Brian De Palma é um dos mais elogiados cineastas estadunidenses das últimas décadas. Contemporâneo e amigo da turminha que reúne grandes nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg, junto com eles ajudou a revolucionar o cinema estadunidense da década de 1970, aliando uma pegada autoral a obras de grande viabilidade comercial, equilibrando bem a balança entre integridade artística e sucesso nas bilheterias.
Dono de uma filmografia extensa que compreende inúmeros clássicos do cinema, acabou virando tema de um documentário pelas mãos dos cineastas Noah Baumbach e Jake Paltrow, focado justamente no que o fez famoso: seu trabalho atrás das câmeras.
A vida pessoal do diretor nascido em Nova Jérsei é apenas pincelada por alto, para dar uma ambientação geral no começo do documentário. Assim, este não é um trabalho que vá agradar quem prefere conhecer o cunho humano dos biografados. O filme prefere mesmo é fazer uma geral por todos os longas de De Palma.
O próprio diretor, através de depoimentos para a câmera, vai falando de um por um, intercalando fotos e imagens de bastidores com cenas dos longas em questão. É uma boa geral em sua carreira, explicada pelo próprio diretor, que também conta algumas anedotas de bastidores da indústria e de relacionamento com outros profissionais e atores.
Para mim, o mais interessante é mesmo quando ele foca em suas influências e principalmente em suas técnicas de filmagem. Louco por Alfred Hitchcock, De Palma é tido como um dos principais discípulos do mestre do suspense, até ao ponto do exagero, visto que alguns de seus filmes bebem tanto na fonte hitchcockiana que chegam a beirar mais o plágio do que a homenagem e a influência (Vestida para Matar, estou falando com você!).
Também era famoso por um grande domínio da técnica e certas inovações para a época, como o uso de telas divididas. E por uma predileção por tomadas extremamente complicadas, como longos planos-sequência e trucagens de perspectiva. Para quem gosta desta parte mais técnica, é um prato cheio ouvi-lo falar a respeito.
Claro, para os fãs mais casuais, ele também fala sobre a motivação e as experiências, sendo que aí o mais legal é quando o foco passa para alguns de seus filmes mais conhecidos e bem sucedidos, como Carrie, a Estranha (1976), Scarface (1983), Os Intocáveis (1987), O Pagamento Final (1993) e o primeiro Missão: Impossível (1996).
Também fala um pouco sobre seu desencanto com a indústria, que o fez se afastar de Hollywood e passar a rodar seus filmes mais recentes (e já longe de seu auge criativo) pela Europa.
No geral, é um trabalho bastante didático, e até um tanto superficial (teria de ter o dobro de duração para poder se aprofundar mais em cada filme), seguindo a ordem cronológica de sua filmografia. Para quem conhece toda ou quase toda sua obra, não há grandes surpresas e a graça é mesmo ver o próprio De Palma falando com propriedade sobre seu trabalho e sua visão como cineasta.
Mas acho que o filme funciona melhor mesmo para aqueles que não o conhecem tão bem e têm vontade de se aprofundar melhor em seu universo. Neste caso, acredito que o documentário é muito bem-sucedido em atiçar a curiosidade e a vontade de conhecer mais de seus filmes. Seja como for, para os fãs de um bom cinema, ou para quem quer uma porta de entrada, De Palma funciona bem e merece a assistida.