Coletiva: Como Fazer Um Filme de Amor – Denise Fraga e Cássio Gabus Mendes

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Numa animada conversa, os atores Denise Fraga e Cássio Gabus Mendes falaram sobre o lançamento da comédia Como Fazer Um Filme de Amor (estréia em longas-metragens do roteirista José Roberto Torero e que tem estréia prevista para esta sexta-feira, dia 29/10), curiosidades das filmagens, cinema, TV, teatro e o mais bacana, mostraram que são pessoas simples, bem humoradas e de bem com a vida.

Como foi esse encontro? Vocês já tinham contracenado no quadro Retrato Falado. Como foi essa dobradinha?
Denise Fraga: É, a gente já tinha feito Retrato (Falado, quadro do Fantástico)…
Cássio Gabus Mendes: e também Boleiros (longa, de Ugo Giorgetti). Olha, foi muito bacana. Não só com a Denise, mas com a Marisa também. A Denise, esse domínio absoluto que ela tem sobre a comédia, esse tempo, facilita bastante pra quem tá fazendo de quem tá do outro lado. A gente se dá muito bem.

Você já se imaginou fazendo um personagem galã, cercado de mulheres, dono de uma agência de modelos? Quando viu o resultado, você achou crível?
Cássio: Só mesmo na cabeça do Torero (risos). Quando eu vi o resultado, quer dizer, eu só olhei pro Torero e vi que tava bom. Não, nunca tinha imaginado, mas se ele imaginou isso, eu confio no Torero, tenho muita segurança no Torero, mas eu gostei sim.

Em algum momento ele passou alguma insegurança, por ser sua estréia em longas?
Denise: O Torero fez muitos curtas e ele não tinha feito longas porque ele não tinha feito (risos). Ele sabe muito bem o que quer. Como é um autor de textos cômicos, ele não escreve só para os atores fazerem, ele escreve crônicas em jornais, sempre com humor. A palavra é a grande estrela do Torero, a gente estava lá tentando valer a palavra. Nossa concentração como ator era perseguir as palavras, fazer com que ela fosse limpa e ouvida, sabe? Os olhares, é tudo muito partiturado, ele sabe muito bem o que quer e é tudo muito bem desenhado. Ele não tinha nem dúvidas do que ele queria, “será que a gente faz assim ou assado”, né?
Cássio: E outra, a gente perguntava se era assim e ele respondia “é!” (risos). Muito seguro, muito bem desenhado. Mesmo nas leituras (do roteiro), qualquer dúvida que ele tivesse, ele já resolvia ali. Alguns movimentos (de câmera, de atuação), que tivessem necessidade se de filmar, ele tava mais pronto do que nunca. Às vezes até com plano B (risos). Mas nunca, eu e a Denise, sentimos insegurança em momento algum.

E como ficou a questão da responsabilidade? Ele deixou muito claro pra gente que ele escreveu o filme pensando em você. É uma parceria de cinco anos (da atriz com o diretor) juntos, é o filme de estréia dele (em longas). Como foi carregar esse projeto junto com ele? Você foi muito cobrada?
Denise: Não (pensativa). Eu fiquei muito feliz quando o Torero me chamou, porque tem esse negócio de “santo de casa não faz milagre”, né? Aí eu achava que ele já tava enjoado de mim, como atriz, já tá me aturando há seis anos. E aí, quando ele me chamou, eu fiquei muito feliz. Logo eu? Eu? (risos) Fiquei muito feliz. E quando ele me falou do tempo (estipulado em quatro semanas de filmagem), eu fiquei com medo mas depois… Ninguém abusou da paciência do outro.. Foi um filme que a gente fez pra rolar. Teve cenas longuíssimas. E o Torero é um amigo muito querido, o pessoal do filme é muito querido, tem isso também, produção, todo mundo tinha uma coisa bacana, sabe, que fazia todo mundo seguir aquela mesma idéia. Aquela cena da praia, a gente perguntou “é agora que a gente vai fazer?”
Cássio: Filmamos seis ou sete horas.

Aquela cena da cabana foi real (risos)?
Denise: (risos) Não, não exploraram a gente. Era o filme pra dar certo, a gente viu vídeo-tape, dando ânimo na galera.
Cássio: A expectativa do filme era completamente diferente, sabe. Quando ele me chamou, eu disse “bom, tô aí, quando você quiser, tô livre, vamos fazer”. E ver agora, sentir (o filme), a gente tá aqui hoje, conversando, sobre o lançamento com não sei quantas cópias (nota da redação: estão previstas 27 cópias). Poxa, a gente nunca imaginou o processo todo e as coisas foram acontecendo. Então, é gratificante, é bacana.

