixou com expectativas bem menores do que a do restante dos delfianos aqui no Oráculo.

A história tem um potencial enorme: o herói Teseu deve impedir que o rei Hipérion consiga o Arco de Epiro, uma arma sagrada que pode destruir a jaula que prende os Titãs. Se isso acontecer, a guerra que havia terminado com a derrota dos Titãs pelos Deuses do Olimpo vai continuar e a coisa vai ficar muito, muito feia para os humanos e para os olímpicos.

Imortais cumpre o que promete na sinopse em partes, mas uma coisa é certa: ele não é o filme que todos nós esperávamos. Isso não acontece exatamente por causa de alguns clichês ou incoerências no roteiro, que embora atrapalhem, poderiam ser ignorados se o restante da obra fosse muito bom. O problema é que algumas escolhas quanto à caracterização dos personagens e ambientação da história são ruins demais.

Teseu é famoso na mitologia por ter matado o Minotauro, então seria legal que eles encaixassem a besta em algum momento da história. Eles encaixam o bicho? Sim e não, delfonauta, depende do seu ponto de vista. Em um momento, o rei Hipérion manda seus servos enviarem a tal besta atrás de Teseu e seus amigos, que estão atrapalhando os planos do vilão. Legal, então agora vai aparecer o Minotauro, né? Não exatamente, porque quando a “besta” surge, descobrimos que ela é na verdade um cara que usa uma máscara de Touro. Nós queríamos ver um monstro babão gigantesco, pô! Ver essa cena tão cara-de-pau passa uma sensação semelhante a, sei lá, quando você se apaixona por uma garota e descobre que ela não é uma garota.

Observação importantíssima: a situação descrita no último parágrafo nunca aconteceu comigo.

A história tem algumas incoerências bizarras também, que acredito terem sido causadas mais por uma má edição do que por erros do roteiro. É o caso de um companheiro de Teseu que, tão logo se juntou ao grupo, é morto. Tudo bem, o sujeito não era relevante, mas coitado, pô! Algumas mulheres importantíssimas para a trama são capturadas pelos inimigos literalmente do nada: em uma cena eles estão com dificuldades em achá-las para pouco tempo depois conseguirem prender as moçoilas em cativeiro. Se fosse só esses os problemas, tudo bem, mas até a parte “mística/sobrenatural” (leia-se: quebra pau entre Deuses e Titãs), que deveria ser o mais forte do longa, é difícil de engolir.

FÚRIA DE TITÃS

Os Titãs de Imortais são os mais genéricos e sem graça de toda a cultura pop, delfonauta. Os caras até parecem zumbis saídos de Eu Sou a Lenda. E isso é muito broxante para quem gosta de mitologia grega e sabe da importância desses personagens nos mitos e fábulas desta cultura. Nenhum nome de qualquer Titã, nem mesmo o mais importante e famoso, o Cronos, é sequer mencionado durante o longa inteiro.

Os Deuses do Olimpo sofrem um problema semelhante, já que alguns deles também não são chamados pelo nome em momento algum, como é o caso de Ares. O que não ajuda é que eles usam armaduras parecidíssimas umas com as outras e não possuem muitos elementos diferentes entre eles. Atena destaca-se por ser a única mulher do grupo e Poseidon por possuir o tridente. Se Zeus não aparecesse mais do que os outros, por exemplo, seria difícil diferenciá-lo também.

Achei bem legal a escolha dos atores para as posições dos deuses. Eles são muito jovens, bonitos e não se parecem em nada com atores de outras adaptações que já vi por aí (calma, deixa eu terminar o raciocínio antes de você pensar besteira). Se eles tivessem tempo suficiente de tela, poderiam render interpretações interessantes e diferentes do que estamos acostumados com o gênero, afinal, os deuses gregos são basicamente humanos comuns com super poderes e egos enormes, o que para mim combina com o look do pessoal do Olimpo neste filme.

O curioso é que, por mais que os Deuses e Titãs tenham vários defeitos, as cenas nas quais eles aparecem são as melhores do longa inteiro! Tirando essas coisas questionáveis que fazem a gente torcer o nariz e fazer cara feia, as cenas de luta dos deuses são simplesmente demais, lindas de serem vistas mesmo. Uma pena que sejam tão curtas, mas pelo menos elas não decepcionam em momento algum. E aí sim podemos ver a influência do herói Kratos, porque alguns golpes são muito parecidos. A violência nas batalhas dos deuses, em especial, relembra muito as brigas de God of War e o longa ganha alguns pontinhos por isso.

Outra coisa que foi bastante alardeada durante a divulgação de Imortais foi a presença de Mickey Rourke na pele do vilão Hipérion. O ator com nome daquele rato da Disney naturalmente tem cara de mau e conseguiu sem grandes dificuldades mostrar como é malvado. Na trama, ele também tem uma história parecida com a do Kratos, mas não dá para engolir, pois o filme trata tudo de forma extremamente maniqueísta. Isso na mitologia grega não cola, e não é à toa que God of War foi longe do jeito que foi. O game saiu do preto e branco e apresentou situações complicadas que fogem do bem/mal.

Essa falta de profundidade faz com que os personagens sofram também, e eu pelo menos não consegui torcer muito por nenhum dos protagonistas. Zeus, no entanto, parece ser mais trabalhado e tem algumas falas muito interessantes, que basicamente resumem o que penso sobre a ausência de intervenção divina na Terra. Com ele eu me importei mais.

É engraçado que só estou pensando em todos os problemas deste filme enquanto escrevo este texto, porque durante toda a sua duração, não tive a sensação de estar vendo uma grande porcaria ou o pior filme do ano. Talvez pelas minhas expectativas baixas neste ano, talvez por encarar Imortais apenas como um leve entretenimento, não consigo ficar muito passional com os diversos defeitos dele.

Imortais parece ter sido um tiro que não deu certo, com várias excelentes ideias, mas com tantos problemas que acabam tornando-o muito aquém do que todos esperavam. Hollywood precisa levar os conceitos, histórias e abordagens da mitologia grega a sério, e fazer adaptações que ajudem a história, não que destruam todas as noções das pessoas que o assistirem sobre o que são Titãs, Deuses, entre outras coisas. Assim, Imortais é um filme nada, que pode subir ou descer no seu conceito dependendo do seu humor. Uma pena.

Curiosidades:

– Duas cenas de luta com Teseu são excelentes, porque colocam o cara da esquerda para a direita matando tudo o que se mexe. Referência a games 2D sempre são muito legais.

– O elenco deste filme tem algumas peças fundamentais para o futuro do cinema nerd. Henry Cavill (Teseu) será o Super-Homem e Luke Evans (Zeus) é Bard em O Hobbit. Já Mickey Rourke pulou fora de Os Mercenários, mas tem no currículo Homem de Ferro 2.

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Nota
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Daniel Villela
Daniel adora heavy metal, rock progressivo e Frank Zappa, jogos de FPS, aventura, plataforma e RPG, é fanático pelo MCU, curte séries de TV como Mad Men, Breaking Bad, Demolidor, 24 Horas, Friends e The IT Crowd. No lado profissional, é formado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação Empresarial e trabalha na área de Marketing.
imortaisPaís: Estados Unidos<br> Ano: 2011<br> Elenco: Henry Cavill, Mickey Rourke, Luke Evans, Stephen Dorff, Freida Pinto e John Hurt.<br> Produtor: Gianni Nunnari e Mark Canton<br> Diretor: Tarsem Singh<br> Distribuidor: Imagem<br>