Brütal Legend – Chapter I

0

O delfonauta fiel sem dúvida conhece Brütal Legend, pois fizemos um hype absurdo em cima dele aqui no DELFOS. Trata-se do famoso jogo Heavy Metal, com dublagem de figuras lendárias do gênero e atores famosos, história completamente tematizada e, claro, a mente de Tim Schafer, criador ou co-criador de algumas das coisas mais legais e mais engraçadas do mundo dos games (os fenomenais Monkey Island e Full Throttle estão no currículo do sujeito).

Essa vai ser uma resenha complicada, pois graças ao tema, se trata de um jogo diferente, que deve ser avaliado de uma forma diferente. Então já vou começar e dizer de uma vez: Brütal Legend, como jogo, simplesmente não é muito bom. Ainda assim, se você é um headbanger sangue bom, vale a compra. Nas próximas linhas, vou tentar explicar o motivo para esse aparente paradoxo.

UMA HISTÓRIA ABENÇOADA PELO VENTO PRETO

A coisa mais legal em Brütal Legend é sua história. Não, ela não é nem um pouco criativa, mas aí está sua força. Ela conta a saga de Eddie Riggs, roadie dublado por Jack Black, que é transportado para um mundo mágico e extremamente badass. Logo, ele conhece a resistência, formada pela família Halford (Lars e Lita) e por Ophelia e, pouco depois, descobre a existência de uma profecia na qual um guerreiro do futuro voltaria no tempo para liderar a resistência e liberar o mundo dos demônios. Liderar, liberar, liberar, liderar.

Sim, você já viu isso um montão de vezes, especialmente em discos conceituais de Metal, mas convenhamos: poderia ser diferente? O Heavy Metal é um estilo de música monotemático e o jogo teria de representar isso. E o faz muito, muito bem.

Claro, nunca fica claro porque os demônios são malvados. E os inimigos que você encontra antes deles são basicamente a turminha do Hard Rock (que são bem parecidos com os do Metal, mas se vestem de rosa e com peles de animais) e os góticos. E o motivo de tanto ódio entre eles também nunca fica claro. Mas, ei, isso deve ser parte da piada. Afinal, todos sabemos que, para quem ouve Heavy Metal, qualquer outra tribo ou qualquer pessoa que ouça qualquer outra coisa é considerada inimiga e ninguém sabe exatamente explicar o motivo, então por que Tim Schafer saberia?

Palavras não conseguem descrever quão trüe o mundo do jogo é. Espadas gigantes saindo do chão, guitarras colossais feitas de pedra, stonehenges para onde quer que você olhe. Tecnicamente, os gráficos de Brütal Legend não são nada demais, mas criativa e artisticamente são simplesmente fenomenais.

Para completar, o humor está no ponto. Por exemplo, quando você vai liberar os headbangers da mina, Lars explica que eles não estão presos, mas eles ficam lá simplesmente porque a sociedade não tem função para eles. “O que fazer com jovens que não sabem fazer nada além de bater a cabeça o dia inteiro?”, Lars pergunta. Eddie responde, com o típico orgulho Heavy Metal e lágrimas nos olhos: “Você começa uma revolução, Lars!”.

A caracterização da turma do Hard Rock (liderada pelo General Lionwhyte, que é ninguém menos que Rob Halford) está especialmente boa. Eles são retratados como os traidores do movimento, que abriram mão da música real (o Metal) para fazer algo semelhante, porém mais comercial e mais bem aceito pela sociedade (ou seja, pelos demônios). O Lionwhyte, em especial, é mostrado como um sujeito sem ideologia, que só se preocupa com dinheiro e luxo. Genial, cara! E olha que eu gosto pra caramba de Hard Rock!

Claramente, todos os diálogos, referências e basicamente toda a criação do jogo foi feita por pessoas que entendem e gostam de Heavy Metal tanto quanto nós. Dá para perceber muito carinho em cada detalhe do cenário, em cada palavra do diálogo. E isso é parte do que torna Brütal Legend um jogo tão especial. Sem falar que dirigir por um mundo com largos terrenos abertos, cheios de esculturas imensas, em meio a uma trovoada e ouvindo Fast as a Shark, do Accept, ou a melodia de The Hellion, do Judas Priest, é uma sensação que, até hoje, nenhum outro jogo conseguiu criar. O que nos leva a:

UMA TRILHA SONORA ABENÇOADA PELO VENTO PRETO

Brütal Legend tem mais de 100 músicas, todas representando algum gênero do Rock Pauleira from Hell. É um número superior a qualquer Guitar Hero e são todas pesadas.

A quantidade de coisas boas aqui chega a ser ofensiva. Judas Priest, Black Sabbath, Motörhead, Megadeth, Accept, Savatage e até coisas menos mainstream, como Running Wild ou Dimmu Borgir se fazem presentes. Temos até alguns representantes de bandas mais Pop, como Def Leppard, Kiss, Mötley Crüe, Whitesnake ou Skid Row. E sabe o que é melhor? A seleção quase nunca é óbvia. Por exemplo, o Megadeth é uma banda com uma quantidade considerável de sucessos, e mesmo assim eu não conhecia as que estão aqui. E gostei mais delas do que das mais óbvias (tipo Symphony Of Destruction ou Hangar 18). Além disso, temos várias faixas mais desconhecidas das bandas presentes, mas no geral, foram escolhidas músicas rápidas e extremamente machas, que fazem qualquer um se sentir o cara mais macho do universo.

