Histórias de Cronópios e de Famas

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Tive contato com este livro através de um professor da faculdade que, entre outras coisas, nos obrigou a escolher um dos 30 livros que ele colocou na lousa (na verdade, ele escreveu os títulos na lousa), ler e fazer uma resenha bem curta. Felizmente, as opções eram muito interessantes, e ele descreveu brevemente o tema de cada história, então não foi difícil fazer a escolha. Quando ouvi descrições do humor nonsense presente neste livro, decidi que era ele que eu iria arriscar.

A primeira coisa que achei interessante é que há muitas situações no livro com as quais me identifiquei. Coisa de subúrbio mesmo, ou da vida cotidiana em geral. Talvez pelo autor Julio Cortázar ser argentino, afinal, os hermanos têm muita coisa em comum com os brasileiros.

Agora uma coisa que talvez os delfonautas estejam pensando desde o começo da resenha. O que diabos são cronópios e famas, certo? Bem, são criaturas bem parecidas com a gente, apenas com nomes esquisitos. E elas estão presentes no último capítulo do livro. Oras, como assim?

Apesar do título, o livro trata de diversos temas de formas diferentes que se complementam, e é dividido em quatro partes: “Manual de instruções”, “Estranhas ocupações”, “Matéria plástica” e, claro, “Histórias de cronópios e de famas”. Todos são compostos de crônicas, geralmente curtas. Vamos a cada uma das divisões:

Manual de instruções

O primeiro capítulo é um manual de instruções atípico, de humor bobo, que ensina como subir uma escada, por exemplo. Um bem bacana é a instrução de como chorar (aí está algo essencial nessa vida). Muito curto (apenas 14 páginas), funciona apenas mesmo como introdução.

Estranhas ocupações

Este narra algumas situações absurdas de uma família bem peculiar, e é um dos mais legais. Ao lado dos cronópios e de famas, é o que tem mais críticas ao cotidiano e às pessoas, além de boas doses de humor nonsense. Em um momento, por exemplo, para evitar a “horrível tendência à consecução de fins úteis”, um dos personagens tira um fio de cabelo da cabeça e faz um nó, apenas para jogar na pia do banheiro, abrir a torneira e deixá-lo ir embora. Depois, o objetivo é recuperar o tal fio! Outro capítulo bastante interessante é “comportamento no velório”, que critica o excesso de gente que não se importa com o defunto, mas está lá por necessidade de fingimento.

Matéria plástica

Sem dúvida, o mais sem sentido dos quatro. É também o mais longo. Novamente, o foco principal é em situações cotidianas, mas em alguns a linguagem fica um pouco mais poética e trata de outras coisas, como camelos e geografia de formigas (?). Para mim, o menos divertido, porque as histórias não têm ligação alguma entre elas e a reflexão proposta não é tão boa quanto a dos outros capítulos.

Histórias de cronópios e de famas

Aqui, existem três tipos de seres na sociedade: os cronópios, os famas e as esperanças. Os cronópios são os loucos do grupo, sonhadores e se divertem com as coisas mais simples, além de serem muito agradecidos por atos generosos; os famas são burocráticos, calmos e metodológicos, e as esperanças apenas estão lá, esperando. Cada conto mostra um pouco do tipo da personalidade desses personagens, em situações muitas vezes absurdas e em outras mais cotidianas.

Em uma das minhas partes favoritas, um cronópio é nomeado diretor-geral de radiofusão, e já de cara manda traduzirem todos os textos, anúncios e músicas para o romeno. Os famas ficam perplexos com isso, afinal, na Argentina não se fala romeno. Um pelotão do exército é, então, ordenado a fuzilar o tal cronópio (!). Depois de restabelecida a ordem, os famas aprendem a falar romeno, porque são muito precavidos e não confiam mais no serviço público.

O ponto fraco do livro é que, por ser totalmente dividido, os capítulos legais ficam com aquela sensação de vazio do tipo “já acabou”? Mesmo assim, é uma leitura boa, leve e divertida, com direito a reflexão e humor nonsense, algo que o DELFOS é muito a favor. Você encontra o livro aqui.