Esse filme é muito metalingüístico. Como foi a interpretação, imaginar o narrador. O Paulo José não estava lá?
Cássio (interrompendo): É, o narrador (Paulo José) não estava lá…

…e como foi fazer essa encenação? De repente você estavam contrastando um com o outro, vocês ensaiaram muito, sentiram falta, alguém fez o papel do narrador, pra você sentirem essa diferença, como foi?
Denise: Algumas horas sim, onde o narrador interage com a gente.
Cássio: Às vezes podia interferir no som.
Denise: Até porque o Paulo José não estava lá. Então o Torero lia (a fala do narrador). Tinha o cuidado de não encavalar o som, talvez por alguns probleminhas técnicos, mas fáceis de resolver. Mas era bom quando tinha o narrador, porque a gente fazia essa história ser contada dessa forma.
Cássio: Esse tempo do narrador, ele tem o seu valor. Foi interessante, foi uma experiência nova, você se relacionar com ele (Torero) pra não interferir no que o seu personagem está realizando, a paixão do seu personagem. Foi a primeira vez que eu tive essa experiência e esse tempo que ele (o narrador), quando ele chama a gente assim “pára aí, ô…que ce tá fazendo?”…é muito interessante, foi muito gostoso e uma coisa nova pra mim. Foi muito bom.

Qual a cena mais difícil de ser feita? Entre vocês ou individualmente?
Denise: A gente tinha muito medo da cena de sexo (risos). As posições, tal, a gente começou de manhã, desde as duas da tarde e aí a gente virou a madrugada. Seis horas da manhã seguinte (risos).

E em inglês! (risos)
Cássio: É incrível (risos). Eo narrador falando como deve ser (risos).
Denise: Mesmo sendo comédia.
Cássio: Que a gente ficou inseguro. Eu, pelo menos, fiquei mais inseguro pelo resultado em si, né?
Denise: E tem que fazer uma transa trash, né, gente? (risos) E não é uma transa linda (risos). Aí eu falei “ai meu deus do céu, a gente não vai conseguir fazer essa cena”
Cássio: Daí tinha que tinha que arranjar uma forma de fazer isso.
Denise: E eu tava com oproblema do caralho (risos). Não que eu não fale caralho, mas eu não conseguia. O Torero não conseguia acreditar no meu caralho (risos). Tem aquela cena em que a gente acorda e aí eu falava “caralho!” (risos). Não cabia na boca (risos). O que você quer eu faça? (risos)

Esse é seu primeiro filme como protagonista no cinema. Qual a diferença em construir um personagem até certo ponto coadjuvante e segurar a barra de um protagonista?
Cássio: É isso que a gente tava falando antes. O roteiro do Torero e a forma como ele trabalha, o perfil tá muito pronto, a leitura tá muito pronta, isso já é um adianto de 80%, da forma que eu trabalho, principalmente quando o diretor é o roteirista. É o tal negócio do filme. Quando você tem um roteiro claro, que a gente acha, acho maravilhoso, bom, já é mais de meio caminho andado. Então não existe pressão nenhuma em volta. Eu não senti pressão nenhuma em fazer um protagonista, sem problema nenhum, pela segurança do Torero, pelo elenco e pela equipe. Principalmente pelo texto e pela direção do Torero, desde o primeiro contato que eu tive ele explicando o filme, eu já tinha lido o roteiro uma vez. Depois, as leituras. Quer dizer, na hora em que a gente ia realizar isso no ar, tava tranqüilo com relação a isso. Tava tudo muito prático. A gente se dava muito ao Torero.

