Brasil Metal Union

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Nota da equipe do DELFOS: Antes de mais nada, pedimos perdão por esta matéria conter apenas um dia e estar completamente sem fotos. Isso se deve ao fato de não termos conseguido credenciais, que foram pedidas de acordo com as instruções presentes no site do evento. O problema não é nem não termos conseguido, afinal, a organização é livre para credenciar os veículos que quiserem e nós sabemos que não somos (ainda) um veículo estabelecido. O problema é que nem ao menos recebemos uma resposta da organização, fomos completamente ignorados, mostrando a contradição de um evento que “diz” visar a união do meio underground. Pelo jeito, essa união abrange apenas veículos estabelecidos e de grandes tiragens. Os que não se encaixam nesse padrão, não merecem nem ao menos uma resposta. O DELFOS vai continuar apoiando como sempre o Metal nacional, pois a culpa não é das bandas do evento. Como o Bruno gosta muito das bandas que se apresentariam no primeiro dia, e iria no show de qualquer jeito, ele escreveu a resenha abaixo em respeito ao público do DELFOS que nós sabemos que gostariam de ler algo sobre o evento da forma que só nós sabemos fazer (e tentando não levar em consideração a falta de respeito da organização). Infelizmente, não tínhamos verba suficiente para bancar os dois dias, então cobrimos só o primeiro. Divirta-se com o texto.

Estamos todos de parabéns, esse é o sentimento unânime depois de uma maravilhosa edição do BMU 2004. Se antes do evento, tivemos alguns problemas de organização (já relatados na introdução deste texto), no primeiro dia do BMU, o que se viu foi um grande salto de qualidade em relação aos outros anos do evento, e isso em todos os sentidos: o local escolhido é muito mais apropriado (o DirecTV Music Hall tem uma estrutura infinitamente superior ao bar Led Slay, onde o BMU tomou lugar nos anos anteriores), a quantidade de público superou o esperado com uma média de 3000 pessoas comparecendo em cada dia, as bandas escolhidas foram mais diversificadas e agradavam à todos os gostos, desde um Metal Gótico até um Death Metal. Enfim, um evento realmente profissional, que mostrou à mídia e aos donos de casas de show que é possível, com muito esforço e dedicação, realizar um belo evento de Heavy Metal apenas com bandas nacionais e contar com um bom público.

É verdade que uma parte considerável dos presentes nos dois dias do festival, só compareceu para assistir à apresentação do Massacration, isso foi bem visível nas camisetas da molecada e na empolgação quando os humoristas (e não músicos) entraram em cena. Mas de qualquer forma, quem foi com essa intenção ao BMU acabou presenciando shows muito bons de bandas que não tem um espaço na fraca MTV ou nas pseudo Rádios Rock e essas pessoas puderam entender também o que significa a verdadeira união do público headbanger, mesmo que uma nova geração dos apreciadores de Heavy Metal ainda esteja em formação e, de certa forma, contaminada com o lixo comercial e sem talento que insiste em nos aporrinhar sempre que ligamos a televisão ou o rádio.

Mas, sem mais delongas, vamos comentar um pouco a respeito de cada banda e da impressão que causaram na primeira noite do Brasil Metal Union 2004. O festival foi muito bem estruturado e a organização estava impecável (tirando a história dos credenciamentos, é claro), sem atrasos e com uma ótima qualidade sonora e de iluminação. Basicamente, cada banda tinha uma média de 50 minutos para sua apresentação e mais 10 minutos para a troca de equipamentos no palco. Somente duas bandas acabaram excedendo esses 10 minutos de preparação, o Venin Noir e o Tuatha de Dannan, mas vale lembrar que os mineiros do Tuatha trouxeram uma grande parafernália para tornar o show uma experiência mais completa e o atraso foi justificável pela qualidade que eles apresentaram. Infelizmente o mesmo não se pode dizer dos góticos cariocas.

Vamos à análise:

Mindflow: Metal Progressivo que lembra um pouco Dream Theater e Symphony X, mas sem o peso e algumas qualidades dessas duas bandas. As músicas são até legais, têm várias viradas, mas algumas são muito grandes e deixaram o pessoal um pouco sonolento. No geral, a banda tem um bom potencial, são bons músicos, mas precisam acrescentar um pouco de peso para empolgar mais. Nada que anos de estrada não resolvam. Uma abertura morna para o festival. Nota 5