Falando em macho e em faixas desconhecidas, quero destacar uma: The Dawn of Battle, do Manowar. Quando vi o nome e não reconheci, imaginei tratar-se de uma faixa do Gods of War, disco que nunca ouço. Gostei tanto da desgraçada que fui procurá-la no álbum em questão. Nada! Olhei toda a minha coleção do Manowar e não a encontrei. Após uma extensa pesquisa na Wikipédia, descobri que ela foi lançada apenas em um single com o mesmo nome, na época do Warriors of the World. E eu nunca tinha ouvido falar desse lançamento, o que prova a não-obviedade na escolha das faixas.

A única coisa negativa a ser dita aqui é aquela velha mania já conhecida dos fãs do gênero. Sabe como músicos de Metal têm mania de colocar 30 segundos de ventinho, 45 de narração, 15 de trovoada e um minuto de violão antes da música em questão começar? Pois isso realmente afeta a diversão de Brütal Legend. As faixas estão completas aqui, então quando a música é assim, é comum você chegar ao seu destino antes da composição entrar, o que é frustrante. Tem uma lá que começa com uma narração e que até agora eu não sei como é a faixa, porque a narração ainda está tocando quando eu tenho que sair do carro. Teria sido inteligente fazer uma edição nesses casos ou pelo menos permitir um fast-forward.

No geral, as músicas são tão boas que, no início do jogo, eu nem escolhia as que queria ouvir. Deixava no aleatório e dificilmente tocava algo que não me agradasse. Isso, porém, foi mudando ao longo da campanha e explicarei mais para frente o motivo. Mas antes vamos continuar com o que o título tem de bom.

ATUAÇÕES ABENÇOADAS PELO VENTO PRETO

O elenco de Brütal Legend só poderia ser mais estrelado se não tivessem chutado o Ronnie James Dio. Se liga em quem temos aqui:

– Jack Black: o sujeito já provou sua trüeza em diversos filmes e na sua banda Tenacious D. No geral, não sou muito fã dele, já que, a exemplo do Charlie Sheen, sempre faz papel dele mesmo. Porém, em Brütal Legend, admito que Jack deu a melhor atuação da sua vida. Ele está simplesmente perfeito como Eddie Riggs e o personagem é daqueles que não dá para não gostar. Pô, todo mundo gosta de roadies! Eles são os heróis desconhecidos do mundo do Rock, e Eddie Riggs é o melhor deles.

– Rob Halford: o vocalista do Judas Priest simplesmente chuta bundas! O sujeito é um ator nato! Fazendo o General Lionwhyte, ele personificou a alma do Hard Rock e conseguiu fazer um vilão carismático, divertido e engraçado. E ele canta! Depois que você vence Lionwhyte, um novo personagem chamado Fire Baron aparece para se juntar ao seu time. Esse tem a aparência de Rob e também é dublado por ele. Porém, como Fire Baron, ele está irreconhecível, com uma voz grave de motoqueiro machão. Tive até que confirmar se era mesmo o Rob que fazia o personagem, de tão diferente do Lionwhyte que ficou. O cara mandou tão absurdamente bem que gostaria muito de ver outras coisas dubladas por ele.

– Ozzy Osbourne: o ex-Black Sabbath faz o Guardião do Metal. Em outras palavras, ele gerencia a lojinha onde você compra seus upgrades. Ao contrário de Halford, o Guardião do Metal é basicamente o Ozzy, então não necessitou de atuação nenhuma do marido da Sharon. É basicamente himself. Mas como todo mundo gosta do Ozzy, acho que ninguém vai se importar.

– Lemmy Kilmister: o baixista e vocalista do Motörhead é a parte fraca do elenco. Ele faz o Killmaster (nome genial, diz aí) que nada mais é do que o líder de um grupo de motoqueiros que jurou não machucar ninguém. Assim, o papel deles é usar o som curador das cordas de baixo para recuperar seus soldados. Infelizmente, Lemmy é o único do elenco que parece estar apenas lendo suas frases, sem o menor sentimento ou atuação. É uma pena, pois seu personagem é muito legal.

– Kyle Gass: o carequinha violonista que faz parte do Tenacious D com o Jack Black faz o operador de canhão que aparece apenas em algumas side missions (e que tem a cara dele). É um personagem bem divertido.

– Lita Ford: a ex-Runaways é a última representante do mundo da música presente aqui. Ela faz a rainha das Amazonas, personagem que só vai dar as caras próximo ao final do jogo e que, sinceramente, não é lá muito carismático. Mas a atuação dela está legal.

– Tim Curry: Tim é, provavelmente, o ator de Hollywood que mais participou de games na vida. Assim, de sopetão, lembro de ele ter participado com atuação filmada num adventure antigo em que ele fazia o Dr. Frankenstein e num Command & Conquer mais recente. Além disso, como dublador, ele fez a voz do tremendão Gabriel Knight em alguns dos melhores adventures da história. No cinema, seu papel mais conhecido é no cult Rocky Horror Picture Show. Aqui ele substitui Ronnie James Dio como o vilãozão Doviculus, o líder dos demônios.

– Brian Posehn: você não deve saber quem é de nome, mas assim que encontrar o Caçador, há de reconhecê-lo. Se você já assistiu a alguma sitcom na sua vida, com certeza já viu o rosto desse cara. Ele é, provavelmente, o coadjuvante mais famoso da TV estadunidense. Outros comediantes conhecidos que fazem papéis diversos são David Cross e Steve Agee.

– K. K. Downing e Glenn Tipton: os guitarristas do Judas Priest gravaram todos os solos de guitarra que você ou seus inimigos tocam durante o jogo. E alguns são bem legais.

Falei, falei, mas você ainda não sabe nada sobre o jogo, certo? Pois então mantenha-se delfonado e amanhã tudo mais será detalhadamente analisado. Se você chegou atrasado, simplesmente continue lendo clicando aqui.

Galeria