Crise Infinita

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Crise nas Infinitas Terras, a mega-saga responsável por colocar ordem na então confusa cronologia da DC Comics e limar todas aquelas Terras paralelas, deixando apenas uma, completou 20 anos recentemente.

Em um misto de homenagem e continuação, foi criada essa nova crise, a Crise Infinita, que embora não seja uma maxissérie como sua inspiração de 20 anos atrás (esta tem só sete capítulos), se estendeu por todos os títulos regulares da editora durante o período de sua publicação, e já havia prenúncios de sua chegada cuidadosamente plantados alguns anos antes dela de fato chegar às bancas.

Antes disso saiu ainda a Crise de Identidade, o que me leva a perguntar: por que diabos a DC tem esse fetiche por crises? E no caso da Crise Infinita, por que fazer uma saga dessas se o universo DC estava em ordem?

Bem, fora questões como lucro e prestigiar a data dos 20 anos da Crise original, me parece que a resposta é justamente fazer o oposto da tal saga nas Infinitas Terras. Enquanto sua ancestral acabou com os mundos paralelos, Crise Infinita aparentemente os trouxe de volta, o que eu não acho uma boa idéia. Afinal, se não houver um pulso firme editorial, periga descambar para a mesma situação de 20 anos atrás, com uma cronologia confusa para os fãs e impenetrável para os leigos, afastando novos leitores.

Mas por enquanto isso é apenas uma preocupação. O que importa aqui é falar da saga, não é mesmo? Mas antes um aviso, não há como entrar na história sem revelar alguns spoilers. Portanto, se você ainda não leu e não quer estragar nenhuma surpresa, faça o favor de pular o próximo parágrafo. De acordo?

Pois bem, Alexander Luthor, da Terra-X, Superboy da Terra Primordial e Superman e Lois Lane da Terra-2 sobreviveram à Crise nas Infinitas Terras numa espécie de limbo criado por Alexander Luthor. De lá, acompanharam tudo que aconteceu até aqui na Terra restante, e não ficaram nada satisfeitos ao constatarem que essa realidade é mais sombria do que eles estavam acostumados. Fatos como a Crise de Identidade, com heróis sem confiança um no outro, jamais deveriam acontecer, sob sua ótica. Luthor, com a ajuda do Superboy, e manipulando o Superman da Terra-2, põe em prática um plano para escapar do tal limbo e trazer de volta a Terra-2, apagando a atual da existência. Obviamente você já desconfia que nesse processo ele traz de volta todo o chamado multiverso. E aí, cabe a uma batelada de heróis, mais especificamente todos da editora, evitar que a sua Terra seja obliterada e tentar deter a Crise deflagrada pelos três encrenqueiros.

Essa coisa simples é a trama da série. O que a deixa mais interessante é ver como tudo que aconteceu imediatamente antes, sobretudo as séries publicadas aqui em Contagem Regressiva para Crise Infinita se encaixam na saga. Assim como revistas de linha, que foram verdadeiras extensões da série durante sua publicação, tornando-a uma história de proporções homéricas. Mas esse é também o tendão de Aquiles de Crise Infinita.

Quem não acompanha todas as revistas da DC ou é apenas um leitor casual de especiais, vai boiar e boiar feio. Então não recomendo essa saga pra quem não é fã da DC. Devo dizer que até eu, que acompanho tudo, fiquei confuso várias vezes.

É mais ou menos assim: num número de Crise Infinita, começa a acontecer um fato. Ele se desenrola em alguma revista mensal (tipo Superman) e na próxima edição de Crise Infinita ele já está dado por resolvido, sem maiores menções. O fato de não ser uma minissérie autocontida, fora os contras já mencionados acima, prejudica e muito a linearidade da história, deixando as sete edições da mini muito confusas em determinados momentos. Perde-se um pouco a noção do que exatamente está acontecendo. Principalmente porque ocorrem várias coisas ao mesmo tempo.

A impressão que eu tive ao ler é que havia material para umas dez edições, mas por algum motivo ele teve de ser lançado em apenas sete. Aí, o sempre competente roteirista Geoff Johns (Lanterna Verde – Renascimento) teve de enfiar um monte de informação em pouco espaço e não teve jeito, deixou o cara meio perdidão. Para se ter uma idéia, nem fica de fato claro se o multiverso realmente voltou! Essa informação eu só confirmei ao ler sinopses das próximas sagas da DC nos EUA.

Contribui para essa confusão a arte de Phil Jimenez, um dos mais talentosos imitadores de George Pérez (o desenhista de Crise nas Infinitas Terras). Ele literalmente faz uma overdose de quadros por páginas, cada uma entupida por incontáveis personagens. Particularmente, não sou fã desse tipo de arte poluída demais. Mas no geral, seu traço é bom, ainda que eu ache que a série teria sido bem melhor se tivesse ficado nas mãos do brasileiro Ivan Reis, que ilustrou algumas páginas da saga.

Apesar dos problemas, também há momentos muito bons, com vários heróis sendo exterminados. OK, a maioria era do terceiro escalão, mas eu realmente gostava do personagem cuja morte foi tratada como a da saga. Também há inúmeras referências à Crise nas Infinitas Terras e ao final o universo DC ganha mais um supervilão bacana.

No saldo geral, as histórias que antecederam Crise Infinita foram bem tremendonas. E o salto de um ano na cronologia que aconteceu ao final da saga é interessante e oferece a possibilidade de boas histórias (o que aconteceu nesse ano saltado será mostrado na maxissérie 52, que a Panini vai publicar em 13 edições). Mas a Crise Infinita em si, apesar de boa leitura (apenas para os fãs), não cumpriu o que prometia devido è enorme expectativa gerada. E ainda pode trazer conseqüências desastrosas para a editora caso esse novo multiverso não seja bem cuidado. Mas se acontecer o pior, a DC sempre pode lançar uma outra Crise Qualquer Coisa pra arrumar a casa. De novo.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
crise-infinitaPaís: EUA<br> Ano: 2005/2006 (EUA) / 2006/2007 (Brasil)<br> Autor: Geoff Johns (roteiro), Phil Jimenez (desenhos) e vários arte-finalistas<br> Editora: Panini<br>