Teatro, televisão ou cinema. Qual desses meios vocês mais gostam de trabalhar?
Cássio: Acho que o importante é ter mercado de trabalho sempre. Nesses três, você tem a possibilidade de realizar, de trabalhar, exercitar e isso que é importante. Eu, talvez, me identifique mais, durante toda a minha carreira, com televisão e cinema. Por ter feito mais, por ter realizado mais, enfim. Não tenho nada contra, não adianta você ter uma preferência. Acho interessante porque são tempos diferentes e formas de interpretar diferentes. Não sei quem definiu isso bem outro dia, acho que foi o (José) Wilker falando que “se você fizer da mesma forma que você faz televisão, o teatro, você vai errar no teatro; se você faz da mesma forma televisão no cinema, você vai errar no cinema, e por aí vai”. Acho que no geral são coisas diferentes, eu prefiro mais televisão e cinema, mas são tempos e formas de interpretação diferentes, movimentos diferentes.
Denise: Eu fiquei sete anos sem fazer teatro. Voltei há um ano com uma peça que eu ainda tô em cartaz, chamada Três Versões da Vida. É que o teatro tem uma coisa que ainda é o lugar do erro do ator, ele erra nos ensaios pra achar aquele tom que deve ser. É um laboratório que você fica de dois a três meses ensaiando, às vezes mais, pra achar aquilo pra temporada. É a busca da perfeição, constante, que vai te manter em cartaz. É isso que te motiva. Um dia você faz mais aquilo, acerta de um jeito aqui e ali, então isso vem do ator, é um grande laboratório. Pra acertar o tom e a intenção. (o teatro) É o lugar que eu me proponho. Quando eu fiz escola de teatro, eu queria ter muitas vidas, uma vida só não bastava (risos). E ali, você quer ter várias possibilidades, acho que é a profissão mais privilegiada que existe. Tem aquela coisa, você mata e a pessoa não morre, meu grande barato com a profissão é o processo, de viver aquele negócio. Aquele universo confundindo a tua cabeça, criar realidade que você nunca viveu. Aquela coisa tão íntima pra você, externa, isso sim. O teatro é o lugar, é real. Só que assim, ando muito apaixonada pelo cinema, pelo Luis Villaça, meu marido, e que me apresentou o cinema de uma forma apaixonante, gloriosa.

É uma produção muito feliz, o Cristina Quer Casar?
Denise: O Cristina Quer Casar, o Por Trás do Pano (ambos dirigidos por seu marido) que a gente fez junto, de todos os trabalhos feitos em televisão, que eu faço com o Luis, é um pouco cinematográfico, trabalhar com uma câmera só, e a coisa da gente sempre tá com uma câmera só, juntando pedacinhos, dá uma coisa do cinema “óbvio” na televisão. Então, num filme, é tudo muito rápido, você tem que ó (fazendo movimentos acelerados com as mãos), você fica fazendo aquilo, tem que ser rápido, e eu acho que você deve coisas, com a rapidez do cinema, ele tem uma coisa muito sagrada, tem o tempo de ensaiar, a gente por exemplo ensaiou Cristina Quer Casar em um mês…o Por Trás do Pano a gente também ensaiou um mês. A gente ensaiou bastante com o Torero também, eu, o Cássio e a Marisa. O “ação” em cinema é o terceiro sinal em teatro, que é aquilo que começa parado e vai (risos).
Cássio: Nossa (risos).
Denise: Sabe aquela cena da locadora? Que tem aquela cena assim, traveling (movimernto de câmera de um lado pra outro)? Aquilo é muito tempo de rolo de filmagem. E se perdeu, é um outro pedaço de rolo que tem que abrir. Aí você tem aquele rolo de fita pra filmar, aí a gente tem que fazer. É uma responsa fazer uma seqüência de três minutos, você entra naquela guerrilha de fazer o filme.
Cássio: Às vezes você olha e pensa “poxa, o personagem é maior do que você”.

Vocês tiveram algumas referências pra construir esses personagens de comédia romântica?
Cássio: Não sei, eu fiquei tão ligado no roteiro e especificamente nas leituras que a gente teve com o Torero que, sinceramente, eu não me recordo de ter lembrado de um filme ou de dar uma olhada. Eu gosto das comédias românticas, não tenho nada contra, tem comédias românticas ótimas, atores maravilhosos e roteiros muito bons. Mas honestamente não me lembro de ter visto um filme, de ter tido uma referência objetiva pra realizar, foi muito em cima do Torero, do roteiro dele.

