Como um dinossauro da época do Sega CD, eu ainda vejo jogos em live-action como o ápice da tecnologia. E digo isso mesmo sabendo que esses jogos hoje em dia rodam em qualquer notebook do Fofão. The Infectious Madness of Doctor Dekker é em FMV, mas é bastante único. Na verdade, ele é muito mais um filme do que um jogo.

ASSASSINADO POR CTHULHU

Aqui você assume o papel de um psiquiatra que substitui o Doutor Dekker, que acaba de ser assassinado. Todos os pacientes dele agora são seus, mas mais importante é o fato de que a polícia confia em você para encontrar o assassino.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
Danou-se.

Basicamente, você vai passar o jogo todo fazendo perguntas para um grupo de pacientes e para sua assistente, tentando resolver o mistério. A investigação rola ao longo de vários dias, e você pode avançar a história após adquirir uma quantidade pré-determinada de informações usando perguntas sugeridas pelo jogo. Claro, você pode optar por investigar mais. Mas para isso será necessário digitar.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
Literalmente digitar. É praticamente um text adventure.

Essas perguntas podem ser feitas em frases perfeitamente elaboradas ou apenas usando palavras-chave. No entanto, é comum o jogo não entender o que você quer dizer. Na minha investigação, fiquei sabendo que um personagem ligou para outro, e um dos meus objetivos era “pergunte sobre a ligação”. Eu escrevi essa pergunta de todas as formas possíveis, mas acabei me vendo obrigado a avançar sem ter conseguido a resposta. Para quem não fala inglês, este é mais um impeditivo, uma vez que não há legendas em português.

Este é o tipo de mecânica que deve funcionar bem para quem jogar no computador. Afinal, tem um teclado lá. Mas digitar no PS4, com o gamepad, é um suplício. A boa notícia é que os desenvolvedores fizeram o possível para minimizar o problema. Cada versão de console tem uma forma alternativa de digitar. No PS4 é via second screen, no Xbox via app, e no Switch, claro, via touch screen.

SELECIONANDO OS CAPÍTULOS DE UM DVD

Basicamente, a maior parte do jogo você passa escolhendo a próxima pergunta no menu e assistindo a um vídeo da resposta. Se esta descrição parece tão divertida quanto escolher as cenas de um DVD… bem, é porque é isso mesmo.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
Só que com efeitos especiais incríveis.

É inegável, mecanicamente, The Infectious Madness of Doctor Dekker é um jogo bem fraco. Felizmente, ele é recheado de personagens tridimensionais e interessantes. Sabe aquela série In Treatment, que até ganhou uma versão nacional? A narrativa é bem parecida, mas aqui não demora para os pacientes alegarem que têm poderes como teleporte ou viagem no tempo.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
Não faça essa cara, até que funciona bem.

Na verdade, durante as seis horas que eu passei jogando/assistindo, eu estava bem mais interessado em cada um dos personagens do que em quem de fato matou o doutor que batiza o jogo. Nenhum deles é exatamente flor que se cheire, mas são desenvolvidos de forma bastante intrigante.

Obviamente, isso não seria possível sem as excelentes atuações, especialmente porque você está basicamente assistindo pessoas falando com a câmera. A estética, por outro lado, é bem feinha, com uma fotografia escura e uma qualidade de imagem que não é compatível com a era da alta definição.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
O que é isso que apareceu lá em cima?

THE INFECTIOUS MADNESS OF DOCTOR DEKKER

Caso você esteja mais interessado no assassinato em si, uma coisa bacana é que o assassino é determinado aleatoriamente no começo do seu jogo. Assim, se você jogar duas ou mais vezes, o desfecho será diferente. Mas verdade seja dita, a maioria das pessoas não vai jogar Doctor Dekker mais de uma vez. Especialmente porque a conclusão da história é bem brochante, sem colher boa parte das misteriosas sementes que foram plantadas ao longo da sua história.

The Infectious Madness of Doctor Dekker, Delfos
Eu também reagi ao final olhando meus pés.

Porém, devo dizer que, embora eu não tenha intenção de jogá-lo novamente, ele me manteve suficientemente intrigado enquanto o fazia pela primeira vez. De fato, ele está mais próximo de um episódio de In Treatment com inspirações Lovecraftianas do que de uma história interativa propriamente dita, mas isso não significa que não funcione. Pelo contrário.