Brütal Legend – Chapter II

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Ontem você leu aqui um monte de coisa detalhando o mundo de Brütal Legend, mas bem pouca coisa sobre o jogo em si. Pois fique apenas de cueca e besunte-se em óleo, pois chegou a hora de se aprofundar no game mais trüe da história.

UMA JOGABILIDADE QUE TRAIU O VENTO PRETO

Finalmente chegamos no jogo, e é aqui que as coisas começam a piorar. Quando passei do trecho que já conhecia do demo e fui fazer as primeiras missões, fiquei deveras decepcionado. Para começar, a jogabilidade é completamente chupada de Overlord (incluindo o mapeamento dos botões e o fato de o personagem não pular). Só que está muito inferior ao jogo onde você é o maior vilão da Terra-Média. O estilo é naquela linha GTA: mundo aberto, várias side-missions, dirija até a que você quer fazer e repita até terminar.

As fases se revezam entre algumas do tipo ande e mate todo mundo, outras com um objetivo mais claro e até algumas de escolta (por que diabos ainda fazem isso?). Porém, as piores de todas são as stage battles, que tentam expandir na jogabilidade de Overlord para criar uma experiência mais fiel a RTS’s como Warcraft.

Se, obviamente, os personagens, atuações, design e trilha sonora foram pensados com carinho, o mesmo não pode ser dito da jogabilidade. Quando a ação funciona como um Overlord genérico, até que não é tão ruim. Você vai andando e mandando seus exércitos matarem os inimigos. Porém, nas stage battles, precisa construir estandes de merchandising para ganhar fãs, que funcionam como dinheiro. Daí você gasta os fãs para comprar mais exército e conseguir destruir o palco inimigo. O problema é que os comandos são muito confusos e complicados e, para completar, seu exército só atende às suas ordens se estiverem ao alcance da sua voz. É simplesmente complicado demais coordenar tudo isso tendo que controlar e defender a vida de um personagem ao mesmo tempo, ao invés de um simples cursor de mouse, como normalmente acontece nesses jogos.

Para piorar, algumas dessas stage battles (em especial a penúltima, contra a Ophelia) duram muito, muito tempo. Coisa de mais de meia hora. Desnecessário dizer que perder uma dessas e ter que começar tudo de novo está entre as coisas mais frustrantes que já senti como gamer.

Se você gostar dessas stage battles, pode jogá-las contra outras pessoas online, inclusive com o time dos góticos ou dos demônios (pena que não tem o do Hard Rock), mas admito que é algo que eu nunca vou usar.

Porém, verdade seja dita, passada a decepção inicial, eu entrei no clima Heavy Metal do jogo, desencanei da jogabilidade e comecei a curtir pelo que ele realmente é: uma homenagem bem-humorada a este estilo tão apaixonante.

Os solos merecem destaque. São pequenos minigames nos quais você faz uma sequência de botões enquanto sola na sua guitarra com efeitos devastadores. O facemelter, em especial, é divertidíssimo, pois derrete o rosto dos seus desafetos em um efeito semelhante ao de Os Caçadores da Arca Perdida.

É empolgante explorar o mundo, em busca de novas músicas, novos solos ou novas lojinhas e, embora a maior parte das side-missions não seja lá muito legal, as story missions costumam ser ao menos divertidas. Assim, comecei a me divertir bastante com o jogo. E assim foi, mais ou menos até a parte em que você vence o Lionwhyte.

CENÁRIOS QUE TRAÍRAM O VENTO PRETO

Acontece que, depois disso, você começa a lutar contra os góticos e, por causa disso, vai para a parte do mundo dominada por eles, onde é tudo escuro (e ainda rola um filtro azul ou verde que deixa tudo monocromático) e o cenário conta apenas com pântanos e cemitérios apertadíssimos, onde dificilmente dá para dirigir em alta velocidade. Ou seja, nada daqueles cenários que pareciam capas do Manowar ou do Judas Priest. Nessa segunda metade do jogo, a coisa muda do vinho para a água e perde todo o apelo anterior.

E nem adianta tentar descontrair pegando seu carro e passeando um pouco no cenário metálico do início, pois depois que você destruiu a turminha do Hard, ele foi dominado pelos demônios. Dessa forma, sua aparência também foi modificada e não está mais tão legal.

Cada story mission que você faz libera uma música que tem a ver com aquele trecho da história. No início, como as fases são tematizadas no Hard e no Metal, cada nova faixa é extremamente empolgante. Porém, nessa segunda metade, em que você encara os góticos, a coisa simplesmente saiu do controle. Ou alguém acha que bandas como Marilyn Manson ou Ministry se encaixam no tema? Isso sem falar algumas faixas, tipo uma do Enslaved, que são apenas teclado ou uma cujo nome já denota a que veio: Drum Solo.

Ou seja, nem mesmo o prazer de dirigir ao som de um bom Hard/Heavy/Thrash você terá nessa segunda metade. Claro, você pode escolher as músicas anteriormente liberadas quando estiver fora de missões, mas durante as missões, é limitado a essas faixas eletrônicas ou cheias de barulhinho, o que não me agrada nem um pouco, especialmente num jogo com esse tema. Eu estava tão de saco cheio com a trilha a essa altura que, na batalha final, quando tocou Painkiller, do Judas Priest, eu percebi a diferença que uma boa música faz para aumentar a empolgação em um game.

O jogo já não é especialmente longo, então é bem triste que tenham escolhido fazer toda essa segunda metade em cenários tão sem graça e monocromáticos, especialmente com músicas tão inferiores às do início.

Tem outras coisas que mostram a falta de planejamento. Você só pode marcar no mapa as missões ou as lojinhas, não um ponto aleatório. E, para piorar, mesmo marcando, ir até lá é complicado. Isso porque você só pode se guiar por um facho de luz ou pelas setas do carro. Uma seta imensa no meio da tela, na linha Crazy Taxy, facilitaria muito. Afinal, sutileza é coisa de mariquinha poser. Além disso, tirando as lojinhas, nada do que você encontrou fica marcado no mapa, então a única forma de você ver se pegou determinado landmark é indo até lá. E, se você quiser rever alguma lenda (animações que contam a história do mundo), boa sorte tentando encontrá-la de novo.

Para completar o mau planejamento, tem o pior pecado da equipe. Como é normal em jogos de mundo aberto, você fica livre para passear, procurar coisas que faltaram ou fazer as side-missions restantes após terminar a história. Porém, se você decidir começar o jogo de novo, seu save é sobreposto e você perde tudo que conseguiu até então. Isso seria facilmente resolvido com mais de um save slot ou então permitindo começar uma nova história mantendo tudo que já foi liberado. Todos os outros jogos do gênero são assim, por que esse não?

CONCLUSÃO FORJADA NO VENTO PRETO, FOGO E AÇO

Em nenhum momento, Brütal Legend é um jogo realmente bom. Assim, se você não é fã de Metal e não entende da mitologia do gênero, não tem nada aqui para você.

Por outro lado, se você respira Heavy Metal e é casado com uma Harley Davidson, poderá esquecer os problemas do game design para se deliciar com a história, o humor e o clima perfeitos para o tema. Ao menos na primeira metade, em que o Metal é realmente o tema.

A parte triste é que se esse fosse um adventure – ou seja, um jogo focado na história, sem necessidade de um gameplay elaborado – poderia de fato ser tão bom quanto Full Throttle. Talvez Tim Schafer deva voltar às raízes. Ou pelo menos contratar uma equipe que consiga ajudá-lo na parte da jogabilidade.

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