Ídolos

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Quando fiquei sabendo que a emissora do Silvio Santos faria uma versão tupiniquim do American Idol achei que poderia ser até legal. Sinceramente, acho que o programa original é uma obra de gênio, uma verdadeira fábrica de celebridades (o que pode ser ou não positivo, dependendo da sua forma de encarar). O programa fatura um dinheirão através dos anúncios (como qualquer outro programa) e, nos intervalos entre as temporadas, fatura ainda mais vendendo os discos dos finalistas. Para completar, ainda podem fazer um marketing social dizendo que a idéia do programa “não é fazer dinheiro, é realizar sonhos”. “Mingana” que eu gosto.

Além disso, o programa original é até legal, principalmente as primeiras fases, antes de os finalistas serem escolhidos. No início, é divertido pelas coisas ridículas que aparecem. Depois, na parte que eles formam grupos e tal, é interessante porque todo ser humano adora ver um barraco (pois é, a gente fede!). No final, quando todos os presentes já sabem cantar, vira simplesmente um programa musical e aí já não é tão divertido.

Verdade seja dita, boa parte do apelo do original vem dos jurados, sobretudo do Simon. Ele é aquele personagem friamente calculado para que o público ame odiá-lo. Fala sério, estar na platéia do American Idol e vaiar o Simon deve ser deveras divertido. Já a ex-cantora Paula Abdul é a boazinha, aquela que gosta de quase tudo. E Randy… bem, ele realmente não tem lá muito carisma, já que, na minha opinião, parece ser o mais sacana dos três, mais até do que o Simon.

Infelizmente, assim que tentei assistir à versão brasileira, já não gostei do que vi. Não curti aquele jeito mezzo-mano, mezzo boyzinho/patty dos apresentadores, mas pelamordedeus, que jurados são aqueles? O único do qual eu já tinha ouvido falar e que me parece o único que merece o posto, era o meu xará, o Carlos Eduardo Miranda, já que nos anos 90 ele ficou bem famoso por ter participado do lançamento de bandas como Raimundos ou Skank. Só que ele era bem mais simpático naquela época, agora parece um daqueles roqueiros sacanas e amargos que acha que nada de bom surgiu no meio musical desde os Beatles. O tal do Thomas Roth é completamente sem sal, mas mesmo assim parece ser um sacana. A Cyz é uma perfeita desconhecida, como diria o Deep Purple. É bonitinha, e eu adoro sotaques (já que sou paulistano, acho que todo mundo tem sotaque menos eu :P), mas não chega nem perto do carisma da Paula Abdul. Ah, e ela é sacana!

Por fim, o Arnaldo Saccomani é o cara escolhido para ser o Simon brasileiro. Só que lhe falta o carisma do original. Tem jeito de ser um tremendo sacana e essa impressão foi reforçada quando rolou aquela história de que uma das finalistas do programa tinha um CD gravado por ele, o que não dá para saber se foi uma desonestidade só do Arnaldo e da guria ou de todos os envolvidos no programa. Ah, sim, e a maior conquista da carreira dele foi ter produzido, ou algo parecido, um disco do Tiririca. Irgh!

Pô, peraí. Eu sempre digo que ser Pop não é sinônimo de ser ruim. Por que não pegam alguém que já participou de coisas boas da música Pop brasileira? No lugar da Cyz, poderíamos ter Rita Lee, por exemplo. E entre os jurados, por que não colocar pessoas que já tocaram ou produziram coisas do Chico Buarque ou mesmo Leandro e Leonardo que seja. Tiririca é demais, pô! É o lixo do lixo da música nacional! Até o Falcão seria melhor que isso.

Com jurados como esses, o programa já perde muito da graça. Quando fui assisti-lo, demorei muito para perceber qual deles era o “Simon” do programa, já que todos eles me pareciam extremamente arrogantes e antipáticos. E, ao contrário de Simon, ou mesmo de Randy, não têm uma carreira que justifique essa postura. E nem o carisma, que talvez seja até mais importante.

E o vencedor da primeira temporada, o tal do Leandro Lopes. Sinceramente, nem sabia quem tinha vencido, descobri durante a pesquisa para escrever este texto. Não cheguei a ver o CD dele à venda em nenhum lugar (tudo bem, eu também não procurei, mas normalmente também não procuro coisas como Mariah Carey e mesmo assim eu vejo por aí). Procurei no Submarino pelo nome do dito cujo e a única coisa que encontrei foi isso aqui, que é uma coletânea com os finalistas.

Uma procura bem mais aprofundada, me levou a um site divulgado como oficial do fulano, mas curiosamente, em uma das notícias, eles dizem que é oficial apenas pelos fãs, não tendo nenhuma relação com a gravadora e tal. Então não é oficial, cacilda! E não, não era mesmo, já que depois encontrei o oficial de verdade, onde tinha apenas uma foto dele. Mas enfim, na parte de discografia desse site consta o álbum Por Você.

Mas, poxa, ninguém ouviu falar desse álbum. Eu falei inclusive com pessoas da imprensa que me garantiram que não tinha saído (pelo jeito estavam meio desinformados), o que mostra como a divulgação do rapaz deixou a dever. Agora para que fazer um programa como esse se você não vai promover a carreira do cara depois? De celebridades anônimas o Brasil já está cheio, não precisávamos de mais (aliás, uma curiosidade divertida, a agência de Leandro é a mesma do Angra).

Tudo isso é ainda piorado pela falta de carisma dos participantes. Todos os finalistas pareciam pessoas normais, que você encontra em qualquer ponto de ônibus, não ídolos Pop. E não dá para negar, de Elvis Presley a Britney Spears, passando até mesmo por Chitãozinho & Xororó, a aparência é importante para alguém que almeje esse posto. E o povão não costuma ter esse visual esperado de um ídolo. Talvez isso contribua para o aparente descaso com o CD do pobre vencedor da primeira temporada, a mais nova celebridade anônima do Brasil. Assim que o programa acabou, ele fez um show no Credicard Hall. Agora, pelo que dizem, está fazendo shows para umas 200 pessoas. E provavelmente nunca vai conseguir voltar ao auge.

E, sinceramente, tirando uma mudança drástica nos jurados, não sei o que eu faria para adequar este programa à realidade brasileira. Talvez antes de começarmos a fabricar ídolos, seja melhor fabricarmos escolas, hospitais e demais et ceteras dos quais o nosso povo tanto precisa. Senão o máximo que conseguiremos é um bando de celebridades anônimas, como o ilustre desconhecido Leandro Lopes.

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