O governo de Joseph Stalin foi um dos mais autoritários, repressivos e violentos de todos. Dissidentes eram mortos, presos ou desapareciam, não necessariamente nessa mesma ordem. Em suma, à primeira vista não é um tema que grite “comédia” num primeiro momento.

Mas este é o desafio do humor, fazer rir com qualquer assunto. E se ainda conseguir jogar no meio críticas ao mesmo, mostrando toda sua faceta absurda e sem sentido, melhor ainda.

A Morte de Stalin consegue o feito, centrando-se nos últimos dias de vida do ditador soviético e também no período imediatamente após sua morte, ao deixar um vácuo de poder, gerando uma corrida para ser preenchida pelas figuras mais próximas a ele no governo.

Ele consegue fazer graça com um estilo de humor bem britânico, calcado quase puramente nos diálogos, que exploram sempre uma lógica meio absurda da situação que está tratando, com os personagens sempre ressaltando cada minúcia dela ou tentando refutá-la com argumentos que beiram o nonsense.

Delfos, A Morte de Stalin, Cartaz

Nesse sentido, o filme lembra em vários momentos aquele tipo de humor mais intelectual do Monty Python. E o fato de que o longa conta com um dos integrantes da trupe no elenco, Michael Palin, só reforça ainda mais essa sensação.

Também não se furta a usar de humor negro, especialmente ao tratar da violência do regime. Não é o tipo de filme que arranca gargalhadas, e sim sorrisos, mas isso não é algo ruim.

Contudo, acho que ele vai esfriando progressivamente. Ele começa muito bem, praticamente como uma esquete envolvendo o diretor da rádio e a orquestra. Mas depois, conforme a história começa de fato e vai avançado, ele vai caindo aos poucos. Talvez seja pelo fato de ser sempre o mesmo tipo de piada. Talvez porque o tema em si seja algo que não me interessa muito.

Seja como for, quando o longa começou eu estava bastante entretido, e quando terminou já não estava com a mesma sensação. Ainda assim, A Morte de Stalin tem qualidades suficientes para quem gosta do tipo do humor britânico com aquela verve mais sardônica, e também com toques de humor mais negro. Se você gosta desses elementos, vale dar uma chance.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
morte-de-stalinTítulo original: The Death of Stalin<br> País: França/Reino Unido/Bélgica/Canadá<br> Ano: 2017<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 107 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Direção: Armando Iannucci<br> Roteiro: Armando Iannucci, David Schneider e Ian Martin<br> Elenco: Steve Buscemi, Simon Russell Beale, Paddy Considine, Rupert Friend, Jason Isaacs, Olga Kurylenko, Michael Palin, Andrea Riseborough e Jeffrey Tambor.