E você gostaria de ser cantora?
Denise: Ai (risos)…

Você é a única que não canta no filme…
Cássio (interrompendo): Ela canta (risos)…
Denise: Não, é o seguinte (risos). Eu fui no programa do Faustão, divulgar o (filme) Cristina Quer Casar e o Martinho da Vila tava lá. Daí o Faustão faz aquelas perguntas meio à queima-roupa e eu tenho uma história com o Martinho da Vila, gosto muito dele, sou muito fã dele e outro dia eu tava no farol, imitando Martinho da Vila. Tem um samba-enredo dele que eu amo que ele fez pra Vila, que fala como uma escola de samba se monta e desmonta numa quarta-feira, um negócio tão bonito, e tal. Ele fala de várias profissões envolvidas, que é o circo dos sonhos que rapidamente se desfaz. Daí eu to lá cantando, tentando imitar o jeito dele cantar e aí olho pro lado, no farol, no Rio (de Janeiro) e o Martinho da Vila no carro (faz cara de suspense). Eu achei que tava ficando maluca, que tinha tido uma visão e ele arrancou, que sintonia maluca (risos). Contei essa história no Faustão, que é um samba que eu adoro, e ele chama o Martinho e fala “dá uma palhinha aí, Martinho” (risos). Daí ele começou a cantar mas não conseguia se lembrar da letra. Aí eu falei “eu te ajudo, Martinho” (risos). Quando acabou o Faustão, as pessoas vêm me abraçar, chorando, veio uma moça chorando, dizendo que foi muito emocionante e não sei o quê. Nossa, daí cheguei em casa e tinham recados na secretária eletrônica e meu sogro chorando (risos). Gente, foi um momento especial que pirou, foi um dueto, ali tosca, sem ensaiar sem nada. Daí passou um tempo e o Martinho me ligou e me pediu pra gravar uma música no CD dele, um samba com ele. Aí no CD dele tem uma faixa que a gente gravou, que eu canto, que eu tive essa honra. No DVD também.
Como chama a faixa? No DVD tem essa passagem, você contando essa história…
Denise: É. A música se chama Pra Tudo Se Acabar na Quarta-Feira. Ai depois, olha só o que aconteceu, ele me chama pro DVD numa roda de samba com Zeca Pagodinho (risos). Eu não acreditava, era um conto de fadas, eu adoro samba (risos), adoro eles.

No material de divulgação, está escrito uma mistura de Clark Gable (galã de E O Vento Levou…) com Woody Allen.
Cássio: Outro dia tava vendo isso na Internet (risos). Eu preciso conversar isso com o Torero (risos). Até falar sobre salário (risos). Eu não sei o que ele quis dizer (risos)…

Aquele lance da figura do galã, na estética.
Cássio: Você destruir um pouco, em determinados momentos, de algumas situações, do galã quando que um galã vai dar cambalhota na areia e tomar uma areiada na bunda (risos), sabe? Acho que é isso que ele falou de Woody Allen, é até complicado de aceitar um galã assim. Acho que é isso que o Torero quis fazer. É exatamente isso, ter correspondido, que é arrebentar com esses padrões, um padrão do galã, é ousado, é complicado de se aceitar isso, é até inconsciente de se aceitar. Esse foi o grande barato do personagem.

Qual foi a preparação para a emocionante cena de luta no final?
Cássio: Ah (risos). Isso foi feito num dia, demos orientações na hora, treinamos na hora. Tanto que erramos, tomei um soco no meio da testa (risos). Contracenando com o André, que é pequenininho (risos).
Denise (interrompendo): …e aquela cena com a Marisa em que ela fica me batendo? Eu falava pro Torero “não, pode fazer” e eu falava pro Torero daquele plano, quando eu apanhava e ia com a cabeça pra trás (risos).

Dá um certo frescor contracenar com gente que não é da área, não é treinada como o André (Abujamra, ex-Karnak)?
Cássio: Não, não tem muita diferença. Nesse caso, com o André, pelo contrário, acho que a gente não teve problema algum, a gente se deu super bem. Com a Marisa a gente teve mais contato, mas com o André, eu o considero um ator, se precisar fazer, vai fazer, é uma grande figura.

Vocês chegaram a trabalhar com o Paulo José?
Cássio/Denise: Não.
Denise: Seria uma honra…

A imagem da Denise Fraga é veiculada nacionalmente na televisão, antes com o Retrato Falado e agora com o Fazendo História (ambos quadros do Fantástico). Você pensou em tentar desvincular essa imagem junto ao trabalho com o Torero para esse filme? Dessa Denise que todo mundo conhece.
Denise: Engraçado, né? A personagem que menos me interessa é essa, a Denise Fraga (risos). A profissão é se esconder, é viver essas várias vidas, enfim. Eu não fiquei preocupada, como a Laura (sua personagem em Como Fazer Um Filme de Amor). A mesma sensação, a mesma respiração, a possibilidade de fazer algo diferente é grande. Quando você estuda um roteiro de cinema, eu mesma marco todo o meu roteirinho, coloco o sorrisinho, o que eu tenho que fazer na cena.

A sua memória então é mais no sentido corporal do que racional?
Denise: Naquele momento, a minha sensação era essa. Por exemplo, na cena do hospital e tal.

Havia abertura pra vocês chegarem ao Torero e mudarem alguma coisa?
Cássio: Ele sempre teve e sempre terá um jeito dele. O que acontece é que estava tudo pronto.
Denise: Ele tem uma forma muito racional de te convencer a fazer aquilo.
Cássio: Se houvesse alguma movimentação ou diálogo, mesmo já na filmagem, que seria melhor pro personagem, com certeza ele teria deixado.

