Coldplay – Viva la Vida or Death and All His Friends

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O Coldplay chega ao seu quarto disco já consagrado como uma das maiores bandas do planeta. Em pouco tempo, atingiram o status de um U2 e, sejamos francos, cada vez mais parece que essa foi a intenção do grupo desde o começo.

Contudo, quando se chega ao topo, também chegam as críticas. Neste caso, a maioria delas era unânime em dizer que esta era uma banda que não se arriscava. Haviam encontrado uma sonoridade que se provou um sucesso e não saíam mais dela, jogando sempre no seguro.

Eu mesmo concordo. Passaram da belíssima simplicidade quase barroca do disco de estréia, Parachutes (2000), para um som mais grandiloquente, cheio de camadas e onde não há espaço para o silêncio. E nessa ficaram por dois discos, A Rush of Blood to the Head (2002) e X&Y (2005). Com eles, conquistaram os fãs, mas não os críticos.

Este Viva la Vida or Death and All His Friends vem como uma espécie de resposta. Já estabelecidos, o quarteto poderia se repetir à exaustão que ninguém, além dos já citados críticos, reclamaria. Preferiram sair da comodidade e deram uma bela e bem-vinda garibada na sua sonoridade.

Mas não espere encontrar algo totalmente irreconhecível. O que o Coldplay fez foi basicamente aparar algumas arestas em seu som, evitando alguns vícios repetitivos de discos passados e acrescentando mais alguns elementos às suas músicas.

Para isso, contaram com a boa mão de Brian Eno na produção (não à toa, Eno é famoso por seu trabalho com o U2), bem como de Markus Dravs, produtor do Arcade Fire, o que talvez explique a temática do álbum, vida e morte, mas sem soar exatamente como o grupo canadense.

Especulações à parte, o fato é que essas escolhas funcionaram e esse é o disco mais coeso da banda desde o primeiro, provando que se arriscar às vezes faz muito bem. Mas chega de digressões. Abaixo, você encontra o faixa-a-faixa para ter uma idéia melhor do que estou dizendo.

Life in Technicolor: A faixa de abertura é instrumental. Climática, é uma mistura de camadas de teclados e cordas e prepara o clima para a próxima música.

Cemeteries of London: Balada com forte levada de violão e uma guitarra de fundo. Já mostra as diferenças de sonoridade. Principalmente no vocal de Chris Martin, mais contido e menos choroso que de costume.

Lost!: Começa com um órgão e uma guitarra suingada, que vão até o final. É a que mais lembra o velho Coldplay (e nesse caso, um pouco o Arcade Fire), inclusive na letra estilo “auto-ajuda”.

42: Inicia lenta, só com voz e piano e vai crescendo com o acréscimo de um arranjo de cordas e um forte solo de guitarra, o que há tempos não aparecia em uma música do grupo. Bem-vindo de volta, Jonny Buckland. Há ainda uma ótima mudança de ritmo no final. É um dos destaques do álbum.

Lovers in Japan/Reign of Love: Essa vai no esquema “duas músicas em uma”. A primeira parte, Lovers in Japan, é mais animada, com uma excelente levada de piano e novamente a guitarra de Jonny Buckland com um papel importante. A segunda parte, Reign of Love, é uma música completamente diferente. Um mantra de piano dá a tônica até o final, em um ritmo mais deprê e delicado.

Yes: Um belo arranjo de cordas de influências meio árabes dá a levada desta música, outro ponto forte do disco. Ao final, há uma música escondida, Chinese Sleep Chant, um ótimo exercício de guitarra, acompanhada da bateria competente de Will Champion e dos vocais propositalmente incompreensíveis, entoados de fato como se fosse um cântico.

Viva la Vida: Essa é a que gerou a famosa polêmica. Seria esta canção um plágio de If I Could Fly, de Joe Satriani? Bem, após assistir ao vídeo que compara as duas canções, devo dizer que não achei parecidas, achei iguais! No entanto, eis um outro fato: no disco anterior, X&Y, eles usaram elementos de uma música do Kraftwerk na faixa Talk. No caso, eles pediram permissão e creditaram os autores. Então por que não fariam o mesmo agora? Isso me leva a crer que pode ser apenas uma enorme coincidência. Ou eles só creditaram a Talk justamente para ter essa desculpa e poderem roubar um monte de músicas nos discos seguintes! Planos malignos à parte, voltemos à Viva la Vida propriamente dita: novamente um arranjo de cordas leva a canção, mas desta vez mais genérico. Os backing vocals me lembraram o The Police.

Violet Hill: O primeiro single. Piano mais nervoso e uma pegada mais soturna. Essa é uma daquelas que parece meia-boca em uma primeira audição, mas cresce a cada nova escutada.

Strawberry Swing: Destaque para a levada delicada de guitarra, com seus arpejos cíclicos. Talvez uma das músicas mais fofinhas que o Coldplay já fez.

Death and All His Friends: Balada de começo arrastado, só voz e piano, vai crescendo até entrarem os outros instrumentos e acabar de forma apoteótica. Ao final, mais uma canção escondida, The Escapist, que repete o mesmo tema de Life in Technicolor fechando o álbum da forma como começou.

Pois bem, depois de analisar o disco com calma, Parachutes ainda continua sendo o meu favorito. Mas Viva la Vida vem logo atrás. Um grande disco, que mostra que é possível ser popular sem deixar de experimentar. E que põe a banda em um caminho bem mais interessante. Pode não ser uma obra-prima, mas dá sinais de que se Chris Martin, Jonny Buckland, Will Champion e Guy Berryman continuarem com essa vontade de surpreender, ela não tardará a vir.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
coldplay-viva-la-vida-or-death-and-all-his-friendsAno: 2008<br> Gênero: Pop Rock<br> Duração: 45:53<br> Artista: Coldplay<br> Número de Faixas: 10<br> Produtor: Markus Dravs, Brian Eno e Rik Simpson<br> Gravadora: EMI<br>