Todo mundo reclamou da versão do Venom interpretada pelo Eric Forman no famigerado Homem-Aranha 3. Aquele não era o personagem como deveria ter sido feito, faltou músculos, ficou bobo… Não faltaram justificativas para a decepção com ele no último capítulo da trilogia de Sam Raimi.

Bom, pelo menos pior que aquilo um filme solo do anti-herói não poderia ficar, certo? Bem, tal qual um Barney Stinson do mal, Hollywood disse “challenge accepted!” e nos entrega Venom. Nas já famosas palavras proferidas pelo protagonista no trailer, ficou algo muito próximo a um cocô rolando ao vento.

EU COMI A CABEÇA DELE

Comecemos do começo. Ao menos conseguiram acertar no desafio mais fácil da produção: desvincular a origem do personagem do Homem-Aranha, que no momento se encontra lépido e faceiro de volta ao lar.

Delfos, Venom
Rapaz fotogênico!

Desta forma, entra a Fundação Vida que, ao explorar o espaço, acaba trazendo de volta alguns simbiontes, cuja fusão com os seres humanos seu presidente, Carlton Drake, acredita ser a chave para que as pessoas possam viver no espaço no futuro.

Eddie Brock, um jornalista investigativo, fica sabendo que Drake e sua empresa estão promovendo experiências com seres humanos e que essas cobaias acabam mortas. Um dia, ele consegue acesso aos laboratórios e encontra um novo amiguinho vindo do espaço, que irá fixar residência em seu corpo. Surge Venom, que passa a ser caçado pela Fundação Vida.

O filme possui alguns elementos das HQs solo do personagem e outras referências aos seus quadrinhos, como não poderia deixar de ser em filmes que adaptam gibis. Mas é mais ou menos por aí que se encerram os pontos positivos.

ACHO QUE ESTOU COM UM PARASITADelfos, Venom, Cartaz

Bem, a história é simples, simplória até. O roteiro é simplesmente muito ruim. Há furos de lógica, personagens sem qualquer motivação além de “porque ele é mau” e o próprio simbionte que forma Venom com Eddie Brock tem um arco pra lá de risível.

Os diálogos… Ah, os diálogos. A coisa é mesmo do nível do que vimos nos trailers e só piora. Impressiona o fato de terem sido necessárias três pessoas para escrever algo que parece ter saído dos sonhos molhados de um moleque de 13 anos fã hardcore dos primeiros anos da Image Comics, quando tudo era extremo, radical, violento e musculoso.

Algo perfeitamente exemplificado pela relação entre Eddie e o simbionte, que se comporta como um moleque mal-criado pagando de perigosão e fala com voz de cantor de death metal.

Aliás, essas interações entre eles, especialmente as primeiras ameaças de transformação, me lembraram muito Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (2011). Sim, a coisa é desse naipe. E o resto dos efeitos especiais não é muito melhor. Não chega a ser propriamente tosco, mas fiquei com a maior impressão de algo que não parecia totalmente finalizado. As texturas dos simbiontes mais pareciam algo feito para uma pré-visualização do que um produto totalmente acabado.

Delfos, Venom
O simbionte e Eddie Brock discutindo a relação.

E quanto às cenas de ação, é praticamente tudo que está nos trailers. Genéricas, previsíveis, pouco empolgantes.

NÓS SOMOS VENOM

Já que falei de Motoqueiro Fantasma, vale dizer também que Tom Hardy encarou um “modo Nicolas Cage” e entregou uma interpretação… bem, no mínimo curiosa. Cheia de momentos hilários (ainda que não intencionais), de uma intensidade que só mesmo o mestre Cage consegue equiparar.

Por incrível que pareça, este foi um dos pontos que me ajudaram a suportar a experiência, e a todo momento fiquei imaginando como seria se ele fizesse essa mesma interpretação, só que com a voz do Bane! Se for ao cinema, experimente você também!

No mais, o longa nunca se decide se vai por um caminho mais influenciado pelo terror (em alguns momentos ele me lembrou A Experiência), se vira ação pura ou se abraça de vez a fanfarronice do protagonista e ruma com tudo para um caminho trash, o que, no fim, ele virou mesmo sem querer.

Delfos, Venom
Uma cena que já nasceu clássica.

Venom é totalmente equivocado em todos os sentidos. Fraco, previsível, descuidado, tão ruim que quase dá a volta e fica bom pelos motivos errados. Faz dar saudades da versão de Topher Grace em Homem-Aranha 3.

A Sony, da mesma forma como não aprendeu a explorar o Homem-Aranha, também não se deu bem com seu universo de coadjuvantes. Ao menos não nessa primeira tentativa. Poderia seguir o mesmo caminho do teioso e entregá-lo para quem manja. Seria, com o perdão do trocadilho, uma melhor simbiose.

CURIOSIDADE:

– Há duas cenas pós-créditos. Então, nada de sair na pressa. O filme é ruim, mas você vai querer assisti-las.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorAnálise Mega Man 11: gameplay novo, fórmula clássica
Próximo artigoCrítica: Papillon é a fuga de prisão mais demorada de todas
Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-venom-reviewTítulo: Venom<br> País: EUA<br> Ano: 2018<br> Gênero: Ação<br> Duração: 112 minutos<br> Distribuidora: Sony<br> Data de estreia: 04/10/2018<br> Direção: Ruben Fleischer<br> Roteiro: Scott Rosenberg, Jeff Pinkner, Kelly Marcel e Will Beall<br> Elenco: Tom Hardy, Michelle Williams, Jenny Slate e Riz Ahmed.