É possível criar em cima de um mau roteiro?
Denise: Quando a gente vê um mau roteiro, a gente tenta salvar (risos). Se o cara deixa a gente mexer, a gente vai pondo na boca aquilo de uma maneira.
Cássio: Sem dúvida, você mastiga de um jeito que tente ficar melhor. Agora no caso do bom roteiro, como é esse, é o que eu falei, você não tem muito que mexer, ele tá pronto. E com o roteirista dirigindo, com essa segurança, é bom.
Denise: Sabe o que eu acho que é um mau roteiro do ponto de vista de uma atriz? É quando você tem que ficar fazendo um esforço enorme pra lembrar o texto que você decorou, porque aquilo não condiz com o que o ator está dizendo. Uma coisa do bom roteiro, é um dos sintomas, tá? Não é uma regra, mas quando você pega um roteiro que é redondo, bem escrito, é azeitado, tem um óleo, ele corre sozinho, você decora aquilo com mais facilidade. E o que o ator tá dizendo, você vai se lembrar do que dizer pra ele. Uma coisa leva à outra. Mesmo que ele queira dizer algo completamente “mirabolicamente”, ele conseguiu fazer com que aquilo existisse organicamente. Outra coisa que a gente, entre os atores, chama de mau roteiro é a embocadura, é meio dá na boca, mas tem que tomar cuidado, porque às vezes você está buscando a embocadura da personagem, e não a sua. Por exemplo, eu tenho algum problema de dizer “puxa” (risos). Se tem um “puxa” no roteiro, quando ele cabe na personagem eu deixo, mas quando não combina, é a primeira coisa que eu tiro (risos).

Tem como não aceitar o papel num mau roteiro?
Denise: A partir de um roteiro mau escrito, mas se você quer muito fazer o trabalho, você pode dar uma pensada naquilo. Eu não sei como é pra você, Cássio, mas quando há muitas orações subordinadas, porque as pessoas não falam assim, sabe (risos)…
Cássio: Mas isso não significa que você não deva ajudar. Tentar transformar em algo mais agradável.

É mais fácil trabalhar com o marido?
Denise: A gente tem dado muito certo, temos feito um bom trabalho, tem rendido ótimos frutos. Das coisas cotidianas, a gente tem o mesmo olhar, tem pontos em comum, de comédia meio emocional. A gente trabalha muito falando, dá certo. Há um respeito, cumplicidade, um com o outro.

Ele (Luiz Villaça) viu o filme?
Denise: Viu, ele gostou.

Você são atores, sempre estiverem à frente das câmeras. Vocês já pensaram em estar por trás das câmeras, dirigindo?
Cássio: Não, acho que pra realizar isso ainda é uma coisa meio crua, meio distante. Já pensei, mas existe ainda uma insegurança, é meio confuso ainda. Não que eu não tenha capacidade de fazer, mas…
Denise: Eu nunca pensei em dirigir não, mas gostaria de fazer um filme pra ser a “pitaqueira oficial” contratada pra dar opinião (risos). Acho que hoje há um ligeiro gosto em mim em dirigir ator, pela temporada em teatro, sabe, pelas coisas que você vai descobrindo, vendo um ator trabalhando retrato ou mesmo em cena, determinada cena poderia ter ficado melhor, então eu sinto que isso é uma coisa que brotou em mim há pouco tempo. Mas essa coisa de plano, de eixo de câmera e tal, isso não me dá vontade, não (risos). Talvez pro teatro. Ou co-dirigir. Eu gostaria de dirigir ator. Gente, uma observação. Coloquem nas suas matérias que a primeira semana do filme é fundamental e que o cinema nacional agradece. Se a gente consegue fazer bem uma semana, aí vem outra e tal. É importantíssimo o apoio de vocês.

E vocês estão envolvidos em novos projetos?
Denise: Por enquanto a peça que vai viajar outras cidades e os quadros para o Fantástico.
Cássio: Tô envolvido na novela (Começar de Novo, da Globo) e tô com um texto do Torero mas não comecei a mexer, mas pretendo produzir, não vou atuar. É uma versão de Romeu & Julieta, mas não vou atuar. Vamos ver como eu me saio, com uma visão de fora, de produtor.

Digitação e introdução por Gerson Shiroma. Fotos e Revisão por Carlos Eduardo Corrales. Amanhã você confere aqui a resenha do filme. Não perca!