Drowned: Thrash Metal moderno com alguns elementos de Death e Black Metal (a la Dimmu Borgir) pipocando aqui e ali e vocais rasgados que nos remetem aos bons tempos do Thrash alemão de Kreator e Destruction, e em alguns momentos me veio na cabeça um pouco do Alexi Laiho do Children of Bodom. Músicas curtas, mas pesadonas, que possibilitaram ao Drowned ser a banda que soube melhor aproveitar os seus 50 minutos. Destaques para as músicas Back From Hell e Who is the King, e para o vocalista Fernando Lima e o baixista Rodrigo Nunes, ambos com uma excelente presença de palco e muito simpáticos. O Drowned já não é nenhuma banda novata na cena, pois já tem 3 CDs lançados. Prato cheio para os amantes do peso e da brutalidade. Nota 8

Monster: Uma grande expectativa cercava o show do Monster e posso dizer que me decepcionei cm a apresentação de Paul X e Cia. No geral, o som da banda é até interessante, fazendo uma mescla de Metal tradicional com alguma coisa de Hard Rock, lembrando o som mais comercial do Judas Priest nos anos 80. Mas sabe aquela banda que você sente que falta alguma coisa? Pois é, essa é a impressão quando se ouve a maioria das músicas do Monster. Os integrantes até que tem uma boa presença no palco e realmente sabem agitar, mas talvez falte um segundo guitarrista ou um tecladista para completar mais o som dos caras, não sei, mas foram poucas as músicas que realmente empolgaram, no caso a fantástica Monster (essa é muito boa mesmo) e Angels of Darkness, um cover em inglês de Anjos da Escuridão do Salário Mínimo. Estava prevista a participação de Jack Santiago (que foi, inclusive, muito anunciada, em mais uma pisada da bola da organização) o vocalista do Harppia, para cantar Salém junto com a banda (que regravou a música em inglês para o novo CD em um medley com outros clássicos do Metal paulistano), mas a participação acabou não acontecendo e o show ficou nisso mesmo. Nota 6,5

Venin Noir: A pior banda da noite e, se bobear, do festival (mesmo que eu não tenha ido ao segundo dia). Metal Gótico com elementos de Power Metal e um pouco de progressivo com vocais femininos meio Nightwish. O baterista fazendo um arroz com feijão bem básico e uma vocalista mal humorada e antipática que deixou uma PÉSSIMA impressão em todos os presentes. Foram a única banda vaiada da noite. Em se tratando das músicas, elas até que são interessantes, apesar de serem longas demais e com uma bateria irritante, sempre com a mesma marcação. Mas o principal problema do Venin Noir é a postura de “megastar esnobe” da vocalista Larissa Frade. Sim, a moça canta muito e tem uma técnica impecável, mas quando abre a boca para fazer alguma coisa que não seja cantar, consegue irritar o público.

Para se ter uma idéia, Larissa conseguiu ter um desentendimento com o baixista Felipe Andreoli do Angra, que estava lá para ajudar os caras e subiu ao palco para tocar Lisbon com eles. A coisa foi mais ou menos assim, após tocar Lisbon, Felipe se despediu dos músicos e deu um beijinho de despedida em Larissa, em seguida pegou o microfone da mão dela para agradecer a presença de todos no BMU e dizer que tocaria no dia seguinte também com o Glory Opera. Ao invés da vocalista manter uma postura profissional, ela preferiu ficar totalmente emburrada no canto do palco, com cara de poucos amigos enquanto Felipe falava. Mas era uma cara assustadora mesmo, eu cheguei a pensar que, a qualquer momento, ela pularia no pescoço do baixista do Angra. Totalmente ovacionado, Felipe voltou para devolver o microfone a Larissa e ir embora, e qual não foi a nossa surpresa quando Larissa quase arrancou a mão de Felipe junto com o microfone em uma atitude totalmente patética com um convidado que estava fazendo uma participação especial.

O maior destaque vai para o baixista Bruno Coelho, que toca muito bem e tentou agitar e fazer o possível para que o show fosse mais animado, mas não deu, o som da banda merece uma nota mais alta, mas como eu estava vendo um show e não ouvindo o CD do Venin Noir, não posso dar nada acima de uma Nota 4

Holy Sagga: Os paulistanos do Power Metal fizeram o segundo melhor show da noite, absolutamente matador. Souberam aproveitar bem o tempo e tocaram várias músicas do bom Planetude, algumas músicas novas (também bem legais) que estarão em seu próximo trabalho, o cover de Hail and Kill do Manowar com o vocalista Maurício Queiroz dando um show de técnica, e ainda chamaram Pit Passarell, baixista do Viper, para tocar Living For The Night em uma versão mais pesada que a original, mas extremamente competente e cantada por todos. Como resultado tivemos um dos momentos mais emocionantes do BMU. Todos têm uma ótima presença de palco, tocam muito bem, agitaram bastante e foram muito aplaudidos. Nota 9

