Firewall Ultra é um daqueles 12 jogos de serviço que a Sony divulgou que estavam em produção para seus consoles. Por acaso, é também o primeiro first party de PS VR2 desde o título de lançamento Horizon Call of the Mountain.

Cá entre nós, se tem algo que não combina com VR é socialização. Ainda assim, Firewall Ultra é um daqueles jogos que só pode ser jogado online. Ou seja, para usufruir de Firewall Ultra você precisa ter um PS5, um PS VR2, o jogo (que não é free to play) e uma assinatura ativa na Plus. É uma quantidade de barreiras considerável, que limita a quantidade de público potencial. O problema é que, como um jogo exclusivamente online, ele simplesmente depende de ter gente jogando para existir. Mas vamos por partes.

Como todo jogo de serviço, ele tem um roadmap com um monte de coisa que a desenvolvedora First Contact Entertainment promete adicionar. Mas neste momento, ele tem bem pouca coisa. Vamos passar por tudo.

SINGLE PLAYER

Firewall Ultra, Sony, PS VR2, Delfos

A única coisa que você pode fazer sozinho é o tutorial, uma área aberta onde você aprende a mexer com os controles e pode treinar à vontade. Há também um pequeno time trial, por onde você deve passar correndo e atirando nos bandidos de madeira, enquanto evita os reféns, também de madeira. Esta é a primeira área que você vai ver no jogo.

Depois disso, é transportado para a safehouse, onde tem uma área de tiro e alguns menus. Curiosamente, eu encontrei a loja onde ele queria me vender microtransações em dinheiro real antes mesmo de descobrir como fazia para iniciar um jogo.

Firewall Ultra, Sony, PS VR2, Delfos
Que tal comprar 500 moedas de mentira com seu dinheiro real?

Basicamente é isso. Para todo o resto, você precisa de uma assinatura na Plus.

FIREWALL ULTRA: PVE

Há apenas dois modos de jogo, PVP e PVE. Vamos falar primeiro deste último. Nele, você é juntado com mais três coleguinhas e tem a missão de hackear alguns computadores enquanto bots tentam te pegar.

Firewall Ultra, Sony, PS VR2, Delfos

Até onde pude perceber, os bots são infinitos, e continuam vindo até você cumprir o objetivo. Porém, morrer já era. Em todas as minhas partidas, eu matei uma pá de gente, mas assim que morri deu game over. Com o tempo que tive para jogar, admito que não sei se o jogo termina quando o time todo morre ao mesmo tempo ou se todo mundo tem apenas uma vida. Seja qual for o caso, em todas as minhas partidas, meu time falhou imediatamente quando eu morri.

Isso quando o jogo funciona. Porque Firewall Ultra já está sendo lançado com seu atestado de óbito decretado. Simplesmente não tem gente suficiente jogando.

PVP: SEM SERVIÇO

Firewall Ultra, Sony, PS VR2, Delfos

Eu demorei cerca de 10 minutos para encontrar uma partida no PVE.  Quando entrei em um time, ficamos simplesmente os quatro patetas olhando um para o outro sem ninguém saber como iniciar o jogo. Acabou que as pessoas começaram a sair. Saí e tentei de novo. Voltei para a mesma sala, onde só tinha sobrado um caboclo. Daí aparentemente entraram outros que sabiam iniciar a partida e o fizeram.

No PVP, a história foi outra. Eu ficava um tempão esperando encontrar uma partida. E se isso já é chato num matchmaking normal, estar “preso” em um headset deixa ainda mais entediante ficar esperando. Finalmente, parecia que o jogo começaria, mas daí recebi a mensagem acima. Isso aconteceu três vezes, com intervalos de cinco a dez minutos entre cada uma. Numa das mensagens dizia que o matchmaking falhou porque a partida tinha sido iniciada. Eu desisti sem ser capaz de jogar nenhum PVP.

FIREWALL ULTRA: O JOGO EM SI

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Falando sobre o jogo em si, temos aqui uma construção técnica impressionante. O visual é realista e detalhado, e não deixa nada a dever a um Call of Duty. Sem exagerar, acredito que temos aqui o visual mais realista e impressionante que já vi em VR.

Os controles falham um pouco. Boa parte dos menus exige olhar para onde deseja pressionar, sem possibilidade de selecionar com o controle. Isso é inconveniente por dois motivos: 1 – O tracking não é bom o suficiente. 2 – Ele mostra os botões que devem ser apertados para selecionar fora da área. Quando você muda o olhar para lá, os botões somem, e não dá para enxergar olhando o menu. Isso é mais complicado pelo fato de que ele exige que você navegue pelos menus com L1 e R1 (fica a dica).

gameplay em si é melhor, com um excelente uso da vibração. Porém, é também bastante complicado. Para mirar, você precisa segurar a arma com as duas mãos (segurando L1), daí apertar o L2 para aproximar, fechar um dos olhos para poder enxergar o pontinho vermelho, e só daí apertar R2 para atirar. É botão demais, é muita coisa para lembrar no meio de um tiroteio desenfreado. Mas até aí, Firewall Ultra quer ser um shooter tático. Tático é diferente de complicado, mas imagino que pode ter gente que curta toda essa administração de botões e movimentos. Eu nunca mirei uma arma de verdade, mas me parece que seria mais intuitivo e fácil na vida real do que no game.

FIREWALL ULTRA É UM GAME NATIMORTO

Firewall Ultra, Sony, PS VR2, Delfos

Sinceramente, eu não vejo futuro para Firewall Ultra. Se na semana do lançamento já é difícil desse jeito sequer conseguir uma partida, a ponto de você sair de uma e voltar à sala do mesmo cara depois, não sinto que o público vai crescer com o tempo. E, sem público em um jogo de serviço, ele acaba cancelado, como já aconteceu com tantos outros. Acredito ser uma questão de meses para o roadmap divulgado ser consideravelmente alterado ou cancelado de vez.

Vejo dois problemas que causam isso. Talvez o principal seja o quanto ele exige do público financeiramente (a história do cara ter que comprar o PS5, o PS VR2, o jogo e uma assinatura da Plus). Talvez free to play tivesse sido um caminho mais apropriado para um multiplayer em VR disponível apenas no PS5. Daí pelo menos todos que têm o headset poderiam experimentar, e muitos iriam gostar.

PARA QUEM TEM TUDO, NÃO TEM JOGO

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Porém, mesmo para aqueles que têm tudo isso, simplesmente não há conteúdo para sustentar o jogo. Eu joguei três partidas do modo único de PVE e admito que já foi o suficiente. Senti que já tinha visto tudo que ele oferecia. O PVP também tem um modo único, que sequer consegui experimentar, mas mesmo que tivesse, não acho que ele teria me entretido por mais do que isso. E eu estava jogando para review, literalmente me forçando a passar tempo com ele. Alguém que esteja simplesmente jogando por diversão não vai ter muito o que fazer, e vai abandonar rapidinho.

No fim, o apelo de um jogo de serviço é que as pessoas podem jogar para sempre. Porém, acho extremamente difícil que qualquer pessoa acumule em Firewall Ultra o tempo que levou para terminar a campanha one-shot de God of War Ragnarok. Que mundo irônico, não?