Dark Avenger: Os brasilienses tocam um Heavy Metal tradicional com alguns toques de melódico. Bom instrumental e boa técnica de todos os músicos mas o destaque vai para o vocalista Mario Linhares. O cara canta muito, eu arrisco dizer que é um dos melhores vocalistas brasileiros da atualidade, tanto em técnica quando em “punch”, mas se por um lado isso é uma grande virtude, por outro Mario usa toda sua técnica para extrapolar um pouco e exagerar em alguns gritos que não eram necessários. O show empolgou com as músicas dos CDs Tales of Avalon e Dark Avenger, mas a banda escolheu algumas músicas muito longas para um set de 50 minutos e, infelizmente, tiveram de limar alguns números do repertório. O mais legal é perceber que o Dark Avenger já tem sua legião de fãs fiéis que sabem todas as músicas de cabeça e deram um show cantando juntos o “clássicos” como Morgana. Um bom show. Nota 8

Massacration: Esse causou polêmica e dividiu opiniões antes, durante e depois dos shows. Se, por um lado, os caras realmente são muito engraçados e geraram boas risadas, por outro, a apresentação do Massacration acabou atraindo um público, digamos, estranho à um festival de Heavy Metal, e que tiveram o mesmo comportamento dos fãs de Charlie Brown Jr e Cia em apresentações de Pop Rock. Não eram raras as vezes em que esse pessoal abria rodinhas de porrada (coisa que eu sempre abominei em shows de Metal, afinal eu estou lá para curtir a música e não participar de um Vale-Tudo), criavam brigas, passavam mal por ter bebido demais (o que tinha de moleque de 15 anos chamando o Hugo…). Mas tudo depende de como você encara esse tipo de apresentação. Eu concordo quando dizem que colocar os caras para quase fechar um festival deste porte é uma falta de respeito com as outras bandas “profissionais” do evento e o certo seria o Massacration ter realizado a abertura do BMU. Mas, enfim, como todos imaginam, eles divertiram a platéia com uma performance totalmente descontraída.

O começo da apresentação foi apoteótico: as cortinas se abriram, muita fumaça cobria o palco e os membros da banda foram entrando aos poucos sob uma chuva de aplausos e gritos que não foram vistos em nenhuma apresentação anterior; Detonator (vocalista) chegou ao microfone, fez o famoso sinal clássico do Heavy Metal – m/ – e quando todos esperavam por um daqueles discursos pró-Metal e “death to false Metal”, o vocalista limitou-se a dizer um “oi” com sua voz aguda. É difícil descrever o sentimento de ver ao vivo uma cena tão inusitada, mas confesso que ri bastante nesse momento. A banda começou a tocar uma música genérica de Metal, mas teve que parar quando um “oficial” de justiça entrou alegando que o show não poderia continuar e que a apresentação do Massacration estava cancelada. Mas nosso querido Joselito meteu um pedaço de pau na cabeça do oficial e tudo voltou ao “normal”.

Obviamente que todos estavam fingindo tocar seus instrumentos menos o baterista (que realmente toca, mas era contratado, não era o Jimmy Hammerhead) e o vocalista Detonator, que canta bem mesmo. Aliás, o Detonator (que na vida real se chama Bruno) é mesmo vocalista de uma banda de Metal. O repertório incluiu Metal Milkshake, Metal Bucetation, Metal Massacre Attack e o cover de Manowar, Kill with Power. Sem nota por não serem uma banda de verdade.

Tuatha de Danann – Fantástica a apresentação dos mineiros que tocam um “Folk Metal” com elementos da música celta e da mitologia nórdica. Na minha opinião e de muitos dos presentes, foi o melhor show da noite! Muito aplaudidos, divertiram a platéia com músicas engraçadas, mas sempre muito competentes e técnicas. O Tuatha conseguiu o milagre de acordar e empolgar uma galera que já estava morta após 7 horas de Metal, inclusive os que estavam realmente dormindo. Tocaram músicas de todos os CDs, a música Last Words da “Ópera Metal” Hamlet, e apresentaram um novo mascote no lugar do anão Finganfor (que segundo o vocalista Bruno Maia, desertou, mas eles tocaram a música em sua homenagem), um gigante bêbado que fica distribuindo pinga para o público e deu muito trabalho aos seguranças da casa.

É muito difícil achar o destaque em um show tecnicamente perfeito, mas eu considero as músicas Us, Finganfor e The Last Words os pontos altos. Nota 10 para o profissionalismo, criatividade e competência deste nome que merece ser conhecido por todos, amantes do Metal ou não.

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